terça-feira, 29 de abril de 2008

O ECO DA ROSA


* Luciana Soares Veras

Sete mortes. Nos sete dias é a trama que tem sua origem nos manuscritos em latim de Dom Adso de Melk, datado entre meados de 1327, e descrito no limiar de sua vida (1385). Os protagonistas o noviço beneditino Adson de Melk e o frade franciscano Guilherme de Baskerville – enviado do império - passam por uma das abadias mais famosas da época por causa de sua riquíssima biblioteca, na missão de mediar os ânimos num encontro, entre a ordem franciscana e a sede pontifícia, ganhando também a incumbência de desvendar os crimes antes da chegada de Dom Michelle de Cesena – enviado do papado - por meio dele é que visualizaremos as estruturas ideológicas, sociais e políticas de seu tempo.

Pesquisado por uma década, no século passado, pelo medievalista e romancista Humberto Eco, o romance O Nome da Rosa para além do reconhecimento literário mundial, também foi enredo de cinema, sendo palco de uma viagem transcorrida na Itália que não era só dividida por pequenos reinos, mas por escolas de pensamento como os dominicanos, que seguiam Tomás de Aquino e ainda Eckhart, discutindo o ser, o intelecto e Deus; bem como os franciscanos que apoiavam Escoto, no discurso da pobreza mais a função da igreja devotada por Guilherme Occam.

Dessas disputas descenderam os nominalistas que também apoiavam o estudo da lógica, fundamentando-se na doutrina Aristotélica, sendo interpretada e difundida por Pedro Abelardo e por Duns Escoto, este último qualificado por sua teoria das naturezas comuns, assim como Guilherme de Occam que ensinava sobre signos. Contudo, assistiu-se um aumento de interesse na distinção entre cognição intuitiva e abstrativa que espalharam em toda a Europa e emanavam vigorosos debates dos filósofos entre si e as liderança da igreja católica.

A igreja na pessoa do papa Clemente V, não mediou e nem se posicionou a estes debates, e logo foi substituído por Bonifácio VIII, que através do instrumento de inquisição perseguiu dentre outras ordens os dominicanos, os fraticelli e os franciscanos, sendo (Bonifácio VIII) logo substituído por João XXII, que defendia a propriedade da igreja tal como seu uso, aliando-se politicamente aos reis de influência da Europa, como Luiz IV.

Dessa feita torna-se assim a figura do soberano, como Maquiavel cita em “O Príncipe”, pois seu governo caracteriza-se na organização e manutenção da riqueza da igreja por meio das indulgências, entre outros arranjos políticos e ainda no direito repressivo que a igreja possuía naquele momento aos avessos do império religioso, no instrumento da Santa Inquisição, que repercutiu por toda Europa, inclusive com mais força na Espanha e em Portugal, onde seus representantes políticos se utilizaram deste método para fins econômicos transformando-o no Tribunal do Santo Ofício por volta do século XV.

Então podemos compreender a sociedade do período medieval como uma sociedade mecânica, definida, segundo Durkheim, por forma de solidariedade onde só acontecia entre os semelhantes nas relações individuais, mostra disso é que só entravam para a vida monástica os filhos de proprietários de terras e de títulos.

Embora, na época houvesse pregadores nas comunidades, estes não tinham acesso aos mosteiros e abadias, assim como nas universidades eclesiásticas, que estavam sob domínio da igreja naquele período.

Quanto à questão social, em contrapondo a riqueza da igreja, o povo vivia em estado de pobreza e miserabilidade nas províncias e nos arredores das abadias e das cidades clericais, na qual as necessidades de socorro social demandavam uma resposta que a concepção de mundo da igreja não mais respondia.

Essa discussão transcorreu no curso da história, no qual teve seu ápice por volta de 1847, quando Karl Marx inaugura a crítica sobre as estruturas econômicas do capitalismo, em decorrência da decadência do feudalismo e o nascimento da era industrial, consumando dessa feita, o velho tempo pensado pelos intelectuais eclesiásticos.

Assim, o “O Eco da Rosa” ressoa até o presente momento que as camadas estratificadas da sociedade configurada na desigualdade social assombram os homens de bem, demolindo o sentido da palavra solidariedade tão anunciada pela igreja, mas pouco encarnada em suas práticas de sociabilidade.

* Discente do curso de Ciências Sociais da UFAM e colaboradora do NCPAM.

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