CANDIDATOS PROMETEM OS MUNDOS E NÃO DIZEM DE ONDE
VÃO TIRAR OS FUNDOS
Ellza Souza (*)
O debate na TV dos
candidatos a prefeitura de Manaus, aliás como qualquer debate político no
Brasil, foi metódico e sem graça, assim sendo pela falta de compostura de
alguns prefeituráveis que não sabem ainda o que é fazer uma campanha limpa e
civilizada, não conseguindo segurar seus ímpetos de derrubar o opositor ao ver
uma câmera na sua frente. Aí se criam regras amordaçadoras demais que
impedem um diálgo de fato democrático e esclarecedor.
No calor da noite
e do debate teve candidato para todos os gostos duvidosos. Promessas
não faltaram. Ouvi de um deles a promessa de governar com um pé no céu e outro
no alagado, numa abrangência que até Deus duvida ser possível. Apelos a Deus
todo poderoso não faltaram. Olhinhos caridosos e de grande complacência também
não. Se todas as promessas feitas aos “humildes” forem cumpridas, a cidade será
o melhor dos mundos para se viver. E eu já quero passar para essa categoria
(seja lá o que for isso) tendo em vista que se ganhar um desses candidatos
poderei me beneficiar de água, luz, transporte público, lazer, educação,
cultura, saúde, entre outras coisas.
O candidato do
ramo da construção civil explicou que “não podemos ter terrenos baldios que
podem juntar marginais”. Machado nas árvores e tome moradias que o trabalhador
não pode pagar. Dentre suas promessas esse candidato afirmou: “Vamos manter a
carreta da mulher” e o “Vai e volta com saúde”. “Vamos revitalizar as mini
vilas olimpicas nos bairros”. “Teatro também é lazer”. E indignado reclamou
pelo povo: “100% de taxa de esgoto cobrado pela nova empresa é um absurdo”.
“Vou fazer 5 mil casas por ano”. Já estou na fila para pegar uma dessas.
Um outro candidato
que já foi prefeito não faz muito tempo faz questão de choramingar que a
domingueira é dele e a cidade “era limpa e organizada na minha época”.
Realmente não pagar aos domingos não era favor nenhum já que o serviço é
péssimo durante a semana toda. Agora limpa e organizada faz tempo que a cidade
está longe disso. Fez questão de citar sua prefeerência pelos “mais humildes” e
atento à modernidade prometeu “um computador por aluno”. Preciso voltar aos
bancos escolares pois essa matéria é nova para mim. Na despedida reforçou a sua
tese de um computador por aluno e mandou ver: “É você, a urna e Deus”.
Um outro candidato
mais encrenqueiro soltou: “Vou ajeitar essa coisa” (se referindo ao leite das
crianças). E aos borbotões foi prometendo: “Vamos dobrar o bolsa-família”. “Vou
dar o dinheiro e voce decide em que vai gastar”. E olhando no olho da câmera
disse: “Sempre falei a verdade meu amigo”. “Eles não vão no alagado, não
conhecem o seu problema”. Em relação à unica candidatura feminina afirmou que
ela “não é profunda conhecedora das pessoas humildes da minha cidade”, trazendo
para si esse conhecimento altruísta. E como último suspiro apelou: “O novo sou
eu”. “Confie em Deus, confie em Jesus”. Só não disse confie em mim. E pai
extremado mandou “Filho, um beijo”.
O
candidato-apresentador mencionou a diferença entre propostas e promessas e em
relação a falta de água na zona leste se referiu às pessoas que ainda precisam
carregar latas dágua na cabeça como nos velhos tempos quando ainda não existia
canos, tubos e conexões de uma marca famosa. E como se tivesse descoberto a
pólvora naquele instante disse: “Vote no novo” e euforicamente ao se referir à
pavimentação da cidade: “Vamos combater o desperdício e a corrupção”. Prometeu
o “armazém-popular” e ao se despedir deu um furo de reportagem que me levou às
lágrimas: “Hoje recebi uma noticia que me encantou – vou ser pai pela quinta
vez e isso me encheu de alegria”.
A candidata se
esforçou mas não brilhou. A preocupação era elevar o governo do ex-presidente
Lula e convencer os eleitores quem agride quem. Isso pelo fato de há alguns
dias ter havido uma história mal contada de cuspe ou ovo lançado em seu rosto.
Seja lá o que foi não era hora para tal assunto pois coisas relevantes
precisavam ser discutidas e essas desavenças deveriam ficar para o tribunal de
“pequenas causas”. Olho no olho da câmera disse falar como mulher, como
mãe. “O governo anterior diminuiu o salário”. E prometeu: o “Prosamim
municipal”. “Dez mil casas populares”. “Mais de cem creches”. O atual prefeito
se é que existe prometeu mil e fez uma, talvez com esse número mais modesto as
mães que trabalham possam ter um lugar decente para seus filhos pequenos.
Reiteradas vezes a candidata mencionou o ex presidente “que apoiei”
e que veio a Manaus trazer reforço e dizer que na outra encarnação nasceu por
essas bandas.
O discurso não
nasceu pra todos mas para o candidato diplomata sim. Prometeu como todos mas
coerentemente falou em “gestão e organização da cidade” em relação aos camelôs
do centro. Falou em “prioridades verdadeiras, contas expostas, administração
financeira justa na forma de cobrar recursos”. Considera “uma balela se atrelar
ao governo federal” mas acha importante a união nos projetos de interesse da
cidade. Já viveu uma experiência à frente da prefeitura e lembrou que: “Jamais
fiz pavimentação sem fazer drenagem profunda”. E coerente frisou: “Vou continuar
fazendo obras de infra-estrutura”. “Meu governo não se omitirá” disse em
relação ao tráfico de drogas. Segundo ele essa prática nociva não pode
acontecer em porta de escola e vai lutar para tirar os jovens das mãos dos
traficantes. “Queremos os jovens nas igrejas, nas escolas...” E digo mais
queremos os jovens nas quadras de esportes, nos teatros, nas bibliotecas, nos
liceus de oficios, na música e na arte. O candidato considera o monotrilho
inviável e caro pois a passagem passaria dos 7 reais. Para o transporte
coletivo na cidade acha o BRT (Bus Rapid Transit) uma alternativa mais coerente
e barata. A briga vai ser feia pois temos todo tipo de problema urbano haja
visto que a bagunça há muito se instalou por aqui. Mesmo assim prometeu “acabar
com as máfias que exploram os taxistas”. O candidato afirmou que, ele e o vice,
farão “um governo técnico mas sensível” concluindo com palavras de otimismo:
“Vamos para a vitória, não só minha mas de todo o povo de Manaus”.
Abençoadas sejam
as boas e verdadeiras intenções. Que os candidatos primeiro se ajoelhem pedindo
perdão pelo uso do nome de Deus em vão. Depois pela manipulação dos pobres,
humildes e enjeitados prometendo coisas que nunca vão lhes dar como a dignidade
e qualidade de vida com educação, saúde, transporte, merenda escolar,
segurança, cultura e se der, trazer o nosso mercadão de volta. Isso todos
merecem e não apenas uns e outros como apregoam alguns políticos que são
capazes até de beijar e abraçar para conseguir votos a troco de nada.
(*) É
escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário