terça-feira, 30 de agosto de 2011

O ENCONTRO DAS ÁGUAS É DO POVO

Valter Calheiros (*)

Tomar banho nas águas negras do rio, jogar futebol na praia, pescar jaraqui, soltar pipas, nadar, remar, fazer castelos de areia, estar com os amigos e jogar conversa fora, olhar a natureza, atar a rede e curtir a sombra das arvores e ouvir o cantar dos pássaros. Esse é o legado e conseqüência de quem faz a opção pelo respeito à natureza no entorno do encontro das águas. Nestas paragens registram-se a presença de crianças, jovens e adultos aproveitando o domingo de sol e a belíssima paisagem.

Neste ambiente tão querido por nosso povo, fenômeno natural, cartão postal da Amazônia, local de mistérios que a natureza proporciona a humanidade, em poucos dias com o avançar da vazante dos rios Negro e Solimões surgirá a poucos metros da pequena praia o exuberante Sítio Arqueológico das Lajes, lugar que podemos considerar uma grande sala de aula a céu aberto!

Em novembro do ano passado, em plena seca dos nossos rios, o sítio arqueológico das Lajes nos proporcionou conhecer a história submersa com gravuras rupestres nas rochas que retratam rostos humanos gravados nas pedras e figuras geométricas datadas de 3 mil a 7 mil anos atrás. Segundo o professor Eduardo Góes Neves, presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira, a descoberta das gravuras é uma grande descoberta científica.

Em nossas andanças fotografando as várias paisagens que a natureza nos proporciona no entorno do encontro das águas, conversando com pescadores, canoeiros, ribeirinhos e turistas, nos vem a grata sensação de que podemos reter as belas imagens e sons em nossa cabeça e podemos ampliar nossas idéias sobre o que vale a pena olhar e que esse ambiente Amazônico faz parte de um todo que é real e quisera eterno!

Registrar imagens do Encontro das Águas e de seu entorno é dar a cada momento a eterna importância, é comprometer-se em sua defesa, é valorizar o homem que por ele trafega como sua estrada d’água! É assumir compromisso de lutar em favor da homologação do tombamento do encontro das águas. É se indispor com os poderosos do dinheiro e da política em favor do caboclo que tradicionalmente habita ilhas e lagos, desde o Marapatá, Mauazinho, Ilha do Xiborena, Catalão, Lago do Aleixo, Colônia Antonio Aleixo, Igarapé da Lenha, Igarapé da Castanheira, Puraquequara, Terra Nova, Careiro Castanho, Lago dos Reis, Jatuarana, e tantas outras paragens que incondicionalmente preservam este pedaço do planeta como um ato ao mesmo tempo humano, social, mágico, transcendente e divino!

Nesta luta sem tempo determinado para terminar, exaltamos os nobres e incansáveis amigos do MORHAN (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase), que incansavelmente lutam contra o poder econômico e político que ainda não descobriram que a beleza do Lago do Aleixo e do Encontro das Águas está na relação humana que o espaço natural proporciona a todos!

NÃO AO PORTO NAS LAJES!
PELA IMEDIATA HOMOLOGAÇÃO DO TOMBAMENTO DO ENCONTRO DAS ÁGUAS!

(*) É educador, pesquisador e fotógrafo do Movimento S.O.S Encontro das Águas. Pós-graduando em Pesquisa e Ação Social na Faculdade Táhirih.

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