sábado, 6 de agosto de 2011

MANAUS SOFRE DOIS GOLPES FATAIS

Márcio Souza (*)

A cidade sofreu esta semana mais dois ataques de seus inimigos. Um juiz federal do Amazonas, ultrapassando a própria competência tentou anular o Tombamento do Encontro das Águas, ato privativo do Presidente da República. E na mesma orquestra desafinada, o IPAAM – instituto do Patrimônio Ambiental do Amazonas, órgão estadual que deveria se preocupar com a preservação e proteção de nossa herança paisagística, abriu as pernas para os arrivistas que decidiram construir um porto num dos mais especiais espaços geográficos da cidade.

Vale lembrar que no governo passado dois secretários daquele órgão rodaram por se manifestarem contra o malfadado Porto das Lajes, mas o atual responsável preferiu atropelar a atividade fim do IPAAM a se posicionar pela subserviência aos interesses escusos que se escondem por traz do tal empreendimento.

Esta atitude covarde a inscrever no capítulo do opróbrio, quando se fizer a história da atual administração estadual. Que não pense que isto estará esquecido em 15 dias, esta indignidade, verdadeira traição aos interesses da cidade, será lembrada e relembrada pelos anos que se seguirão, e os nomes de todos os cúmplices inseridos no rol dos que lesaram Manaus. O mesmo vale para o tal do Monotrilho, onde também os interesses escusos querem atropelar o fato de que se trata de um veículo inadequado, frágil e custoso, para resolver o grave problema do transporte em Manaus.

E se o famigerado Porto das Lajes vai nos agredir em nome da ganância, o Monotrilho vai cravar um golpe de navalha profundo na face de nossa já sofrida capital. O centro histórico de Manaus, abandonado e decadente, terá a sua solução final com a passagem deste descalabro a quatro metros de altura. O que mais me impressiona é o silêncio da sociedade amazonense, especialmente dos estudantes.

Estes, aparentemente, só se mobilizam para manter a meia passagem nos coletivos, uma reivindicação justa, mas pequena demais para ser o único horizonte político de um segmento social historicamente comprometido com as boas causas.

Observando as figuras sinistras envolvidas nos dois ataques à integridade de nosso município, e fazendo uma ligação com o recente escândalo do Ministério dos Transportes, vemos que estes fatos se relacionam.

São ações nefastas contra os interesses do povo de Manaus, por arrivistas que aqui vieram dar os costados, aqui enriqueceram e jamais constituíram qualquer relação de respeito pela terra que os acolheu. Vieram para cá e se alimentaram do imediatismo mais comezinho, e só olham em volta com a visão da terra arrasada, do lucro fácil, de se dar bem a qualquer custo.

O curioso é que recebi a notícia do suposto “destombamento”, efeito de uma ação interposta pela Procuradoria do Estado, que diz não ter nenhuma relação com o Porto das Lajes (nenhum dos meus sete leitores acreditou nesta explicação), durante uma reunião no IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional. Achei uma ironia do destino, estar na Superintendência do IPHAN, onde o próprio superintendente local, indicado por um mini alienígena deputado estadual, deu demonstrações inequívocas de parcialidade no caso, sempre puxando a brasa para o caviar dos empresários.

O cara até tentou subornar o poeta Thiago de Mello, um dos paladinos do Encontro das Águas, com a oferta de uma edição de luxo de uma das obras do poeta. Logo para quem ele foi fazer isso! Aliás, neste momento o poeta está em Brasília, com encontro marcado com a ministra Ana de Hollanda, que é uma artista sensível, cultua e jamais tolerará que em sua gestão se abra tal precedência de “destombamento”.

A ousadia dessa gente não tem limites, e até posso explicar a convivência obsequiosa dos políticos amazonenses com esses predadores. A maioria dos que hoje ocupam cargos no executivo e legislativo, embora apóiem o governo, o fazem por fisiologismo. No fundo, continuam os mesmos que durante a negra noite da Ditadura Militar rondavam na Arena, subscrevendo todos os atos discricionários da época.

E esses empresários não carregam exatamente o DNA da Democracia, e assim com seus políticos de cabresto, também se firmaram no arbítrio, fazendo suas negociatas à sombra da censura e da repressão.

Acontece que hoje há liberdade de opinião e a censura acabou. Suas ações nefastas são logo postas à opinião pública. E esta é a nossa arma. A guerra não acabou.

(*) É do Amazonas, escritor, dramaturgo e articulista de a Crítica.

Um comentário:

Anônimo disse...

É Marcio Sousa ninguem se manifesta porque Manaus é um lugar de pouca cidadania!Os estudantes não querem nem ouvir falar de uma outra matriz econômica para o Amazonas que não seja a tal zona franca e tudo que se referea ela como o tal do porto das lajes, que irá beneficiar principalmente as empresas do distrito. Quando será que vão acordar?