sábado, 23 de abril de 2011

TONY, ORGULHO DE SER ARTISTA

Ellza Souza (*)

Se é parvulagem ou gabolice não importa mas no programa Na Terra de Ajuricaba apresentador e entrevistador, ao tentar definir o significado do termo se

enredavam na mais pura “pinta”. “Para o bem” foi a conclusão que chegaram, entusiasmados com a temática musical da pauta.

Tony Medeiros, técnico agrícola, professor, deputado estadual, cantor, amo do boi Garantido de Parintins, cidade onde nasceu, estava no programa para falar de sua música, seus projetos, sua vida. Para compor ele lê muito, pesquisa e espera o momento da inspiração. Isso pode levar poucos minutos ou até meses para concluir uma letra e música que geralmente vêm juntas. O “Tributo ao boi de pano”, por exemplo, onde “meu boi é raça, é sangue, mora no meu coração, sou feliz porque te amo”, foi feita em 20 minutos segundo o artista.

Nasceu do lado do boi Caprichoso, na parte baixa da cidade. Canta desde criança nas missas de sua cidade e aos seis anos ao ser desenganado pelos médicos fez um pedido ao seu pai: “Quero que o boi Garantido dance em frente de casa”, como era costume na época e foi atendido. Naqueles momentos o menino já começava a “avermelhar”.

Inicialmente os bois brigavam na rua, depois passaram a se reunir na quadra e então começou a se formar o festival folclórico como o conhecemos hoje. O boi bumbá, segundo Medeiros, entrou no Brasil com a colonização portuguesa em todos os estados brasileiros. Primeiro em Pernambuco, depois no Pará e antes mesmo de chegar ao Maranhão, entrou no interior do Amazonas. Isso em meados do século XIX.“Sou apaixonado pela minha terra” e “tenho orgulho de ser artista”, escancarou o músico e contador de casos vivenciados por ele em suas andanças por aí.

O amo “é a parte crítica e social do boi” diz o escritor Wilson Nogueira, também caboclo daquelas paragens. Na história do boi de pano amazônico quem ressuscita o boi é o índio, no lugar do padre. Só que o boi, ao voltar, vem como boi de pano e aí se desenrola toda uma história de amor e de superação dos povos em relação à natureza.

O músico e deputado declamou, cantando, um verdadeiro louvor à Amazônia onde “a vida depende da vida para sobreviver/ o que será desse mundo se o rio e a mata desaparecer / cadê pau pra canoa, não tem/ nem madeira para o tapiri/ é preciso parar com tanta destruição / o homem perdeu o juízo/ a vida defendo com a vida e não saio daqui...” Palavras bem apropriadas para uma defesa real de nossas águas, matas e índios como a canção que diz: “O índio do meu Brasil continua abandonado/ na capital brasileira um pataxó foi queimado”.

“Meu coração é Garantido mas o meu compromisso é com Parintins” e homenageando o boi Caprichoso e o cantor Davi Assayag, encantou com “vai um canoeiro nos braços do rio/ no remanso do rio, no silêncio da mata/ já vai canoeiro nas curvas que o remo dá/ já vai canoeiro, no remanso da travessia/ enfrenta o banzeiro...sou canoeiro...” E por aí vai numa canção que todos conhecemos. Está gravando um cd de louvor à Deus e depois quer gravar um trabalho de canções para Maria, mãe de Jesus por quem tem a maior veneração.

Nas palavras poéticas do Tony Medeiros espero que o ser humano encontre um sentido para uma vida de paz e de cuidados com o planeta: “Me traz rosas e jasmins / me protege meu jardim / minha santa paz e amor...”. Que Nossa Senhora ilumine sempre a inspiração dos poetas e o entusiasmo de apresentadores bem intencionados.

(*) É jornalista, escritora e articulista do NCPAM/UFAM.

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