terça-feira, 15 de novembro de 2011

ATRAVESSANDO A PONTE

Ellza Souza (*)

Como passou o 11.11.11 e tudo continua como dantes por aqui, voltemos à realidade para falar do assunto do momento: a ponte e o outro lado do rio Negro. A confusão já começou com os donos das voadeiras inconformados pela perda de clientes. Mas o que está me incomodando é os “sem carro” que estão atravessando a pé (antes atravessavam de graça na balsa) e ficam sem rumo do outro lado conforme vi em uma reportagem na televisão por não ter uma continuidade no transporte até os municípios. Que tal fazer uma linha municipal de integração até as comunidades principais. O que ouvi das autoridades foi a preocupação com o avanço do distrito industrial e das construtoras para aquelas bandas. Serão conjuntos habitacionais (na certa de alto nível), portos e fábricas que se instalam livremente sem observar o impacto que podem causar ao meio ambiente.

Seria a maravilha dos mundos esse desenvolvimento que muitos ansiam se não fosse a incompetência do ser humano para resolver algumas dificuldades da população. O que vemos é a criação de projetos que resolvem as dificuldades dos mais favorecidos e a população menos favorecida fica aí sem saber o que fazer. Se a natureza colocou terras tão ricas e tão belas cercadas de largos rios não foi à toa. Mas era pra dificultar principalmente para a especulação do suor alheio. Nesse meio tempo as autoridades sérias iam criando bons projetos para o desenvolvimento de acordo com as peculiaridades da região. Por exemplo: os mais de cem sítios arqueológicos espalhados em toda a área de Manacapuru e adjacências. Não escutei nenhuma preocupação quanto a esses locais tão importantes para a ciência, para o estudo de nossos ancestrais. Será que estudar nossas origens não interessa? Será que somos tão “modernos” que não importa saber a nossa história pré ponte?

Os sítios são para ser pesquisados junto com as terras férteis conhecidas como terras pretas de índio (TPI). Numa visita em agosto de 2011 ao sítio do Caldeirão UEA/Embrapa, no município de Iranduba, logo aí do outro lado (12 km do Cacau Pirêra), pude observar a importância e o afinco de pesquisadores e alunos de Manaus e de outros lugares que numa integração efetiva estavam determinados a descobrir a história nos vestígios deixados pelos povos que ali viveram. Entendi que não existe interesse por parte dos administradores públicos em fazer um centro de pesquisas que concentre esforços nesses estudos arqueológicos e agronômicos.

As terras de lá são ricas naturalmente e só precisa da logística e do apoio técnico de governos sérios a quem queira realmente crescer e trabalhar por um futuro melhor. Os moradores das comunidades acostumados com a exuberância da terra, não sabem como fazer disso uma atividade rentável que possa lhe beneficiar e beneficiar a população de Manaus. A especulação imobiliária sem controle naquele lugar será um erro incalculável. Muito pode se perder em todos os sentidos. Vestígios da nossa história podem ser enterrados para sempre sob o cimento e a ignorância dos gananciosos.

Talvez nesse texto não tenha me expressado de forma tão veemente quanto gostaria. A minha preocupação é intrínseca e me uno ao apresentador Ademir Ramos em sua declaração no programa Na Terra de Ajuricaba “nós gostamos de Manaus”. Eu repito isso professor e apesar das críticas que costumo fazer quero realmente o melhor para o povo. Não o melhor carro, o melhor tênis, o melhor celular mas uma educação melhor, atendimento médico igual ao dos políticos, moradias dignas a todos, funcionalismo público movido a meritocracia, cuidado com a natureza. Com isso nós teremos o melhor dos mundos e por isso reafirmo o meu amor por esta cidade, apesar de tudo.

(*) É escritora, jornalista e articuladora do NCPAM/UFAM.

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