sábado, 16 de abril de 2011

FOME DE CULTURA

Ellza Souza(*)

A noite foi completa e nem precisou de malabarismos e show de vôos rasantes de ultraleve. Mas teve todos os ingredientes para preencher o coração de alegria. Não faltou boa música, poesia e amor nos dois espetáculos que assisti na noite de ontem. O primeiro foi no pequeno palco do Centro de Artes da Ufam-CAUA e o segundo aconteceu no teatro do SESC.

Os artistas Neuber Uchoa e Zeca Preto que vieram de Boa Vista-Roraima soltaram a voz cantando músicas de sua própria autoria onde ouvi palavras como fome, areia, fé, erva de urucum, Monte Roraima, lavrados, mato, água, que deram ao público um alento e um reforço nas boas energias quem sabe trazidas por eles da terra de Macunaima. No evento do Caua, artistas de renome como Célio Cruz, Adelson Santos e o Quarteto Preto e Branco ou Branco e Preto (ainda não chegaram a um consenso) que deu um show à parte com suas belíssimas vozes.

Célio cantou acompanhado de seu violão e desabafou que “apesar da falta de apoio aos artistas vai cantar até morrer”. O canto para Célio revolve suas entranhas e apesar de suas queixas precisa de sua arte para viver feliz. O Adelson que é maestro, cantor, compositor, aproveitou aqueles momentos no palco para constatar, cantando, que “sorria, você está sendo filmado” numa crítica contundente aos tempos modernos e inseguros que vivemos. Mas a sua linda música em que implora “não mate a mata” o redimiu de qualquer baixo astral naquele momento.

No palco do SESC, a platéia era maior e estava lotado o espaço. Muitos talentos da terra se apresentaram cantando uma música cada. Lembro os nomes de Lucilene Castro, Márcia Siqueira, Nicolas Júnior com seu “amazonês” engraçado, Lucinha Cabral que deu um verdadeiro show de voz e teatralidade, a banda Canto da Mata, Ketlen Nascimento que vai representar o Estado em um festival de Maringá no Paraná e o Celdo Braga que emocionou com suas bem colocadas palavras numa singela poesia ao lado da Márcia representando a mulher cabocla e bela de nossa região.

Para encerrar a noite embalada ao som das canções e da poesia de nossos artistas, o representante do setor cultural do SESC veio ao palco para fazer o discurso de despedida e agradecimento. Seria tudo simples se essa pessoa fosse outra que não aquela que tem “a voz” mais linda daqui, de lá e de parangolá. O público exigiu e ele desconcertado pois não tinha ensaiado nem nada, teve que soltar sua bela voz para arrasar de vez com as nossas emoções. Depois do discurso ele, Zezinho Corrêa, nos presenteou com “Amazonas”.

Artista de verdade está sempre preparado para atender seus fãs. A noite de lua nova estava completamente ao meu alcance. Com a música dos artistas da minha terra voltei a sonhar quando começava a perder a esperança.

(*) É jornalista, escritora e colaboradora do NCPAM/AM.

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