quinta-feira, 24 de abril de 2008

HISTÓRIA INDÍGENA NA PERSPECTIVA DE QUEM?


* Marina Lemle e Suzana Barbosa

A renovação do material didático é feita a cada três anos, só depois de 2010 e 2011 os alunos do ensino médio e do ensino fundamental, respectivamente, deverão usar livros contendo capítulos específicos sobre a temática indígena. De acordo com André Lázaro (titular da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério de Educação (Secad/MEC), os livros deverão abordar dois aspectos: o etnográfico, que retratará a vida nas comunidades indígenas, e o histórico, enfocando a situação do índio no Brasil de hoje.

Uma preocupação de especialistas é justamente a produção do material didático e como o ensino se dará na prática. De acordo com o lingüista Luiz Carlos Borges, do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), ainda há pouca pesquisa sobre a história dos povos indígenas, que são mais de 200 grupos diferentes. “Qual será a perspectiva? Serão os índios contando suas histórias? Isso seria interessante”, sugere, acrescentando que em escolas indígenas a história do Brasil é ensinada sob perspectiva indígena e que isso funciona.

Borges também se preocupa com a formação dos professores. Para ele, no nível médio não existem professores preparados para ensinar “essa nova história”. “Que professores estão abalizados para não reproduzir preconceitos que já estão embutidos nos livros didáticos?”, questiona.

Borges considera a mudança na Lei extremamente interessante, mas prevê que a execução esbarrará em resistências e na falta de bom material sobre o tema. “Se a questão negra é mascarada, mas não silenciada, a questão indígena é silenciada também”, atesta.

Material didático na internet

Para professores que quiserem aplicar imediatamente o novo enfoque, o MEC recomenda uma visita ao site Domínio Público, que disponibiliza gratuitamente documentos, artigos, teses, livros, poesias e os quatro volumes da série Vias dos Saberes, resultado de parceria entre a Secad/MEC com o Laboratório de Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento do Museu Nacional da UFRJ (Laced).

Organizada no projeto Trilhas de Conhecimentos pelo antropólogo Antônio Carlos Souza Lima, a série Vias dos Saberes contém os seguintes livros: O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje, de Gersen José dos Santos Luciano, que discute a identidade e a organização indígenas, o meio ambiente, a situação política dos índios e a contribuição dos povos ao país e ao mundo; A presença indígena na formação do Brasil, de João Pacheco de Oliveira, que aborda o sistema colonial, a ação missionária e a resistência indígena; Povos indígenas e a lei dos “brancos”: o direito à diferença, de Ana Valéria Araújo, sobre a evolução dos direitos indígenas no Brasil desde a colonização até hoje, passando pela criação da Fundação Nacional do Índio (Funai); e Manual de lingüística: subsídios para a formação de professores indígenas na área de linguagem, do lingüista Marcus Maia, para a formação de professores indígenas na área da linguagem.

A antropóloga e lingüista Bruna Franchetto, do Museu Nacional da UFRJ, aplaude a nova Lei e afirma que a coleção e muitas outras obras deveriam ser adotadas em todas as escolas. Entre os títulos que já existem, ela destaca Araweté, de Eduardo Viveiros de Castro, Os índios antes do Brasil, de Carlos Fausto, e os livros de Madu Gaspar da coleção Descobrindo o Brasil, da editora Zahar.

Para Bruna, faltam livros que realcem a diversidade lingüística nativa, pois existem mais de 150 línguas indígenas. “Hoje, há artigos que podem formar uma apostila. Mas estamos fazendo dois livros sobre a diversidade lingüística pela editora Vieira & Lent”, adianta. Ela recomenda ainda o conteúdo de sites como o do Instituto Sócio-Ambiental e o do Museu do Índio. “São sérios e fundamentais”, garante. Outra dica da lingüista são os vídeos produzidos pelo projeto Vídeo nas Aldeias, em especial a série que foi promovida pelo MEC, Índios no Brasil, com dez programas, que estão sendo reprisados agora pela TV Brasil.

* Articulistas da Revista de História da Biblioteca Nacional, Edição nº. 31, abril 2008 - http://www.revistadehistoria.com.br/ , este artigo é a continuação do artigo Índios, no Plural.

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