sábado, 24 de setembro de 2011

A SECA DO RIO ENCHE DE VERGONHA OS MANAUARAS

Ellza Souza (*)

Um turista fotografava a beira do rio Negro e constatou o óbvio: “Todo esse lixo vai para o grande rio e é misturado ou engolido pelos peixes que são o principal alimento da população da cidade”. São embalagens plásticas de todo tipo, animais mortos, móveis velhos, restos de comida, que se amontoam por qualquer beirada que tenha um aglomerado de pessoas ditas “civilizadas”. Às margens do nosso belo rio Negro, a vazante demonstra o descaso com que boa parte da população trata a própria água que bebe com toneladas de lixo espalhado em toda a orla.

Do alto de uma escada na colina onde nasci, vislumbrei um pedacinho de praia com aquela aguinha da cor do guaraná da minha infância. De longe. Alguém logo me desencantou: “Todo dia é retirado montanhas de detritos daí”. Mas que população é essa que joga lixo no rio, no seu próprio rio, no rio que lhe oferece beleza, encantamento, água para beber, cozinhar e tomar banho. E isso não é de hoje. Desde que a cidade tomou os primeiros ares de riqueza e progresso já pegou esse mau costume de jogar lixo no rio e parece que nunca receberam uma educação de qualidade que os fizesse perceber o mal que fazem a si próprios ao poluir tão doces águas.

Jogam de casa mesmo, jogam do barco, jogam das feiras. Não têm a menor noção do tempo que leva para uma embalagem plástica decompor no meio ambiente se é que decompõe.

Talvez essas pessoas mal educadas, que moram aqui mas podem ser de qualquer lugar do Brasil pois o brasileiro, apesar da auto propaganda, tem ainda o péssimo hábito de tudo jogar ao léu, podem ser as mesmas que não tem noção do que seja construir um porto no Encontro das Águas. Nesse caso fracos argumentos como: “Vai trazer desenvolvimento”, “vai gerar empregos” afogam qualquer dignidade que ainda resta ao morador dessa cidade tendo em vista que as toneladas de lixo hoje jogadas nas margens dos rios serão apenas lixinho de pia com o caos e a poluição que a movimentação de um grande porto no local pode trazer a humanidade. Aos detritos que conhecemos se juntaria ainda derrame de óleo altamente nocivo à vida dos peixes, da população, da história e acabaríamos de vez com qualquer resquício de beleza e magia que são características do nosso abençoado cartão postal. Já pensou em nome do progresso detonar o Cristo Redentor para aproveitamento das pedras na construção civil? E derrubar o Pão de Açúcar para construir no lugar um, digamos, estádio, em nome do atrativo econômico chamado Copa do Mundo? É o que poderia também acontecer com o pedral (ou lajes) pré histórico existente no abraço dos rios Negro e Solimões, cujas marcas ou desenhos são registros de civilizações antigas e que precisam ser exaustivamente estudadas e conhecidas. A Amazônia está sendo depredada em nome de um desenvolvimento desigual e insustentável por falta de conhecimento e competência para os bons projetos. Gente que só pensa no lucro não sabe o que significa dignidade.

JOGAR LIXO NO RIO É BURRICE.
CONSTRUIR PORTO NO ENCONTRO DAS ÁGUAS É GANÂNCIA.
CUIDAR DO MEIO AMBIENTE É SABEDORIA.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM

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