domingo, 13 de novembro de 2011

A CONSCIÊNCIA CÓSMICA E O ENCONTRO DAS ÁGUAS

Ademir Ramos (*)

Viver na Amazônia é flutuar nas águas é participar da mística da criação dos fantasmas, que imprime nos homens e mulheres representações imaginário com formas diferenciadas de se relacionar com esse mundo das águas, da floresta e dos seres encantados que por aqui se escondem no faz de conta de um vivido simbólico cheio de espanto e admiração.

Amazônia é cercania das águas, aqui somos todos navegantes em direção ao encontro dos rios com formas e cores diferentes, muito bem representados no caudaloso Rio das Amazonas, que se move na perspectiva do mar. Nesse mundo corrente das águas, a presença humana ganha visibilidade tanto nas aldeias tribais como também no urbano das cidades, que povoam a floresta nutrida pelo veio das águas doces dos rios.

Os povos da Amazônia circulam entre terras firmes e várzeas, que são ecossistemas variados, gerando condições de vida adversa; quando esse fluxo é interrompido seja pela ganância dos homens ou por sua ignorância a natureza sofre, os homens empobrecem e a desigualdade se estampa mudando a paisagem e o significado das coisas em nome de um vago conceito traduzido unicamente pela acumulação e barbárie.

O Amazonas, simbolicamente, é encontro, enlace, abraço e articulação, propiciando aos seus navegantes descobertas inusitadas, conectadas num corpo comunicante capaz de traduzir valor em sua biodiversidade. Para isso, requer dos governantes e formuladores de políticas públicas novas tratativas com propósito de conhecer e quem sabe estabelecer novos nexos civilizatórios, assegurando a sustentabilidade de suas comunidades e o equilíbrio planetário.

Esta consciência cósmica pouco a pouco vai ganhando corpo por meio dos processos de ensino aprendizagem, das políticas públicas e da responsabilidade ambiental das empresas, tornando-se objeto de discussão e disputa no campo do Direito em favor tanto do presente como também do futuro das nações que almejam viver com dignidade numa cultura de paz.

Para os povos da Amazônia o catalisador desta pororoca de sentido é o Encontro das Águas, dos Rios Negro e Solimões. Nesse berçário está contida a vida, a cultura e a história dos amazônidas a confundir-se com sua própria representação tal como os gregos em relação ao Olimpo ou como queiram os japoneses em relação ao Monte Fuji.

Em suma, os povos não vivem sem suas representações culturais e simbólicas, destruí-las em nome do progresso ou de um perverso desenvolvimento é matar o presente e o futuro dos povos, provocando as trevas e o desencanto das nações em nome de uma racionalidade capital, que visa unicamente o lucro fácil em detrimento da vida no planeta.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.

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