
Ellza Souza (*)
Assim, na maior frieza e sem qualquer explicação, a motorista do 403, deu a ordem numa bela manhã de outubro, no Terminal da Cachoeirinha. Sem saber o que fazer as pessoas que iam para o centro, como eu, desceram mas a vontade era dar uns tapas na mulher, nem tanto pelo aviso inesperado mas pela maneira grosseira com que o fez. Jurei naquele momento que nunca mais iria para o centro nesse alternativo do 123 para os que moram na segunda etapa do conjunto Tocantins, que também é um horror no quesito TPM (tempo de demora na parada de ônibus em Manaus). E sem escolha ficarei na parada, a partir de agora, esperando pacientemente o único coletivo que pode me levar à beira do rio no centro. Ou então como um cidadão gritou no “acochado” ônibus, na volta para casa, ao tentar descer do dito cujo “pega um táxi”.
A verdade é que o manauara sofre com pressões do sistema de transportes coletivos para usufruir de serviços tão ruins. Ou pega o “executivo” intragável e sujo de quase seis reais (um jeitinho de onerar mais ainda a passagem) ou fica sofrendo nas paradas e nos ônibus lotados e inadequados em seus trajetos. Como as pessoas mal podem pagar essa tarifa absurda que ninguém consegue derrubar, os micro ônibus estão às moscas e aí vem a pressão com menos ônibus circulando na sua maioria verdadeiros cacarecos. Qual foi mesmo a desculpa para o aumento abusivo da tarifa?
Nesse mesmo dia estava ao anoitecer na parada do shopping na Darcy Vargas, uma rua com cerca metálica para os carros circularem sem ter que parar na faixa de pedestres e uma passarela nova e dispendiosa com quatro lances de subida e de descida fora a passagem propriamente dita. O que vi e ouvi é aterrador e dá vontade de ir morar no Iraque. Ia para o outro shopping na rua Recife e durante a longa espera pude observar a loucura desses ônibus, todos, mas principalmente os da zona leste vinham lotados e nem paravam para as pessoas que só faltavam se jogar na frente deles implorando que parasse. Os que paravam, uma multidão corria para a porta do veículo que tinha que sair com gente pendurada se arriscando a cair. Teve ônibus que saiu arrastando as pessoas que se viam obrigados a desistir e esperar outra condução que nunca vinha.
Eram trabalhadores, estudantes, idosos, gente que queria exercer o seu direito de ir e vir e mesmo pagando caro não conseguiam chegar a lugar nenhum. Estamos indo de mal a pior com políticos desqualificados que não sabem as suas obrigações como representantes do povo. Este pode não ser o maior culpado, pois é excluído de tudo que o levaria a uma condição melhor como cidadão digno mas podia pelo menos se organizar e cada um na sua comunidade exercer o direito de fiscalizar e reivindicar as suas necessidades. Por enquanto o povo serve apenas para eleger pessoas sem nenhuma competência para a função. Bons serviços vão pra eles. Para nós, a ralé, vem aí o “moderno” monotrilho, merenda escolar vencida, educação de quinta, violência nas ruas, atendimento hospitalar pelos corredores, traficantes se achando, professores, policiais e médicos mal pagos. Para onde caminha essa cidade?
(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.
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