sábado, 10 de setembro de 2011

MANAUS PRIVATIZADA

Ellza Souza (*)

A moda agora é privatizar tudo. Em Manaus o último grito da moda nessa área é privatizar feiras e mercados. Para tratar disso o Programa Na Terra de Ajuricaba da TV Ufam recebeu os responsáveis pelas feiras da cidade que na busca organizada de seus direitos de feirantes, estiveram na televisão para explicar à sociedade as suas propostas.

O tema é polêmico apenas porque o assunto é tratado com pouco caso pelas autoridades locais. Na verdade é um assunto de primeira linha, tanto histórico quanto primário, tendo em vista que Manaus sempre teve feiras populares e a primeira que se conhece foi exatamente na praia em frente da Matriz. Os bairros sempre contaram com suas feirinhas, fixas ou temporárias, mas que resolviam satisfatoriamente as necessidades básicas quanto a alimentação do povo. Junto ao Mercadão, fechado há cinco anos para reforma, formavam no centro histórico o que tinha de melhor para a compra dos produtos regionais, passeios das famílias, dos boêmios e dos turistas. Em todo lugar do mundo o mercado é o centro de interesse de visitantes e moradores locais.

Porque, começo assim esse parágrafo, porque só aqui em Manaus, existe tal polêmica irreconciliável como se negócios escusos estivessem sendo costurados nos bastidores. Porque sempre tem que ser assim em nossa cidade? Nunca existe um plano às claras que inclua o desenvolvimento social dos trabalhadores locais. Sobre isso o Ednaldo Feitosa do Sindicato das Feiras foi claro: São “cartas marcadas do prefeito”. Concordo que os “filés” como a Feira Moderna, a feira da Compensa, Feira do Produtor e outras são provavelmente destinadas ao clube de compadres e já sabemos como termina isso, quando não tem o envolvimento necessário para a função. Fica do jeitinho que está o glorioso Porto de Manaus que já foi o Rodway e hoje sabe-se lá o que é.

Feitosa acha que precisa “moralizar a Secretaria de Feiras e Mercados para que deixe de ser cabide de empregos”. David Lima, o presidente do Sindicato das Feiras afirmou no programa que existem ”empresários com 40 bancas”, o que já é um grande absurdo e se chegou a esse termo foi graças a uma administração permissiva demais que deixou os “permissionários” de fato a ver os barquinhos passando ao largo do rio Negro.

O apresentador Ademir Ramos insistiu quanto a limpeza nas feiras que “representam qualidade de vida do povo”. Certa vez ouvi uma compradora se referir ao local como “podrão”, adivinhem por que. Nessa parte todos são culpados: feirantes, fregueses e poder público. A reclamação vem de todos os lados mas todos estão preocupados com os ganhos quando o ganho maior viria com a eficiência no negócio, atendimento bom e limpeza, o mínimo que fosse. As feiras são sujas, fedorentas, o desperdício é grande. Faz gosto entrar no mercado de Belo Horizonte pela higiene do local, pela variedade de produtos e no dia que o visitei tinha até boa música na entrada. Valciclei Barroso, da Comissão Gestora da Manaus Moderna, diz que a culpa é do poder público que há muito tempo abandonou o segmento e “não leva em consideração que ali está a identidade da população”.

Mais um grito se junta aos excluídos da cidade de Manaus: DIGA NÃO À PRIVATIZAÇÃO. Parece que estão marcados para isso o Mercado Adolpho Lisboa, a Feira Moderna, a praia da Ponta Negra, entre outros. É difícil conversar quando os interesses que estão em jogo estão muito abaixo da dignidade do ser humano, do aperfeiçoamento da sociedade, do desenvolvimento sustentável, do bom senso.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.

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