domingo, 4 de setembro de 2011

O GRITO DOS EXCLUÍDOS NA SEMANA DA PÁTRIA

Ademir Ramos (*)

O movimento social no Brasil recorre à narrativa episódica da história para mobilizar as lideranças sociais a participarem do grito dos excluídos protestando contra a corrupção, que é uma das pestes a contaminar a nação, fragilizando as instituições democráticas e reduzindo a política em instrumento de negociata, surrupiando o erário público em favor de grupos, famílias e quadrilhas palacianas.

A praga que assola o país resulta em graves perdas para o povo brasileiro, empobrecendo a nação e gerando perversa desigualdade social a se manifestar nas cidades e nos campos.

Pelas condições impostas a esse povo excluído, que se tornou refém das necessidades e vive de forma animal buscando mais o pão do que a liberdade, o grito dos excluídos celebrado nas ruas do Brasil no dia 7 de setembro, na semana da pátria, é afirmação da soberania nacional que se manifesta contra o saque, a expropriação e toda forma de institucionalização da miséria tão em voga pelas políticas compensatórias ou mitigadoras.

Estas políticas originam-se das agências financiadoras internacionais, em particular do Banco Mundial e outros agenciadores que prestam consultorias aos banqueiros e aos governos aliados as forças do capital internacional.

Para isso, seus formuladores concebem estratégias mirabolantes contando com o apoio dos meios de comunicação, que massificam mensagens fazendo crer que o pensamento dominante além de eficiente é viável possibilitando a sustentabilidade das pessoas em seu contexto ambiental e socialmente justo.

O grito dos excluídos prova exatamente ao contrário, é a indignação posta nas ruas e praças contra o descaso e a irresponsabilidade dos governantes e dos políticos oportunistas que em vez de promover a distribuição trabalham cada vez mais pela acumulação da riqueza em suas mãos.

O modus operandi desses saqueadores da riqueza popular começa pelo absoluto controle do Estado, instrumentalizando seus meios para satisfazer a volúpia voraz de sua classe cleptomaníaca, impulsionada pelo “rouba mais faz”, como bem define o intelectual amazonense Márcio Souza.

Esses atores, de paletó e gravata, com o cinismo e habilidade gatuna tudo fazem para satisfazer seus comparsas drenando para os grupos privados o que deveria ser investido em favor do povo por meio de políticas públicas de qualidade que atendessem as demandas populares.

Paralelo as marchas militares e o desfile da capacidade bélica do Estado, a sociedade civil brasileira através dos movimentos sociais vão às ruas e praças nesta quarta-feira, 7 de setembro, para manifestar sua soberania, protestando contra a corrupção, os danos ambientais, péssima qualidade das políticas públicas, a falta de empregabilidade, a falta de reforma e política urbana e agrária e, sobretudo, o descaso dos governantes e seus aliados pelo zelo da coisa pública.

No Amazonas, a semana da pátria ganha mais musculatura porque aqui se celebra o 05 de setembro como data cívica por duas vezes. Primeiro porque em 1850, nesta data, o Amazonas foi elevado a Categoria de Província, ganhando status de território independente em ralação ao Grão-Pará, significando que a partir desta data as lideranças locais deveriam se estruturar e organizar políticamente para fazer valer a vontade do povo desta terra. No entanto, desde lá, os mandantes políticos começaram a instituir o torniquete como instrumento de sacrificar o povo dessa paragem, a começar pela exploração da mão-de-obra indígena, assim como a usurpação dos seus territórios milenarmente ocupados.

Segundo porque esta data está consignada nos anais do Congresso Nacional como Dia da Amazônia. O que nos faz pensar sobre as estratégias instituídas de exploração desse patrimônio que muito representa para a economia nacional e para economia do planeta quanto à racionalidade climática.

Contudo, parece que por aqui, o que vale mesmo é o presente imediato, visando unicamente à acumulação perversa do capital, sacrificando, florestas, rios e homens em nome da racionalidade tacanha do ganha fácil sob a chancela do Estado.

É o caso da pretensa construção de um porto privado na microrregião do nosso Encontro das Águas favorecido pelo poder público que deveria ser o primeiro a defender os recursos ambientais como poupança popular, ao contrário, abre as pernas para os oportunistas em nome do progresso messiânico a render vultoso ganho na sua contabilidade política como milagre bancário, restando ao povo o resto do banquete desse conluio lesa-pátria.

Em Manaus, a mobilização do Grito dos Excluídos inicia-se nas imediações do Parque dos Bilhares, pela Rua Constantino Nery, a partir das 14h30, prometendo marchar pela cidade contra a construção do Porto das Lajes, Belo Monte e outros atentados perpetrados contra a nossa Amazônia.

(*) É professor e coordenador do NCPAM/UFAM.

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