quarta-feira, 6 de abril de 2011

NOTA 10 PARA O DRAMATURCO AMAZONENSE

A Folha de S. Paulo de hoje (6), em matéria especial, registra o quanto a obra do dramaturco e diretor amazonense, Fracisco Carlos ganhou reconhecimento no 20º Festival de Teatro de Curitiba. A produção do dramaturco soma mais de 40 trabalhos, sendo que neste Festival, o amazonense apresentou um trabalho inédito nominado Jaguar Cibernético, espetáculo dividido em quatro obras autônomas referenciadas na tradição das culturas indígenas do Amazonas numa perspectiva da cultura híbrida dos povos. Francisco Carlos é caboco de itacoatira, formado em filosofia pela Universidade Federal do Amazonas com cursos complementares no antigo Centro de Estudo de Comportamento Humano (Cenesc), quando foi iniciado no saber antropológico por meio das orientações do padre Casimiro Beskta. Formação está, que influenciou e influencia até hoje em seu processo de criação teatral como se pode conferir na matéria assinada abaixo pelo enviado especial da Folha.

GABRIELA MELLÃO
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA

O autor e diretor amazonense Francisco Carlos é um devorador de mitologias. Ao degluti-las, elas se misturam ao seu olhar crítico de mundo e às suas raízes.

O resultado da arte deste artista de 51 anos formado em filosofia é um teatro original, que após uma vida de batalhas e cerca de 40 peças escritas finalmente c omeça a sair da obscuridade. Destaque absoluto do Fringe, na 20ª edição do Festival de Curitiba, Francisco Carlos foi o único artista do festival convidado a exibir uma mostra de seu trabalho.

Além de "Banana Mecânica", "Namorados da Catedral Bêbada" e "Românticos da Idade Mídia", apresentou pela primeira vez "Jaguar Cibernético", espetáculo dividido em quatro obras autônomas, cuja estreia paulista está prevista para o mês que vem. "No fundo, meu teatro é um teatro da periferia", diz ele.

MITOLOGIA

A partir da utilização de figuras mitológicas da cultura brasileira, sua obra promove o embate entre realidades opostas. Ele parte de um debate micro, pessoal, e o expande para uma reflexão sobre a sociedade, como é o caso do confronto entre cultura ocidental e indígena exposto em "Jaguar Cibernético". O texto, agrupado no bloco temático de suas "peças de pensamento selvagem", tem o canibalismo com o tema. Francisco Carlos serve-se do jaguar, um dos símbolos desta prática ritualística, para falar sobre altruísmo.

Segundo ele, incorporar a visão do outro é algo intrínseco às culturas indígenas. A visão múltipla destes povos se contrapõe ao ponto de vista uno da cultura ocidental. Para o autor e diretor, a maneira como o índio percebe o mundo apresenta uma possibilidade. "É nossa utopia contemporânea", fala. Não só o conteúdo de suas obras busca a multiplicidade.

A estética também é inspirada por essa visão. "A ideia de arte contemporânea fragmental, híbrida e plural veio da arte primitiva africana e da ameríndia". Sua estética teatral dialoga, muitas vezes de modo paródico, com diversas linguagens artísticas, como performance, música, dança, cinema e artes plásticas. "Jaguar Cibernético" mistura ainda teatro oriental, circense e rituais indígenas.

Francisco Carlos foi descoberto por artistas paulistas, como Majeca Angelucci, protagonista de "Namorados da Catedral Bêbada", e apadrinhado por Ivam Cabral. O ator e fundador dos Satyros lhe abriu as portas de seu teatro em São Paulo e destacou seu trabalho na mostra Conexão Roosevelt, do Fringe.

A singularidade de sua arte encontra, enfim, reconhecimento e público. "Meu teatro representa aquele que não é o eu, o ego, branco, ocidental, normal. Eu uso a arte para apresentar o outro", diz o autor e diretor, satisfeito com a repercussão de seu trabalho em Curitiba. "Entenderam a minha loucura."

Um comentário:

SELMA PAIVA disse...

Chico, parabéns pelo reconhecimento de seu trabalho e espero assistir a peça no teatro Amazonas.