domingo, 6 de abril de 2008

Mirante do cotidiano - "porque hoje é domingo!"


Reflexão do poeta Max Carphentier

Domingo, dia do encontro, quando os homens celebram a liturgia das relações pautadas na esperança efetiva da justiça, refugiam-se em si mesmo em reflexão ou acovardados pela condição existencial em que vivem, entregam-se como presente ao sacrifício do trabalho, buscando recompensas temporais ou espirituais. Nesse tempo, o poeta Max Carphentier, colaborador desta página, aproveita a liturgia cristã para chamar a todos à reflexão, motivado pela alegria da ressurreição transformadora. Pois, passados os dias da Paixão de Nosso Senhor, vividos na reflexão e na penitência, abre-se a grande alegria do tempo pascal.

Cidades e homens podem retirar dos ombros o manto da desolação e vestir a túnica da alegria, eis que a salvação nos foi dada, porque Deus ressuscitou a nós todos na carne e no espírito de Jesus, e assim foi vencida a morte. Conforme São Lucas, toda carne, isto é, todos os homens verão a salvação de Deus. Começa o tempo de plenitude, porque tudo na nova aliança foi cumprido da parte de Deus. Da nossa parte, resta-nos o empenho pela conversão pessoal do nosso coração aos apelos de Jesus; resta-nos o caminho da caridade e do amor; sobra-nos a definitiva esperança, essa asa que nos suporta e que, pela palavra santa revelada, nos leva a alcançar a certeza da salvação. A conversão inunda o homem do mistério pascal de Cristo. E a expectativa feliz nos deixa alegres no âmago mesmo do mistério.

Relembremos a manhã da ressurreição. Depois de ter sido a primeira a correr para avisar a Pedro do sepulcro vazio, Maria de Magdala volta e, enquanto os discípulos, verificado o fato, regressam a casa, ela fica “junto ao sepulcro, fora, chorando”. Ela está aturdida pela dor, confusa, não pensa na ressurreição, nem os linhos deixados no sepulcro a fazem refletir; ela só consegue ter um pensamento: procurar aquele corpo para o qual levara os perfumes da despedida.

Eis, porém, que Jesus a chama pelo nome: “Maria!”. De novo ela ouve aquela voz que a convertera. Jesus não permite que Madalena o abrace, por que ainda não subiu ao Pai, mas imediatamente dá a ela uma missão: “Vai a meus irmãos e dize-lhes: Subo a meu Pai e vosso Pai: a meu Deus e vosso Deus.” Escrevendo sobre esse encontro, São Bernardo põe na boca de Jesus as seguintes palavras a Madalena: “O teu coração é o meu sepulcro: não repouso aí morto, mas vivo para sempre. Tua alma é meu jardim... Teu pranto, teu amor e o teu desejo são obra minha: tu me possuis dentro de ti sem o saberes, por isso me procuras fora. Então te aparecerei externamente, para reconduzir-te ao teu interior e fazer-te encontrar dentro o que procuras fora.”


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