domingo, 10 de julho de 2011

"HOJE É DOMINGO" - BRINCANDO COM AS PARLENDAS

Ellza Souza (*)

Quem não brincou ao som dos versinhos de rima fácil ou é criança da era digital ou nunca viveu uma infância de verdade onde a imaginação era instigada e mobilizada por esse tipo de poesia.

“Hoje é domingo pé de cachimbo cachimbo é de barro bate no jarro o jarro é fino bate no sino o sino é de ouro bate no touro o touro é valente bate na gente a gente é fraco cai no buraco o buraco é fundo acabou-se o mundo”.

Não sei quando comecei a cantá-la mas minha vida toda até hoje foi embalada por “batatinha quando nasce espalha a rama pelo chão meu amor quando se deita bota a mão no coração” . É bem divertida a poesia de Elias José “Brincando de não me toque”: Não me olhe de lado que eu não sou melado/ Não me olhe de banda que eu não sou malandra/ Não me olhe de frente que eu não sou parente/ Não me olhe de trás que eu não sou satanás/ Não me olhe no meio que eu não sou recheio...” E para a criança completar encerrava assim: Não me olhe de cima que acabou a...... Cada um então inventava o seu final. Que maravilhosa metodologia para incentivar a criatividade e a boa literatura.

Já grandinha gravei para sempre também “Meus Oito Anos” de Casimiro de Abreu que trata de sua infância perdida mas intensamente vivida à sombra dos laranjais. Aí lembro que em Manaus já teve muitos pés de laranjas como no bairro de São Jorge, na Chapada, no Parque das Laranjeiras. Cresci e com a maturidade perdi as fruteiras, a sombra que elas nos proporcionavam e os pássaros que se agasalhavam nessas grandes árvores. Um pedacinho de Meus Oito Anos:

“Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais”.

Tenho que relembrar também a “Cantiga” de Manuel Bandeira:
“Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar”.

Já estou me sentindo capaz de fazer um versinho. Parece fácil não é mesmo? Vou deixar aqui o meu, feito neste momento. Tente fazer um também.

“Palmeiras caídas
Livros não lidos
Boca de forno, cantiga de roda
Monteiro Lobato assim e afins
De fadas, bichinhos e pirlimpimpins
Voando nos sonhos
De quem foi um dia
E quer para sempre um mundo feliz”

Bem a propósito hoje na manhã ensolarada quando saía de casa para minha aula de informática que não houve vi no firmamento azul, acreditem se quiserem, duas araras coloridas que passaram imponentes diante de meus olhos. Nunca tinha visto uma arara voando na cidade. Ultimamente só as vejo em cativeiro. Prefiro pensar que as aves estavam tentando por aqui um novo contato com o ser humano. Sem perdas para ambas as partes. Ainda resta uma esperança.

(*) É jornalista, escritora e articulista do NCPAM/UFAM.

Um comentário:

Anônimo disse...

Voei no tempo com esse texto.