segunda-feira, 5 de setembro de 2011

"O MUNDO ESTÁ DOENTE"

Ademir Ramos (*)

Para Davi Yanomami o mundo esta doente porque o branco esta cego e surdo pensando que é Deus.

No sábado (27), pela parte da tarde, fui convidado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Regional Norte I - Amazonas e Roraima – para participar do Seminário sobre a Questão Climática, falando da experiência de luta a frente do Movimento S.O.S. Encontro das Águas, que agora em setembro completa 03 anos de enfrentamento contra a construção de um Porto na microrregião do Encontro das Águas.

Na oportunidade tive alegria de encontrar meu amigo Davi Kopenawa, Xamã dos Yanomami do Tootobi, que fica na fronteira do Brasil com a Venezuela, no Estado de Roraima.

David Yanomami, Marcos Terena, Álvaro Tukano, todas estas lideranças indígenas passaram por Manaus no mês de agosto, manifestando apoio pela homologação do Tombamento de nosso Encontro das Águas, fenômeno ambiental que agrega valor cultural de grande importância para o povo do Amazonas e para o mundo.

Mas, me reporto neste momento à fala de Davi Yanomami no encontro com os bispos, religiosos, religiosas e agentes pastorais, que ocorreu em Manaus, no santuário de Aparecida. Foram 30 minutos de profunda leitura mítica centrada na criação em respeito à qualidade de vida do nosso planeta.

Davi se definiu como cientista, um Xabur’i – o espírito da floresta – a serviço de Omã, que é o criador do mundo, a cuidar da alma da floresta e de toda a vida. Para ele o mundo está doente porque o branco está cego e surdo, pensando que é dono de tudo e que pode tudo. Se ele esta doente o seu Deus também vai adoecer.

Para nós Yanomami, o trabalho é para viver e não só para ganhar dinheiro, explica o Xamã. Eles, os brancos também criam bicho assim como o trator, que é para tragar a terra, derrubando tudo e acabando com a vida, o que causa doença e morte.

Em Yanomami, xauara quer dizer doença, categoria muito presente no pensamento de Davi Kopenawa. Para ele “se não reclamamos eles acabam com toda a nossa floresta, virando o Brasil num campo de futebol”.

O Davi explica que aprendeu apanhando de político inimigo dos índios. Aprendeu também que o branco “fala, fala e não sai resultado”. Por isso, é preciso trabalhar assim como os Pajés para curar a terra, o planeta e salvar a floresta, as águas e o próprio branco porque ele esta “cego e surdo” pensando que é Deus.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.

Um comentário:

Leti Abreu e Mimoso disse...

Para nós Yanomami, o trabalho é para viver e não só para ganhar dinheiro, explica o Xamã. Eles, os brancos também criam bicho assim como o trator, que é para tragar a terra, derrubando tudo e acabando com a vida, o que causa doença e morte.

Em Yanomami, xauara quer dizer doença, categoria muito presente no pensamento de Davi Kopenawa. Para ele “se não reclamamos eles acabam com toda a nossa floresta, virando o Brasil num campo de futebol”.

É fácil de ver, tá dito, tá claro... não consigo entender tanta cegueira.. o brilho do "ouro" cega.