SALVEM MANAUS, INCULTA E
BELA
Ellza Souza (*)
Manaus é uma bela
cidade pela exuberância de suas árvores como as castanheiras, o pequiá, as
mangueiras. São muitas mais porém essas me encantaram esses dias. O (a) pequiá
me surpreendeu com o tamanho de uma parte de seu tronco que se encontra na
Central de Artesanato Branco e Silva (calculei cerca de um metro de diâmetro ou
mais). Fiquei imaginando o tamanho daquela árvore na floresta, em sua
plenitude. Quem e para que a derrubaram, eis a questão. As castanheiras são
símbolos de vida e resistem na cidade mesmo com o ataque desvairado sobre elas.
As mangueiras remanescentes estão abarrotadas de frutos e por isso os
periquitos voltaram aos bandos para as palmeiras e mangueiras dos condomínios
de luxo da avenida Efigênio Sales. No final da tarde a festa é grande e o
barulho dos verdinhos incomodam os delicados ouvidos das madames que certa vez
colocaram redes nas árvores para impedir o farfalhar da natureza e seus seres
esvoaçantes.
Manaus, tirando a natureza não fica quase nada.
Fora dois shopings meia boca, uma dúzia de bares, dois “super”-mercados, alguns
pontos para saborear o jaraqui, centenas de barracas nas ruas, os prédios
históricos em ruínas, uma reserva do INPA, duas livrarias, alguns sebos, uma
biblioteca e um mercadão fechados para reforma há alguns anos, sobram algumas
árvores com os dias contados pelo avanço das construtoras que fazem
moradias-poleiros talvez para os periquitos, sem direito a nenhum galhinho de
árvore. Sobram também alguns igarapés poluídos e o encontro de dois
rios, Negro e Solimões que, juntos, formam o maior rio do mundo, o Amazonas. O
chamado Encontro das Águas, lugar de tão rara beleza que nem foi
ainda tão estudado e já sofre com o avanço de ações humanas mal
planejadas. Ali, rios, pedras e sedimentos de suas margens formam um verdadeiro
diário do que somos e do que fomos. Através desses estudos poderemos
planejar o que seremos, almejando um futuro melhor para todos.
Me chocou ver as fotos tiradas recentemente pelo
Válter Calheiros que está sempre registrando os cenários e os desmandos que
assolam o meio ambiente amazonense. O fotógrafo atento mostrou o descaso e a
emporcalhação que costumamos fazer com nosso lindo rio, o Negro ou qualquer um
que mate a nossa sede. Nas antigas pedras conhecidas como Lajes, que trazem as
marcas de nossa história, nas águas e em meio aos resquícios de vegetação no
mirante natural da Embratel, algum “letrado” jogou livros, documentos,
cadernos, papeis em geral e outros objetos descartáveis no belo mas indefeso
(será?) local. “O rio leva tudo”, costumam alegar alguns adeptos dessa prática.
Aos 343 anos, Manaus e seus moradores já deveriam
estar mais equilibrados e educados. Pensando o que é melhor para a
coletividade, para a natureza e não apenas o que é melhor para os governantes.
Ao darmos o nosso voto a um candidato desqualificado estamos lhe dando um
prêmio e pensando apenas nele, esquecendo as nossas necessidades
coletivas. Se o governo for decente acontece um casamento perfeito entre a
sociedade e os políticos que têm a obrigação de cumprir o seu papel de
organizar a vida de todos, sem interesses escusos e pessoais. No mínimo
precisamos nos brindar com um presente: o de não jogar lixo nos rios e
igarapés. E claro ficar de olho nas ações dos governantes evitando os desvios
dos recursos públicos que sabemos que existem mas não sabemos para onde vão.
Aos manauaras, parabéns e muito juizo no trato com
a natureza que Deus nos deu. Muitos anos-luz de vida para o Encontro das Águas,
as Lajes, para as castanheiras, pequiás, mangueiras, periquitos e afins. Que
viva a Amazônia para o nosso próprio bem e de toda a nossa futura história.
(*) É escritora, jornalista e articulsita do
NCPAM/UFAM.
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