quinta-feira, 14 de julho de 2011

O VÔO DO SANHAÇU

Ellza Souza (*)

“Viver é saber que somos responsáveis pelo planeta que é a nossa casa”.

Para viver esplendorosamente a felicidade tão almejada pelo ser humano basta responsabilidade, liberdade, amizade, simplicidade.

Pensa assim e eu acredito o amigo, professor, escritor Tenório Telles que nos ensina e ameniza o cotidiano de todos com suas poéticas palavras que vão sem rodeios direto ao coração. O lançamento de seu livro de crônicas apropriadamente chamado “Viver” num revigorante apelo do que é a vida, do que podemos fazer de nossa vida, enquanto vivos, partilhando experiências sem medo da entrega.

Comecei a prestar atenção ao que esse “semeador de livros” escrevia quando li uma crônica sua em que ele falava dos passarinhos na cidade que não têm mais árvores para morar. Eu, por exemplo, assisti ao aperreio de uma beija flor que fez seu ninho num fio em frente da janela de vidro do prédio onde trabalhava. Foram momentos de pavor para aquela mãe que quando nos aproximávamos da janela ela berrava e fazia cara de poucos amigos em sinal de protesto.

Entendo bem a preocupação do Tenório com os passarinhos que afugentamos ao desmatarmos sem dó por onde passamos. Achei aquelas palavras simples e diretas muito cativantes e passei a gostar daquela pessoa capaz de escrever sobre emoções tão singelas. É professor, esse foi o preço da sua vitória na cidade previsto por sua mãe ao lhe trazer de São Tomé no rio Purus por achar lindo o seu interesse pela leitura quando era um pouquinho menor do que é hoje. Lá tinha passarinhos, rio, macaxeira, juta, árvores, a dureza da sobrevivência. Aqui temos apenas o caos no trânsito, na saúde, na educação, temos asfalto pra todo lado, nem igarapés temos mais pois todos foram aterrados. Mas a ignorância brutaliza e qualquer mãe quer o melhor para seu filho.

Assim ganhamos um sanhaçu na cidade que alçou todos os vôos de sua própria integridade pessoal e realizou seu grande sonho de menino de interior de ser um professor e que ainda se considera um aluno das antigas por não esquecer os seus próprios mestres. O sanhaçu, o bem te vi, o beija flor, os seus filhos entre os quais o Aristides que conheci no dia do lançamento e me confessou sua preferência por esses passarinhos, a sua mãe, os seus amigos, a Valer, os seus leitores, os seus fâs, os seus alunos, os seus professores, todos estão felizes porque você nos ensinou que é assim a vida. Simplesmente assim. Só a cultura no Amazonas chora nesse momento. Os outros que lhe querem bem torcem por você. Vá em frente amigo, a sua felicidade é a nossa felicidade.

(*) É jornalista, escritora e articulista do NCPAM/UFAM.

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