sábado, 26 de novembro de 2011

NATAL: FESTA DAS QUINQUILHARIAS

Ellza Souza (*)

 Quando vai se aproximando o mês de dezembro parece que nasce dentro de cada ser humano uma estrepitante vontade de consumir. Tudo é motivo de desejo de possuir. Seja um carro, roupa nova, enfeites encardidos, presentinhos (ninguém se demora mais em escolher um presente para alguém primeiro que não existe na cidade lojas que se preocupem com esse agrado e a maioria nem embrulha, só ensaca), os melhores votos. Tenho a impressão que todo mundo deixa para fazer compras nos dias que antecedem o natal. Tanto os “com dinheiro” quanto os “sem dinheiro” ficam ansiosos para mostrar o jogo de luz (pirata talvez) mais brilhante e mais colorido. Os comerciantes e camelôs enlouquecem com a vontade de faturar tudo o que não conseguiram durante o ano todo. E “desovam” primeiro as tranqueiras encalhadas dos anos anteriores. As roupas e sapatos nas vitrines dá dó olhar. Com preços bem atualizados as vitrines são tomadas por modelos ultrapassados e quase sempre (no caso das roupas) números de manequins ou seja 36, 38 ou tamanho U (último lugar no mundo fashion).

Todo mundo quer roupa nova e inflamados pela propaganda muitas vezes enganosa o que importa é comprar e o número é o que menos importa. Para se chegar ao centro da cidade na época natalina só muita vontade de comprar. A pé, de ônibus ou de carro é quase impossível chegar ao centro da cidade. O pior é que todo mundo chega. Os daqui, os do interior, toda a periferia e visitantes da cidade se espremem naquelas estreitas e sofridas (pra não dizer sujas e mal cuidadas) ruas nesses glamourosos tempos de fartura e consumismo. O atendimento que já é precário normalmente fica insuportável com funcionários temporários mal remunerados e mal orientados para a difícil tarefa de vender em clima de tensão e quase de guerra.

Os camelôs dão cria nessa época e estão em cada pedacinho de calçada do centro da cidade. Os bem criados flanelinhas demonstram autoridade e perseverança em garantir o seu espaço público. Tem mais mercadorias nas calçadas (?) do que nas lojas. A pirataria faz a festa e mostra que o errado é que está certo ao vender produtos de péssima qualidade a preços extorsivos também que disso ninguém escapa nesses tempos de festa. A balbúrdia é grande no centro e forma um caldo de sujeira, lonas vermelhas, vendedores de tudo e a freguesia frenética procurando um pedacinho de rua para pisar e querendo a todo custo comprar um celular novo, um tênis, um brinquedo, um enfeite natalino.

Será que essa população que circula no centro durante as festas de final de ano sabe pelo menos o nome do rio que passa aí na frente da cidade? Muita gente sabe que existe um rio mas o mal costume de construir muros na orla para impedir o olhar de quem passa em sua direção faz com que as pessoas o tratem friamente sem lhe dar o devido valor emocional de poder contemplar tanta beleza naturalmente tão próxima. E por falar em rio além de jogarmos lixo na própria água que bebemos, durante as fortes chuvas amazônicas, o lixo acumulado nas ruas da cidade são levadas de roldão para as tão preciosas águas do Negro que depois de um temporal fica pálido, amarelado, acho que adoentado com tanta sujeira e descaso.

Dá para lembrar nesse tempo de festa e de consumo que o aniversariante festejado pela humanidade nessa época nasceu numa manjedoura e pregou a simplicidade e o amor acima de qualquer coisa? Comprar é bom, não nego, mas o bom senso deve sempre prevalecer. 

 (*) É jornalista, escritora e articulista do NCPAM/UFAM

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