quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

DESCONSTRUINDO A HISTÓRIA DE UM BAIRRO

Ellza Souza (*)

Agora só vou ao bairro onde nasci, de visita. Hoje fui com um jornalista para uma conversa sobre o cine Ideal que ficava ao lado da minha casa na rua Boa Vista em São Raimundo. Entramos no prédio totalmente descaracterizado onde restou apenas as boas lembranças de quem freqüentou aquele cinema inaugurado em 1941 e que pertenceu a empresa A. Bernardino e Cia.

Há vinte anos funciona no local uma academia de ginástica. Antes havia sido uma fábrica de milhitos que encerrou as atividades por motivo de um pequeno incêndio. Durante a conversa fui recordando fatos, pessoas, filmes. A cabeça da gente funciona como um arquivo e dos modernos que ao apertar um botão, voltamos no tempo. Bons tempos, diga-se de passagem.

Durante a visita ao bairro entrei na casa da minha companheira de brincadeiras na infância, a Maria do Carmo. Na mesma casa estavam outras pessoas como a Mariazinha, professora e sua filha Ana Lúcia, todas com mais de cinquentinha. Revi a casa construída por meu pai onde morei até os 16 anos mais ou menos. As três casinhas que compunham o lado da rua atrás do Ideal agora são três casarões e não ficou nem um pedacinho de terra para plantar um pé de arruda que antes servia para espantar mal olhado e doenças de crianças.

A casa do seu Anoar, o comissário que não dava refresco aos menores no cinema mudou completamente. Agora é uma construção grande e feia que tomou conta do quintal inteirinho. O “pau das andorinhas”, o baixo muro ao lado do cinema onde a juventude namorava ou apenas conversava, não existe mais. O muro é alto e enfeia o ambiente. A casa do seu Guimarães, de 1913, ao lado do cinema, está em decomposição. Nada no prédio lembra o apogeu da juventude do bairro quando o Ideal efervescia por ali e fazia uma dobradinha com o bar do português com seus picolés, sorvetes e refrescos. É, bar no tempo do Ideal servia picolé e no máximo uns goles de pinga para os adultos.

Andei pela Rua da Sede. Observei o Tufão, o clube onde debutei esbanjando felicidade ao lado do meu pai e que se encontra espremido, abandonado e escondido pela ponte Fábio Lucena. A pracinha do Sulão ainda com duas frondosas árvores mas com bancos depredados, lixo e total falta de cuidado. Estendi meu olhar para o rio, para as casinhas da vila dos Miranda Corrêa, do castelinho de 1910 que foi a cervejaria dessa família, em Aparecida dos Tocos.

Infelizmente a minha colina está marcada para receber o prosamim. Isso para mim representa a morte da história do bairro. Pelo que sei com a ponte que atravessa o rio Negro, a especulação vai tomar conta daquela área. E como sempre fazem projetos e construções em prol dos grandes empreendedores e não pensam nos moradores, na história, na preservação da cultura e da vida no local. Podia ser diferente se a vontade política combinasse com a vontade dos moradores do bairro. Jamais fazer uma transformação tal que mais tarde vai gerar arrependimento e a inexorável impossibilidade de recuperar as lembranças. Sem histórias para contar é muito difícil construir um futuro alvissareiro.

Além do cine Ideal, no bairro de São Raimundo fechou o correio, a delegacia, o clube, a feira, a loteria, a casa das freiras. Só falta fechar a igreja que fica no alto da colina. Que o padroeiro São Raimundo Nonato interceda por esta boa causa.

(*) Jornalista, escritora e colaboradora do NCPAM/UFAM.

4 comentários:

Carlos carvalho disse...

Boa tarde aos colegas do ncapam, bem fiquei um pouco decpecionaod com o blog, porque não vi uma matéria sobre o edutal rídiculo da SEDUC com relação as vagas de sociologia e muito menos uma apoio ao Sindicato dos Sociologos, epnso que os colegas do NCPAM são das ciencias socias, ACHO JUSTO LUTAR por outros movimentos sociais, mas gente não podemos esquecer de onde nos fomos formados!!! vamos apoiar o sindicato...fica o recado..obrigado!!! Resolver o problema do mundo .....e os nossos???

Anônimo disse...

NAo seja injusto. Além do manifesto do Sindicado publicamos um denso artigo do Cientista Político Breno Rodrigues e ademias estamos convidando a direção do sindicato e reparesentação da filosofia para fazer um progama na TVUFAM. Como diria Drumond busca nas palavras as chaves que libertam e não as cadeias dos seus próprios fantasmas.

Da Redação

Anônimo disse...

Errata: cientista político Breno Rodrigo.

Anônimo disse...

Pois é, lamenta-se que o hospedeiro não morro com seu próprio veneno.