sexta-feira, 5 de outubro de 2012


CANDIDATOS PROMETEM OS MUNDOS E NÃO DIZEM DE ONDE VÃO TIRAR OS FUNDOS

Ellza Souza (*)

O debate na TV dos candidatos a prefeitura de Manaus, aliás como qualquer debate político no Brasil, foi metódico e sem graça, assim sendo pela falta de compostura de alguns prefeituráveis que não sabem ainda o que é fazer uma campanha limpa e civilizada, não conseguindo segurar seus ímpetos de derrubar o opositor ao ver uma câmera na sua frente. Aí se criam regras amordaçadoras demais que impedem um diálgo de fato democrático e esclarecedor.

No calor da noite e do debate teve candidato para todos os gostos duvidosos.  Promessas não faltaram. Ouvi de um deles a promessa de governar com um pé no céu e outro no alagado, numa abrangência que até Deus duvida ser possível. Apelos a Deus todo poderoso não faltaram. Olhinhos caridosos e de grande complacência também não. Se todas as promessas feitas aos “humildes” forem cumpridas, a cidade será o melhor dos mundos para se viver. E eu já quero passar para essa categoria (seja lá o que for isso) tendo em vista que se ganhar um desses candidatos poderei me beneficiar de água, luz, transporte público, lazer, educação, cultura, saúde, entre outras coisas.

O candidato do ramo da construção civil explicou que “não podemos ter terrenos baldios que podem juntar marginais”. Machado nas árvores e tome moradias que o trabalhador não pode pagar. Dentre suas promessas esse candidato afirmou: “Vamos manter a carreta da mulher” e o “Vai e volta com saúde”. “Vamos revitalizar as mini vilas olimpicas nos bairros”. “Teatro também é lazer”. E indignado reclamou pelo povo: “100% de taxa de esgoto cobrado pela nova empresa é um absurdo”. “Vou fazer 5 mil casas por ano”. Já estou na fila para pegar uma dessas.

Um outro candidato que já foi prefeito não faz muito tempo faz questão de choramingar que a domingueira é dele e a cidade “era limpa e organizada na minha época”. Realmente não pagar aos domingos não era favor nenhum já que o serviço é péssimo durante a semana toda. Agora limpa e organizada faz tempo que a cidade está longe disso. Fez questão de citar sua prefeerência pelos “mais humildes” e atento à modernidade prometeu “um computador por aluno”. Preciso voltar aos bancos escolares pois essa matéria é nova para mim. Na despedida reforçou a sua tese de um computador por aluno e mandou ver: “É você, a urna e Deus”.

Um outro candidato mais encrenqueiro soltou: “Vou ajeitar essa coisa” (se referindo ao leite das crianças). E aos borbotões foi prometendo: “Vamos dobrar o bolsa-família”. “Vou dar o dinheiro e voce decide em que vai gastar”. E olhando no olho da câmera disse: “Sempre falei a verdade meu amigo”. “Eles não vão no alagado, não conhecem o seu problema”. Em relação à unica candidatura feminina afirmou que ela “não é profunda conhecedora das pessoas humildes da minha cidade”, trazendo para si esse conhecimento altruísta. E como último suspiro apelou: “O novo sou eu”. “Confie em Deus, confie em Jesus”. Só não disse confie em mim. E pai extremado mandou “Filho, um beijo”.

O candidato-apresentador mencionou a diferença entre propostas e promessas e em relação a falta de água na zona leste se referiu às pessoas que ainda precisam carregar latas dágua na cabeça como nos velhos tempos quando ainda não existia canos, tubos e conexões de uma marca famosa. E como se tivesse descoberto a pólvora naquele instante disse: “Vote no novo” e euforicamente ao se referir à pavimentação da cidade: “Vamos combater o desperdício e a corrupção”. Prometeu o “armazém-popular” e ao se despedir deu um furo de reportagem que me levou às lágrimas: “Hoje recebi uma noticia que me encantou – vou ser pai pela quinta vez e isso me encheu de alegria”.

A candidata se esforçou mas não brilhou. A preocupação era elevar o governo do ex-presidente Lula e convencer os eleitores quem agride quem. Isso pelo fato de há alguns dias ter havido uma história mal contada de cuspe ou ovo lançado em seu rosto. Seja lá o que foi não era hora para tal assunto pois coisas relevantes precisavam ser discutidas e essas desavenças deveriam ficar para o tribunal de “pequenas causas”. Olho no olho da câmera  disse falar como mulher, como mãe. “O governo anterior diminuiu o salário”. E prometeu: o “Prosamim municipal”. “Dez mil casas populares”. “Mais de cem creches”. O atual prefeito se é que existe prometeu mil e fez uma, talvez com esse número mais modesto as mães que trabalham possam ter um lugar decente para seus filhos pequenos. Reiteradas vezes a candidata mencionou o ex presidente “que  apoiei” e que veio a Manaus trazer reforço e dizer que na outra encarnação nasceu por essas bandas.

O discurso não nasceu pra todos mas para o candidato diplomata sim. Prometeu como todos mas coerentemente falou em “gestão e organização da cidade” em relação aos camelôs do centro. Falou em “prioridades verdadeiras, contas expostas, administração financeira justa na forma de cobrar recursos”. Considera “uma balela se atrelar ao governo federal” mas acha importante a união nos projetos de interesse da cidade. Já viveu uma experiência à frente da prefeitura e lembrou que: “Jamais fiz pavimentação sem fazer drenagem profunda”. E coerente frisou: “Vou continuar fazendo obras de infra-estrutura”. “Meu governo não se omitirá” disse em relação ao tráfico de drogas. Segundo ele essa prática nociva não pode acontecer em porta de escola e vai lutar para tirar os jovens das mãos dos traficantes. “Queremos os jovens nas igrejas, nas escolas...” E digo mais queremos os jovens nas quadras de esportes, nos teatros, nas bibliotecas, nos liceus de oficios, na música e na arte. O candidato considera o monotrilho inviável e caro pois a passagem passaria dos 7 reais. Para o transporte coletivo na cidade acha o BRT (Bus Rapid Transit) uma alternativa mais coerente e barata. A briga vai ser feia pois temos todo tipo de problema urbano haja visto que a bagunça há muito se instalou por aqui. Mesmo assim prometeu “acabar com as máfias que exploram os taxistas”. O candidato afirmou que, ele e o vice, farão “um governo técnico mas sensível” concluindo com palavras de otimismo: “Vamos para a vitória, não só minha mas de todo o povo de Manaus”.

Abençoadas sejam as boas e verdadeiras intenções. Que os candidatos primeiro se ajoelhem pedindo perdão pelo uso do nome de Deus em vão. Depois pela manipulação dos pobres, humildes e enjeitados prometendo coisas que nunca vão lhes dar como a dignidade e qualidade de vida com educação, saúde, transporte, merenda escolar, segurança, cultura e se der, trazer o nosso mercadão de volta. Isso todos merecem e não apenas uns e outros como apregoam alguns políticos que  são capazes até de beijar e abraçar para conseguir votos a troco de nada.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.

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