Félix Valois (*)
Escrevo no Dia do Advogado. Sendo das profissões mais antigas, é natural que tenhamos a data comemorativa, até porque a proliferação delas nos parlamentos brasileiros é fenômeno ainda a ser explicado pelos cientistas políticos. Já cumprimentei colegas e fui cumprimentado, por alguns com extrema gentileza, como foi o caso do doutor Marcelo Sêmen, talvez em homenagem ao quase meio século em que me debato nessas lides de defesa das liberdades fundamentais diante do poderio quase insuperável do Estado. Mas, no fundo, no fundo, tenho cá minhas dúvidas se nos sobejam motivos para regozijos. Muitos magistrados não conseguem perder o vezo de nos encarar como mero estorvo às suas funções de aplicar a lei ao caso concreto. Parece, principalmente na área criminal, que estamos sempre do lado errado.
A simples formulação de denúncia contra um cidadão tem o condão de estabelecer tremenda má vontade contra ele. E o princípio constitucional da presunção de inocência é jogado na lata do lixo, invertendo-se arbitrariamente o ônus da produção da prova. É lamentável e é triste, principalmente para a minha geração que se desenvolveu sob o tacão da ditadura militar e viu na redemocratização o renascimento de todas as esperanças.
Pior: vi no curso da semana uma decisão judicial que voltou a atiçar as brasas da fogueira em que se pretende imolar o Encontro das Águas. As elites das chamadas classes produtoras vão me ter como inimigo do progresso. Inundarão meu correio eletrônico com estatísticas e gráficos, todos demonstrativos de que, se novo porto não for construído naquele lugar, Manaus corre o risco de colapso. Serão milhões de toneladas de carga que, ali, poderão transitar com mais facilidade, otimizando a relação custo/benefício. Pode até ser. Não sou do ramo e não vou meter minha colher em panela que não conheço. Lembremo-nos do sapateiro e das sandálias. Mas sou amazonense. Nasci em Manaus e disso tenho um orgulho que ninguém me vai furtar.
Sou caboclo da floresta e da beira do rio e é nessa qualidade que posso e devo intervir no assunto. Por que, em nome de todas as entidades pagãs sagradas ou profanas, por que, repito, logo no Encontro das Águas? Não é possível, pelo menos para a minha limitada inteligência, que não exista outro lugar, nesse imenso caudal que rasga o continente, onde o “progresso” possa fincar suas raízes, estender seus tentáculos e dominar o ambiente. Não se está falando de poluir um pedaço qualquer de terra. Trata-se de violentar, com brutalidade inominável, um dos mais belos locais do planeta, um patrimônio da humanidade, que sempre exibimos com indisfarçável jactância.
Puro sentimentalismo, dirão os partidários do “progresso”. Que o seja. Mas, será que é proibido deixar aflorar o sentimento quando vemos a insensibilidade avançar traiçoeira e voraz contra o que nos é caro? Será que é vergonhoso lutar com unhas e dentes – e com sentimento – para preservar aquilo que aprendemos a amar?Se acontecerem ambas as coisas (proibição e vergonha), declaro-me em estado de desobediência civil e me deixo cobrir pelo manto da vergonha com que olho a passividade diante de tamanha e soez agressão. Como diria Fernando Pessoa, “tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”. Se me for possível, aqui estarei com as mãos e com o sentimento na defesa do Encontro das Águas.
(*) É professor aposentado da Faculdade de Direito da UFAM, advogado criminalista e articulista do Diário do Amazonas.
Fonte: http://www.blogdafloresta.com/
Escrevo no Dia do Advogado. Sendo das profissões mais antigas, é natural que tenhamos a data comemorativa, até porque a proliferação delas nos parlamentos brasileiros é fenômeno ainda a ser explicado pelos cientistas políticos. Já cumprimentei colegas e fui cumprimentado, por alguns com extrema gentileza, como foi o caso do doutor Marcelo Sêmen, talvez em homenagem ao quase meio século em que me debato nessas lides de defesa das liberdades fundamentais diante do poderio quase insuperável do Estado. Mas, no fundo, no fundo, tenho cá minhas dúvidas se nos sobejam motivos para regozijos. Muitos magistrados não conseguem perder o vezo de nos encarar como mero estorvo às suas funções de aplicar a lei ao caso concreto. Parece, principalmente na área criminal, que estamos sempre do lado errado.
A simples formulação de denúncia contra um cidadão tem o condão de estabelecer tremenda má vontade contra ele. E o princípio constitucional da presunção de inocência é jogado na lata do lixo, invertendo-se arbitrariamente o ônus da produção da prova. É lamentável e é triste, principalmente para a minha geração que se desenvolveu sob o tacão da ditadura militar e viu na redemocratização o renascimento de todas as esperanças.
Pior: vi no curso da semana uma decisão judicial que voltou a atiçar as brasas da fogueira em que se pretende imolar o Encontro das Águas. As elites das chamadas classes produtoras vão me ter como inimigo do progresso. Inundarão meu correio eletrônico com estatísticas e gráficos, todos demonstrativos de que, se novo porto não for construído naquele lugar, Manaus corre o risco de colapso. Serão milhões de toneladas de carga que, ali, poderão transitar com mais facilidade, otimizando a relação custo/benefício. Pode até ser. Não sou do ramo e não vou meter minha colher em panela que não conheço. Lembremo-nos do sapateiro e das sandálias. Mas sou amazonense. Nasci em Manaus e disso tenho um orgulho que ninguém me vai furtar.
Sou caboclo da floresta e da beira do rio e é nessa qualidade que posso e devo intervir no assunto. Por que, em nome de todas as entidades pagãs sagradas ou profanas, por que, repito, logo no Encontro das Águas? Não é possível, pelo menos para a minha limitada inteligência, que não exista outro lugar, nesse imenso caudal que rasga o continente, onde o “progresso” possa fincar suas raízes, estender seus tentáculos e dominar o ambiente. Não se está falando de poluir um pedaço qualquer de terra. Trata-se de violentar, com brutalidade inominável, um dos mais belos locais do planeta, um patrimônio da humanidade, que sempre exibimos com indisfarçável jactância.
Puro sentimentalismo, dirão os partidários do “progresso”. Que o seja. Mas, será que é proibido deixar aflorar o sentimento quando vemos a insensibilidade avançar traiçoeira e voraz contra o que nos é caro? Será que é vergonhoso lutar com unhas e dentes – e com sentimento – para preservar aquilo que aprendemos a amar?Se acontecerem ambas as coisas (proibição e vergonha), declaro-me em estado de desobediência civil e me deixo cobrir pelo manto da vergonha com que olho a passividade diante de tamanha e soez agressão. Como diria Fernando Pessoa, “tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”. Se me for possível, aqui estarei com as mãos e com o sentimento na defesa do Encontro das Águas.
(*) É professor aposentado da Faculdade de Direito da UFAM, advogado criminalista e articulista do Diário do Amazonas.
Fonte: http://www.blogdafloresta.com/
2 comentários:
ALERTA!!!
O projeto de INTERNACIONALIZAÇÃO da AMAZÔNIA é o sonho maior desses picaretas e tem como MARCO ZERO o nosso ENCONTRO DAS ÁGUAS. Toda essa armação é articulada pela CNBB e a Soka Gakkai Internacional (BSGI).
Se não fizermos nada, nossos netos terão a nacionalidade japonesa e a nossa bandeira será branca com uma "bola" (que só Ademir Ramos pega) vermelha e gorda no centro.
Arigatô
Saionará
É melhor internacionalizar do que entregar de bandeija o nosso encontro de rios a brasileiros tão medíocres e sem noção. Vão ser burros assim na bica (coitadinhos dos burrinhos). De anônimo para anônimo.
Postar um comentário