segunda-feira, 29 de junho de 2009

LOUREIRO, AS PRAÇAS E A MEMÓRIA

Belmiro Vianez Filho *

No sábado passado (20) um grito de alerta soou nas dependências do Museu do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas – IGHA, com o lançamento do “Passeio pelas praças de Manaus”, Edições Dona Leica, do companheiro, intelectual médico e escritor, Antônio José Souto Loureiro, com a presença discreta, mas de altíssimo nível, atenção e carinho dos pensadores e guardiões de nossa memória. Uma viagem de instigante literatura, a um tempo sentimental e crítica, da mais exacerbada relevância do ponto de vista de quem ama e reclama do desdém generalizado com que Manaus tem sido tratada em sua arquitetura e referencias de lazer e comunhão social –as praças públicas. É da maior urgência e responsabilidade cívica fazer ressoar o brado quixotesco de Loureiro em mais essa peça literária de raro valor, cuja edição franciscana, encomendada pela gestão municipal anterior, foi consumida em instantes na humildade de seus 50 exemplares.

Em cada página e em cada praça esquecida, ou sumariamente extinta pela incúria inaceitável do gestor municipal, Loureiro canta seu amor e compromisso com a memória de quem já foi a Paris dos Trópicos e hoje não passa em muitos pontos de um amontoado urbano em ruínas entregues à própria sorte. Entre as praças desaparecidas, uma quantidade assustadora na ótica urbana de qualquer civilização, a certeza de que o exercício da cidadania e da confraternização entre os munícipes se atrofia a cada vez através dos tempos e do descaso público. É bem verdade que a recuperação do Largo São Sebastião e do complexo urbano da Praça da Polícia aliviaram com glamour essa anomalia urbana, mas há muito, quase tudo, a restaurar e manter.

O lançamento desta singela e emblemática obra, porém, encerra um brado que deve ressoar em corações e mentes dos atores públicos e privados desta maltratada Manaó. Loureiro destinou ao IGHA – que precisa igualmente de atenção demorada - a receita de sua produção, simbolizando sua intimidade amorosa com a memória de todos nós.

Como avançar em direção ao futuro - e a que futuro? - se descuidamos de nossa memória, das conquistas e realizações de quem nos precederam, movidos pelo zelo do bem comum e do espaço da comunhão entre os cidadãos? Parabéns, companheiro Loureiro, sua contribuição é preciosa e sua luta é de glória... só nos cabe sem tardança fazer avançar.

*Belmiro é empresário e membro do Conselho Superior da Associação comercial do Amazonas: belmirofilho@belmiros.com.br

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