
GABRIELA MELLÃO
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA
O autor e diretor amazonense Francisco Carlos é um devorador de mitologias. Ao degluti-las, elas se misturam ao seu olhar crítico de mundo e às suas raízes.
O resultado da arte deste artista de 51 anos formado em filosofia é um teatro original, que após uma vida de batalhas e cerca de 40 peças escritas finalmente c omeça a sair da obscuridade. Destaque absoluto do Fringe, na 20ª edição do Festival de Curitiba, Francisco Carlos foi o único artista do festival convidado a exibir uma mostra de seu trabalho.
Além de "Banana Mecânica", "Namorados da Catedral Bêbada" e "Românticos da Idade Mídia", apresentou pela primeira vez "Jaguar Cibernético", espetáculo dividido em quatro obras autônomas, cuja estreia paulista está prevista para o mês que vem. "No fundo, meu teatro é um teatro da periferia", diz ele.
MITOLOGIA
A partir da utilização de figuras mitológicas da cultura brasileira, sua obra promove o embate entre realidades opostas. Ele parte de um debate micro, pessoal, e o expande para uma reflexão sobre a sociedade, como é o caso do confronto entre cultura ocidental e indígena exposto em "Jaguar Cibernético". O texto, agrupado no bloco temático de suas "peças de pensamento selvagem", tem o canibalismo com o tema. Francisco Carlos serve-se do jaguar, um dos símbolos desta prática ritualística, para falar sobre altruísmo.
Segundo ele, incorporar a visão do outro é algo intrínseco às culturas indígenas. A visão múltipla destes povos se contrapõe ao ponto de vista uno da cultura ocidental. Para o autor e diretor, a maneira como o índio percebe o mundo apresenta uma possibilidade. "É nossa utopia contemporânea", fala. Não só o conteúdo de suas obras busca a multiplicidade.
A estética também é inspirada por essa visão. "A ideia de arte contemporânea fragmental, híbrida e plural veio da arte primitiva africana e da ameríndia". Sua estética teatral dialoga, muitas vezes de modo paródico, com diversas linguagens artísticas, como performance, música, dança, cinema e artes plásticas. "Jaguar Cibernético" mistura ainda teatro oriental, circense e rituais indígenas.
Francisco Carlos foi descoberto por artistas paulistas, como Majeca Angelucci, protagonista de "Namorados da Catedral Bêbada", e apadrinhado por Ivam Cabral. O ator e fundador dos Satyros lhe abriu as portas de seu teatro em São Paulo e destacou seu trabalho na mostra Conexão Roosevelt, do Fringe.
A singularidade de sua arte encontra, enfim, reconhecimento e público. "Meu teatro representa aquele que não é o eu, o ego, branco, ocidental, normal. Eu uso a arte para apresentar o outro", diz o autor e diretor, satisfeito com a repercussão de seu trabalho em Curitiba. "Entenderam a minha loucura."
Um comentário:
Chico, parabéns pelo reconhecimento de seu trabalho e espero assistir a peça no teatro Amazonas.
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