segunda-feira, 1 de junho de 2009

ENCHENTE NO AMAZONAS E A IMPRENSA



Cineide Cohen de Almeida*

O texto resulta de algumas reflexões acerca da temática das enchentes na região amazônica abordada por um jornal da capital amazonense. A metodologia utilizada na elaboração do trabalho concerne na analise de jornais impressos no período referente ao final do mês de abril até o final do mês de maio ano 2009. Na seqüência foi observado o Projeto Plurianual, PPA-2008-2011 do governo do estado, na intenção de se verificar de que maneira as políticas publicas do estado poderiam está em consonância com a questão das enchentes.

De acordo com Laffer (1997) planejamento consiste em apontar o caminho mais racional do desenvolvimento, dada as características da economia [...] assegurando o equilíbrio entre os níveis de produção e a demanda de bens dada à oferta de fatores de produção de forma a atingir certos objetivos básicos. (Lafer, 1997:17-20).

O primeiro ponto a ser apresentado refere-se à temática recorrente nas reportagens do jornal supracitado.

“[...] já está em fase de elaboração um esquema especial para as ruas do centro, caso as enchentes deste ano seja recorde” (Dantas, Gerson. jornal A critica, caderno cidades: C7, 26 de abril 2009).

Nessa reportagem, o autor faz referência a um possível plano a ser fomentado para uma eventual enchente na parte central da cidade de Manaus e suas possíveis conseqüências. Esse plano refere-se à questão do transporte urbano e dos trabalhadores autônomos que trabalham na área citada. Em seguida mostra uma reportagem com Valdemiro Pereira da Silva, engenheiro encarregado do serviço hidrográfico do porto, em relação à questão. Um ponto interessante a ser observado é que uma das possibilidades não descartada pelo engenheiro, infiltração via esgoto, será confirmada quase um mês depois, no dia 24 de maio de 2009.

O mesmo jornal faz a seguinte publicação “Prejuízos: chuva forte causa alagações no centro”.

[...] algumas pessoas achavam que a alagação é um dos reflexos da enchente [...] É que as águas pluviais estão escoando com menos intensidade devido ao represamento das galerias provocadas pela subida do rio negro, entretanto, a defesa civil confirma suspeitas e garantiu a alagação de ontem também é conseqüência da cheia. (A Critica: A7, 24 maio 2009).

Ainda na mesma data, o autor Emerson Quaresma faz referência também aos prós e contras das enchentes com outra reportagem: “Lucrando com as enchentes: os prós e contras”. O autor começa falando da cheia que afeta a área localizada no igarapé do bairro são Raimundo, e que por mais atinja muitas famílias de forma negativa, há exceções, de moradores da mesma área que acabam descobrindo uma alternativa de renda através da coleta do lixo encontrado nas águas da referida área. Faz referencia a questão de possíveis doenças causadas pelo acumulo de lixo nessas áreas.

No jornal do dia 11 de Maio, o jornalista Jonas Santos, faz referência a outras formas de prover renda no contexto das enchentes, como por exemplo, transporte de canoas ou ‘canoa taxi’ no valor de 0,25 centavos, bem como transporte de tabuas para vizinhos.

“Criatividade aliada às necessidades trazidas pela enchente traz renda extra para moradores” (Jornal A Critica, caderno Cidades, 11 de maio 2009)

Outra temática que aparece nessa matéria e em outras fazem referencia a programas sociais implementados pelo governo do estado e em nível federal, como o Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus-PROSAMIM. Pois, muitas das pessoas que são atingidas pelas enchentes, têm receio de sair das referidas áreas e perder o beneficio do programa. Colocando muitas das vezes, sua vida e de seus familiares em risco.

A outra matéria refere-se à Bolsa Família, onde moradores da área rural do estado reclamam pela demora do recebimento do beneficio:

“[...] apesar de cadastrado pelo governo do estado, as famílias do Paraná da Eva e Paraná da Simplicia, em Itacoatiara, reclamaram da falta informações sobre a ajuda prometida e, principalmente, da demora para chegar essa ajuda aos alagados” (jornal A Critica, caderno Cidades: C2, 03 de Maio 2009).

Os prejuízos na agricultura são noticiados: “como a região é área de várzea, todos os anos, os agricultores perdem as plantações com a cheia, mas esse ano subiu muito e rápido, causou prejuízo maiores” (idem).

No jornal do dia 04 de Maio, a contrapartida do estado em relação ao problema supracitado, vem do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas-IDAM e Secretaria de Estado da Produção Rural-SEPROR a ajuda a produtores rurais, onde as duas instituições afirmam a possibilidade de eliminar a divida de quem tem financiamento junto aos bancos e compensar quem não tem, mais perdeu seus produtos, bem como aluguel de balsas para abrigar o gado.

Ainda na mesma data e jornal o jornalista Jonas santos, faz referencia as ações implementadas pela defesa civil no município de Barreirinha:

“Construir abrigos provisórios nos distritos de terra preta e freguesia do Andirá foi a saída encontrada pela prefeitura para atenuar o sofrimento das famílias atingidas em Barreirinha [...] a prefeitura fretou barcos para os transportes das famílias [...] suspensão das atividades escolares.”

Nesse contexto a ajuda humanitária do estado refere-se a uma inspeção técnica para provimento de recursos a nível federal, cestas básicas, cobertores, médicos, trezentos reais aos atingidos.


No jornal do dia 09 de Maio, o jornalista faz referência a uma critica do presidente da republica a prefeitos: “[...] Lula criticou os prefeitos que pedem verbas em situações de emergência, mas não apresentam projetos nem prestam contas dos recursos recebidos”.

Ainda no mesmo jornal o jornalista Emersom Quaresma, faz referência a enchente no contexto urbano da cidade de Manaus. O plano de emergência da defesa civil local constitui na distribuição de um kit compondo duas dúzias de madeira, uma de pernamanca e um quilo de prego para a construção de pontes.

No dia 11 de maio o jornal noticia o mapa das enchentes no estado:

“[...] Da lista dos 45 municípios afetados, 20 já estão com seus decretos de situação de emergência homologados [...] mais de 40 dos 62 municípios do Amazonas estão sendo afetados pela cheia [...] são 46.242 pessoas desalojadas e 10.196 desabrigadas. Segundo a defesa civil do estado, em todo o estado do amazonas são 265.958 mil o numero de pessoas afetadas.” (jornal A critica, caderno cidades: C2, Maio 2009).

Da mesma forma, na referida data e jornal com a matéria intitulada “Cota de emergência do rio negro confirmada”, o autor informa que:

“[...] a cheia do rio negro continua a produzir efeitos inusitados na paisagem da cidade [...] no tropical hotel, a água do rio negro já avançou, passando do muro de proteção que serve de marco para a cota máxima da cheia [...] em comunidades da periferia, a situação continua se agravando na comunidade do Bariri, Presidente Vargas, e no bairro da Gloria, zona centro-sul, diversas casas já se encontram submersas”(idem).

As reportagens do matutino consultado dão atenção especial ao agravamento das enchentes no contexto urbano, principalmente no bairro de Educados, São Raimundo, Gloria, Presidente Vargas, Raiz, São Jorge, Betânia, Morro da Liberdade, Santa Luzia. Nesses bairros da Zona Sul e Oeste de Manaus as ações implementadas via Estado, são referentes à limpeza dos igarapés de modo a evitar doenças provenientes do lixo acumulado nesses locais. Ainda, destinou-se um espaço para informar a população sobre algumas doenças que geralmente se manifestam nesse período de enchente.

Levando em consideração a definição de planejamento no inicio deste ensaio, bem como um parágrafo da introdução do PPA-2008-2011:

“No saneamento básico, o atendimento de água potável em todos os municípios, bem como a rede de esgoto e o lixo coletado e processado, é um anseio e um direito da sociedade que o Estado irá cumprir, com a expansão das redes correspondentes. As áreas de saúde pública, água tratada, rede de esgoto, coleta regular de lixo e devida destinação, reduzem a incidência de doenças responsáveis pela morte de milhares de pessoas e de grande parte de internações hospitalares.” (PPA-2008-2011; V.I: 19).

O que se verifica a partir da análise do material citado é que não há a existência de políticas publicas, falo no sentido de programas e ações específicas do governo do estado, que contemplem o problema da enchente no estado do amazonas. O que existe são ações de “bombeiros” a partir de algumas secretarias do estado para a minimização dos problemas.

Ao meu entender, no que concerne a um planejamento de um programa que contemplasse a problemática das enchentes, seria necessário que o governo do estado realizasse conjuntamente com suas secretarias ações durante todo o ano que de certa maneira viesse a minimizar problemas durante o período das cheias.

Por mais que seja um problema visto pela maioria da população enquanto um fenômeno tipicamente natural, faz-se necessário questionar muitas vezes os dados divulgados pelo estado sobre o número de pessoas atingidas pela cheia e como foram construídos estes dados? Esta talvez fosse uma das maneiras de se construir política publica mitigadoras responsáveis
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*Aluna de Ciências Sociais pela UFAM

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