Quando as bruxas
enganam o eleitor
Ademir Ramos (*)
Os intérpretes da sociedade valem-se dos
variados recursos para ler, compreender e definir os fatos sociais, analisando seus
determinantes conceituais para acreditar que determinados fenômenos são
verdadeiros quando se trata da política e suas relações de poder. Mas, somente isso
ainda não basta para creditar aos fatos a objetividade das análises. É preciso
conferir legitimidade contextualizando-os em seu tempo e na teia de relações que
foram construídos, quebrando dessa feita o encantamento, em defesa do realismo
quando a disputa se faz por meio eleitoral.
Ao contrário, Shakespeare, em Macbeth, na tragédia do poder,
faz das bruxas as videntes conselheiras capazes de seduzir o protagonista
principal a acreditar que a sua versão é a única verdade e nada, absolutamente
nada, fará desistir da voracidade sangrenta de matar, vencer e mandar. Na
conjuntura eleitoral, onde o poder disputa-se no voto, as bruxas dominam a cena
e querem porque querem contagiar também o eleitor fazendo acreditar que o seu feitiço
é o bálsamo para resolver todos os problema da cidade e que somente elas em legião
ou isoladamente são capazes de apresentar soluções plausíveis para as comunas
que sofrem do abandono institucional.
A bruxaria moderna vale-se do processo de massificação para
reduzir a compreensão do eleitor quanto às candidaturas em pauta. Esse fenômeno,
isoladamente ganha proporções fantásticas divorciando o eleitor de sua
realidade histórica, redirecionando para a fogueira da vaidade, arrogância e petulância,
promovendo o vale tudo para apropriação do poder popular.
O fato é que as bruxas e os fantasmas são criados para amedrontar
o povo, fazendo crer piamente que sem eles e suas representações mágicas o povo
não avança. As bruxas em legião ou isoladamente disfarçadas entre os seus geram a discórdia em nome da mudança ideal para satisfazer a voracidade dos
seus seguidores abocanhando a melhor parte para a satisfação de seus apetites,
deixando ao povo as sobras do banquete se assim aceitarem a condição de coisa
em vez de se afirmar como cidadão eleitor na forma plena do Estado de Direito
Democrático, condenando a bruxaria dos fantasmas palacianos à condenação
advinda das urnas.
(*) É professor, antropólogo e coordenador do projeto
Jaraqui e o NCPAM/UFAM.
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