sexta-feira, 4 de abril de 2008

Censura na Internet


*João Fábio Braga

A liberdade oferecida pela internet tem enfrentado o cerceamento por parte de regimes autoritários, um exemplo maior foi escancarado pelos protestos dos tibetanos no decorrer do mês de março. As informações iniciais eram imprecisas e incompletas, porém, a intensidade dos problemas só foram divulgadas em sua magnitude, quando os primeiros vídeos do conflito se disseminaram pela web através da filmadora dos celulares.

Os protestos foram marcados por uma reação brutal de violência pelo Exército do Povo que reprimiu cruelmente os movimentos encabeçados pelos monges budistas, mês que marca a 49° aniversário da insurreição tibetana. Conforme a divulgação de atos de repressão policial e o foco de protesto pela mídia ocidental, o governo comunista chinês intensificou uma lei específica para sites que distribuem vídeos, a exemplos do YouTube (lei criada em janeiro deste ano). A censura, segundo estabelece a lei, tem por objetivo operar sob licença restringindo vídeos que pudessem incitar ou “inspirar temores, conter pornografia, atos violentos, colocar a segurança nacional em perigo ou envolver segredos de Estado”.

Então, a vigilância da internet por parte do partido comunista de monitorar sites, engloba apenas uma das medidas adotadas que o governo vem chamando de internet alternativa –CERNET2-, que propõe desenvolver uma nova versão das redes IP (Internet Protocol- protocolo sob o qual assenta a infra-estrutura da Internet) como meta de identificar cada computador através deste IP, já que a versão atual de protocolo sob domínio americano (IPv6) não atende a demanda crescente do uso da internet.

Porém, algo crucial se aproxima, apesar dos incidentes no Tibete, são as olimpíadas de Pequim que atrairão milhares de turistas do mundo todo, que esperam toda receptividade e o tratamento hostil dos anfitriões, principalmente no que diz respeito ao serviço de acesso da internet. A expectativa que o governo abra mão temporariamente da política de censura contra os meios de comunicação e libere o acesso total à web.

Nesse tempo que ocorre os jogos olímpicos, a população chinesa terá a oportunidade de acessar sites bloqueados. O receio desta abertura soa para o governo comunista um perigo incessante, sobretudo para minorias tibetanas que podem utilizar a web e outras mídias para difundir novos protestos, que por isso mesmo, pode manchar de sangue e encobrir de sombra a surpreendente e prometida mega festa que os chineses querem realizar enquanto seu papel de anfitriões.

A incapacidade do governo chinês de solucionar os problemas através do diálogo parece está longe de ser resolvido. Tal inflexibilidade da posição política de Pequim deixa os países ocidentais na incerteza que possa ser capaz de dar o primeiro passo para reduzir as tensões no Tibete e começar abrir um diálogo, especialmente com o líder religioso Dalai-Lama, a quem considera um líder separatista e terrorista.
O posicionamento da China traz a tona o risco que países da União Européia e demais possam organizam um boicote à cerimônia de abertura das Olimpíadas, uma forma de pressionar o governo chinês de acender um diálogo sino-tibetano significativo, dessa maneira fortaleceria as relações diplomáticas entre Pequim e a capital Lhasa.

Nesse sentido, a internet vem mobilizando a opinião pública mundial atentando para os acontecimentos recentes, pressionando o Estado comunista chinês por mais direitos sociais e liberdade política. Outro acontecimento que mobilizou a opinião pública mundial ultimamente foram os protestos dos monges em Miamar contra o poderio ditatorial que os militares vêm conduzindo o país, realizando ao bel prazer banquetes fartos enquanto na sacada milhares passam fome. Outro caso interessante, é que a internet tem desafiado regimes autoritários como o Irã, cuja juventude iraniana mescla a tradição cultural islâmica com um ritmo musical globalizado que é o Rap, ganhando dimensões na internet através de vídeos com vinculação gratuita na rede.

O grande desafio de todas as sociedades neste início de milênio é ter o poder nas mãos de cidadãos, e que os próprios cidadãos por meio da interatividade da internet possam controlar e vigiar seus governos.

*Editor Responsável do NCPAM e Bacharel em Ciências Sociais pela UFAM.

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