DIA DA INSANIDADE MENTAL
Ellza Souza (*)
Dizem por aí que de
poeta e louco todos nós temos um pouco. Verdade que muita gente se diz poeta
mas daí a ser vai uma grande distância. Meio louco isso. É a mais pura verdade,
também, que temos uma tênue separação entre a sanidade e a loucura. Uns meio lesos,
outros desligados, outros prejudicados pelas drogas, alguns prejudicados pela
vida e poucos são os doidos varridos como dizem popularmente sobre os
enjeitados e abandonados pela sociedade em hospícios e hospitais. Diferente do
dia das crianças, dia das mães, dia dos pais, dia do homem, dia da mulher, dia
de tudo o que proporciona lucro, o dia do insano não é comemorado com
propagandas ou com uma mão estendida porque não vende, não se dá presente ao
doente mental. Aliás fora os internados em más condições no Hospital Eduardo
Ribeiro, todo o resto que se submetiam a tratamento nesse único lugar para
tanto, foi pulverizado sabe-se lá pra onde. Eram pessoas que flutuavam nessa
fina separação entre a sanidade e a loucura e lutavam com seus familiares implorando
um atendimento médico (tá certo que precário) e terapêutico que os mantinha com
uma certa lucidez e qualidade de vida.
O Hospital Eduardo
Ribeiro, mesmo sendo considerado um hospício ou casa de loucos, fica num dos
lugares mais belos e históricos da cidade e dá pena vê-lo esvaziado e esquecido
por todos. Já foi mais lindo o lugar, no tempo dos buritizais, mangueiras,
laranjais, bambus e outras grandes árvores. Restaram enfeitando o antigo prédio
os taperebazeiros que se destacam do verde das árvores e da grama
com os seus pequenos frutos alaranjados muito apreciados por aquelas pessoas
que ficavam por ali à espera de um atendimento demorado.
Não seria mais
razoável melhorar o atendimento, revitalizar o prédio e dar vida nova aquelas
pessoas que se bem tratadas poderiam somar em nossa sociedade dita
“normal” e vir para o lado de cá da sanidade e da lucidez? Não entendo bem esse
tipo de atitude de quem está no poder. Poderoso só para pisar, destruir e
manter uma casta de desvalidos, desgraçados que não podem mostrar a sua revolta
além do seu grito desesperado de quem precisa de amparo, de amor, de sanidade
para sobreviver entre os enlouquecidos pela ganância, pela má política e pelo
descaso social.
Não vejo o que
comemorar no dia mundial da saúde mental. Mas podemos sim ter esperança de dias
melhores para os que necessitam de tratamento, para os que vivem internados,
para os familiares desses doentes e para a sociedade que precisa enxergar os
feios, os sujos, os desabrigados, os mal vestidos, as crianças fora da escola,
os loucos. Às mulheres uma reflexão: só cabelo na chapa pode fritar os
neurônios. E aos homens um alerta: não tenham vergonha de procurar ajuda
médica. Nunca esqueçam da fragilidade que separa um lado do outro.
No mês de outubro,
dia 10, quando celebrou-se no papel o dia do insano, desejasse esperança a
todos e que Deus nos salve dos loucos de verdade, dos loucos pelo poder.
(*) É escritora,
jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.
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