terça-feira, 23 de outubro de 2012


SALVEM MANAUS, INCULTA E BELA

Ellza Souza (*)

Manaus é uma bela cidade pela exuberância de suas árvores como as castanheiras, o pequiá, as mangueiras. São muitas mais porém essas me encantaram esses dias. O (a) pequiá me surpreendeu com o tamanho de uma parte de seu tronco que se encontra na Central de Artesanato Branco e Silva (calculei cerca de um metro de diâmetro ou mais). Fiquei imaginando o tamanho daquela árvore na floresta, em sua plenitude. Quem e para que a derrubaram, eis a questão. As castanheiras são símbolos de vida e resistem na cidade mesmo com o ataque desvairado sobre elas. As mangueiras remanescentes estão abarrotadas de frutos e por isso os periquitos voltaram aos bandos para as palmeiras e mangueiras dos condomínios de luxo da avenida Efigênio Sales. No final da tarde a festa é grande e o barulho dos verdinhos incomodam os delicados ouvidos das madames que certa vez colocaram redes nas árvores para impedir o farfalhar da natureza e seus seres esvoaçantes.

Manaus, tirando a natureza não fica quase nada. Fora dois shopings meia boca, uma dúzia de bares, dois “super”-mercados, alguns pontos para saborear o jaraqui, centenas de barracas nas ruas, os prédios históricos em ruínas, uma reserva do INPA, duas livrarias, alguns sebos, uma biblioteca e um mercadão fechados para reforma há alguns anos, sobram algumas árvores com os dias contados pelo avanço das construtoras que fazem moradias-poleiros talvez para os periquitos, sem direito a nenhum galhinho de árvore.  Sobram também alguns igarapés poluídos e o encontro de dois rios, Negro e Solimões que, juntos, formam o maior rio do mundo, o Amazonas. O chamado Encontro das Águas, lugar de tão rara beleza que nem foi ainda tão  estudado e já sofre com o avanço de ações humanas mal planejadas. Ali, rios, pedras e sedimentos de suas margens formam um verdadeiro diário do que somos e  do que fomos. Através desses estudos poderemos planejar o que seremos, almejando um futuro melhor para todos.

Me chocou ver as fotos tiradas recentemente pelo Válter Calheiros que está sempre registrando os cenários e os desmandos que assolam o meio ambiente amazonense. O fotógrafo atento mostrou o descaso e a emporcalhação que costumamos fazer com nosso lindo rio, o Negro ou qualquer um que mate a nossa sede. Nas antigas pedras conhecidas como Lajes, que trazem as marcas de nossa história, nas águas e em meio aos resquícios de vegetação no mirante natural da Embratel, algum “letrado” jogou livros, documentos, cadernos, papeis em geral e outros objetos descartáveis no belo mas indefeso (será?) local. “O rio leva tudo”, costumam alegar alguns adeptos dessa prática.

Aos 343 anos, Manaus e seus moradores já deveriam estar mais equilibrados e educados. Pensando o que é melhor para a coletividade, para a natureza e não apenas o que é melhor para os governantes. Ao darmos o nosso voto a um candidato desqualificado estamos lhe dando um prêmio e pensando apenas nele, esquecendo as nossas necessidades coletivas. Se o governo for decente acontece um casamento perfeito entre a sociedade e os políticos que têm a obrigação de cumprir o seu papel de organizar a vida de todos, sem interesses escusos e pessoais. No mínimo precisamos nos brindar com um presente: o de não jogar lixo nos rios e igarapés. E claro ficar de olho nas ações dos governantes evitando os desvios dos recursos públicos que sabemos que existem mas não sabemos para onde vão.

Aos manauaras, parabéns e muito juizo no trato com a natureza que Deus nos deu. Muitos anos-luz de vida para o Encontro das Águas, as Lajes, para as castanheiras, pequiás, mangueiras, periquitos e afins. Que viva a Amazônia para o nosso próprio bem e de toda a nossa futura história.

(*) É escritora, jornalista e articulsita do NCPAM/UFAM.

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