
O papo com DaMatta, coordenado pelo Tenório, rendeu mais de duas horas, quando o professor foi questionado sobre política internacional; política nacional; a questão da Lei da ficha limpa; a ética na política; poder das oligarquias e os partidos; a corrupção e o poder hierárquico republicana; a república e o ranço da oligarquia; a questão ambiental e a nova ordem econômica mundial; a democracia, estado e sociedade; o jeito de ser brasileiro; a questão amazônica; a classe média, as elites e a relação com o Estado seguida do parentesco e a cumplicidade.
Assim as idéias fluíam com velocidade chamando os participantes a se posicionarem sobre determinados temas ou questionando DaMatta sobre algumas afirmativas que demandavam análise mais densa.
“A elite é um grande clube no Brasil”, afirma DaMatta, mostrando o quanto de cumplicidade há entre política e mercado, entre a casa e a rua, o cenário é o mesmo, violando os limites do Estado em favor de amigos, parentes, mulheres e alcova. Eis o corporativismo, o compadrio, os amigos circulantes nesta relação que pretende ser republicana enquanto o povo é uma família extensiva com comportamento aristocrático.
Na extensa obra de Roberto DaMatta, tanto aqui como no exterior, destaca-se o seu último livro, assim titulado: FÉ EM DEUS E PÉ NA TÁBUA: Ou como e por que o trânsito enlouquece no Brasil, da editora Rocco.
“Na expressão Fé em Deus e pé na tábua estabelecemos um elo entre a tradicional fé em Deus, esse deus que é invocado a todo o momento, fazendo parte de nossa vida diária como protetor, e a metáfora da ligeireza do movimento e da precipitação do pé na tabua, que nos conduz ao veículo motorizado e ao ambiente igualitário que molda e serve de cenário. Supomos que a pressa e a velocidade legitimam o risco e são partes integrais da lógica e da estrutura deste ambiente, o que naturalmente o inclina a infortúnios e acidentes. Essa expressão é um axioma e uma garantia. Ela diz que podemos enfiar o pé porque nossa fé em Deus nos protege do perigo. A nossa fé em Deus justifica os riscos de se dirigir com o pé na tábua. É justamente este disparate (confiança num deus que nos protege e nas vidas que podemos viver e a propensão ao risco, à intolerância e a impaciência que objetivamos compreender” , define DaMatta.
O autor de Carnavais, Malandros e Heróis (1979), um dos clássicos da Antropologia Brasileira, tem familiares em Manaus por isso tem estreita relação com esse território, permitindo com que se questionasse a temática “Amazônia e a Nova Ordem Mundial” pautando como exemplo a pretensão da Log-In Logística Intermodal coligada da Vale em construir um Porto no Encontro das Águas dos Rio Negro com Solimões, onde começa o Amazonas em terra brasileira.
DaMatta afirma que “o Encontro das Águas é o que tem de original e único no Amazonas, devendo ser preservado da sanha dos predadores. Eu estive lá e ninguém me falou nada”. É por isso que o Movimento S.O.S. Encontro das Águas tem mobilizado força nacional e internacional para garantir a homologação desse patrimônio.
Com a mesma determinação, o deputado federal Francisco Praciano, do PT do Amazonas, agendou audiência com a Ministra da Cultura Ana de Hollanda, para o dia 22 próximo, às 10h, em Brasília, quando deve-se conferir a homologação do tombamento desse bem que muito significa para o povo do Amazonas e para o planeta.
A agenda do Professor Roberto DaMatta contempla ainda, no dia 19 (segunda-feira) as 15h entrevista na TVUFAM para o Programa Na Terra de Ajuricaba e a noite às 19h a grande conferência sobre a “Década Mundial de ações para a segurança do trânsito - 2011/2012: Juntos podemos salvar milhões de vida”, no auditório da Prefeitura de Manaus, localizada na Avenida Brasil, bairro da Compensa, na capital do Estado do Amazonas.
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