A ESPERANÇA É A ÚLTIMA
QUE MORRE
Ellza Souza (*)
A festa de São Francisco para a Juventude na Fazenda
Esperança que fica na BR-174, foi bastante concorrida com muitas atrações,
orações, boas intenções e atitudes positivas. Um arraial animado com barracas
de guloseimas, pescaria e venda de produtos como ovos caipiras, biscoitos,
sabão artesanal, camisetas, etc. No palco apresentação de música, teatro e na
capela muita gente assistia a missa.
O lugar é bonito e
bem cuidado pelos jovens que procuram a instituição para se livrar de uma
dependência química que tenta destruir seus sonhos e suas vidas
transformando-os em joguetes abandonados e arrasados por drogas feitas somente
para exterminar com os seres humanos principalmente os mais jovens que buscam
novas experiencias sem medir as consequencias. Como o jovem primeiro faz e
depois pensa cai como um patinho nas garras dessa prisão que é a
dependencia. E aí fica difícil sair pois o tratamento é caro e os
governos não estão interessados em validar uma política pública nessa área que
seria em primeiro lugar uma educação de qualidade englobando conhecimento,
lazer, cultura. Os que passasem por essa “triagem” e assim mesmo buscassem
qualquer tipo de substância ilícitas ou lícitas como o álcool e o cigarro, aí o
governo teria os lugares apropriados para tratar dignamente quem quisesse se
libertar do que se tornou um vício.
Mesmo a sociedade
se fazendo de cega está na cara o aumento dos jovens envolvidos com drogas cada
vez mais esquisitas e mortais. Qualquer caso de violência extrema quase sempre
é movido por alguém que mata e esfola para conseguir a tal droga que o levará à
sua própria morte sem nunca ter vivido satisfatoriamente nessa vida tão
efêmera. Se a nossa vida é curta temos que vive-la intensamente bem sem colocar
o consumismo como primeiro passo da existencia em grupo. Antes de ter
precisamos zelar pelo nosso ser.
Jander, 27 anos,
sorriso bonito, cara de felicidade, estava circulando na festa da Fazenda
quando o abordei para lhe fazer algumas perguntas. Está ali há 7 meses. Não tem
profissão e estudou até a 6ª. série do ensino fundamental. Seu pai, traficante,
abandonou a família e aos 15 anos entrou de cabeça no mundo das drogas. Usou
maconha, pasta de cocaína, álcool. A mãe lhe deu todo o carinho e amor que ele
precisava mas o amor de um pai lhe fez muita falta na sua vida. “Não conhecia a
Fazenda Esperança e a conheci através de programa de televisão”. Aprendeu
durante esses meses todos a lidar com o amor próprio, sua dignidade, auto
estima e está “feliz” por reconhecer o valor da palavra amor e de Jesus.
Jander mora na
zona leste de Manaus e vai ficar um ano na Fazenda Esperança. Trabalha na Casa
São José que cuida da limpeza da fazenda e da roçagem. No local os jovens
cuidam de tudo e fazem roça, jardinagem, pão e biscoito, artesanato e outras
atividades que o tornam parte do ambiente em que vivem provisoriamente até se
sentirem firmes para cuidar de suas próprias vidas.
Como Jander muitos
outros já se preparam para sair fortalecidos e prontos para enfrentar o mundo
de cara limpa e conscientes de seu papel na sociedade. O jovem só tem a
agradecer à sua mãe que nunca desistiu de lutar por ele, apesar de ter mais
cinco filhos pra criar e um marido que nada construiu apenas desperdiçou a
chance na terra de fazer o bem, à sua família e ao próximo, como Jesus nos
ensinou.
(*) É escritora,
jornalista e articulista do NCPAM/UFAM
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