quinta-feira, 18 de junho de 2009

TRÊS ANOS DE NCPAM E DE SUA LUTA SOCIAL



João Fábio Braga*

Há três anos, dia 18 deste mês, entrara na rede de computadores o nosso blogue, sem muito conhecimento da estrutura técnica da Internet e sem muita beleza também. Criar este instrumento interativo não foi algo pacificamente aceito de imediato, assim como não foi fácil instituir um grupo que conceber-se a ideia de núcleo. Mas a empolgação era evidente por parte dos envolvidos, soava aos ouvidos, aos olhos, ao olfato, ao paladar o gosto e cheiro de mudança consciência de estar seguindo os ventos da história, não mais a desilusão estatelada pelo idinamismo e desencanto apático da razão nas instituições burocráticas do saber brasileiro, especialmente no Amazonas.

Apesar do conflito de ideias sobre o futuro de projeto de Núcleo, o blogue, a partir dele, deu vida ao Núcleo de Cultura Política do Amazonas, redimensionou as demais atividades e estratégias, principalmente quanto à meta de divulgar a ciência e a informação não-dominante da mídia, e ter o caráter de observatório e laboratório, com intuito de compartilhar a pesquisa, produção e a extensão acadêmica com a sociedade, exclusivamente esta última de aproximar de comunidades, bairros através de projetos sociais, que visem à qualidade de vida, reconhecimento e inclusão social, direitos às políticas públicas e à cidade.

Os resultados amplamente dessas atividades de pesquisa, reforçando o artigo NCPAM sob avaliação da sociedade, pode se traduzir nas práticas realizadas “junto à Comunidade Afro-brasileira da Praça 14 de Janeiro de Manaus, à Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, Coordenação das Associações Afro-religiosas da Amazônia, ao Fórum Etno-racial, Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase, Instituto Ambiental Dorothy Stang – Santa Etelvina e Monte das Oliveiras, Movimento Meia-Passagem, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN (projeto São Raimundo de Manaus – Paisagem Cultural do Rio Negro) e participação na coordenação do movimento socioambiental S.O.S Encontro das Águas: contra o porto das lajes, em parceria com a Associação dos Amigos de Manaus e Comitê Gestor da Colônia Antonio Aleixo e Bela Vista”.

Podemos dizer que nosso blogue, dito como revista eletrônica, articulou o fortalecimento e o laço com as pessoas tanto compromissadas com o projeto quanto aos comunitários e instituições os quais o NCPAM construiu vínculos. O NCPAM não apenas se concentrara na atividade blogueira, mas seu crescimento estendeu esforços por parte de professores e estudantes das ciências sociais que fundaram e deram prosseguimento a ideia do projeto, com isso, ao longo desses três anos, conseguiu atrair e agregar cotidianamente estudantes pesquisadores de outras áreas do conhecimento, tornando-o multidisciplinar e ao mesmo tempo interdisciplinar, principalmente à medida que vem somando com lideranças comunitárias, lideranças partidárias, empreendedores culturais e comunitários, movimentos sociais e políticos, intelectuais, etc.

Por tudo isso, alguma vez, seria possível imaginar o NCPAM tivesse alguma projeção enquanto prática socialmente construída, se o blogue não existisse? Não. O NCPAM apenas seria mais um núcleo amarrado à burocracia engessada da razão apática que, segundo o sociólogo Weber, desencanta o mundo sob a faceta da racionalização da técnica e da ciência, mecanizando a realidade enquanto objeto, até pessoas como coisas, longe delas. Todo esse sentimento neutro, distante, apregoado pelo fetichismo douto de salto alto que a elite intelectual acadêmica vende à sociedade, é tão falso, hipócrita, que ambas as partes estão numa margem da outra do rio, porém não se enxergam mais, ou nunca se reconheceram, mas existe imposição por uma parte, principalmente quando atende aos anseios empresarias ou governistas. Os interesses sociais, fomentando cidadania, formulação de projetos que mude a vida das pessoas, movimenta alguma importância por parte da Intelligentsia da universidade, viciada no trabalho mental complexo que a acomoda em sua preguississe?


A resposta todos nós sabemos. A universidade, atrelada à razão, desencanta a vida, reduzindo-a a estruturas teóricas abstratas e frias. O NCPAM sabe bem o terreno que pisa, alerta a este meio que reside, mas não compartilha com a tradição da razão tupiniquim, o que o filosófo cronista Roberto Gomes criticou no celebre ensaio de botequim Crítica da Razão Tupiniquim.

O NCPAM reconhece a importância da teoria, nem se nega, nem se fecha na busca de resultados a priori formulados e finalizados, mas tem em sua filosofia prática a aproximação do e com mundo da vida, tão ignorado pela academia, bem lembrado conceitualmente à crítica por Gadamer, especialmente por Habermas quando aborda sua teoria da ação comunicativa. O mundo da vida é substância concreta da existência do Núcleo de Cultura Política do Amazonas, enquanto agente interlocutor com a sociedade quanto por uma via de rede, de alcance global pelo blogue; tanto quanto presente junto à comunidade, aos parceiros de luta fomentando cidadania contra a barbárie da razão instrumental, a exemplo da construção do Porto das Lajes.

O compromisso social do NCPAM ganha dimensões e extensões indefinidas. Sua projeção de alcance apenas se inicia. É o terceiro aniversário, com a consciência de estarmos fazendo muito barulho e incomodando muita gente; não basta somente isso, temos a certeza que seguimos a ideia que nos motivou com empolgação pela primeira vez: indignarmos-nos com a omissão e passividade intelectual dos problemas da nossa cidade e do nosso estado. É necessário ter a indignação propositiva, diz o professor e coordenador do NCPAM Ademir Ramos. E mais ainda, o professor indica o caminho da responsabilidade política para transformar as estruturas de poder.
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Pelo menos há tão pouco tempo à audiência de nossa vitrine eletrônica era tremendamente tímida, um ano atrás mudamos de endereço, mas o antigo blogue ainda existe, os dois somam mais de 71 mil consultas. Hoje temos uma visibilidade bem melhor, está decolando cada vez mais. Ao infinito, não sabemos... mas que seja a todo tempo, crescente.


O NCPAM agradece aos leitores que acompanham diariamente nosso blogue. Por isso mesmo, por pensar na responsabilidade que temos com os leitores, novidades serão apresentadas com a finalidade de uma interação maior e participação mais efetiva, como por exemplo o uso do popular Messseger, onde os leitores poderão conversar, tira suas dúvidas com os nossos pesquisadores e convidados (os debates serão anunciados no blogue, o dia e a hora). A outra novidade é o interativo Twitter, poderá acompanhar as últimas notícias e atualizações. E outras novidades durante resto do ano. Todas essas novidades são para aproximar melhor de vocês leitores, e o retorno disso são sugestões, críticas, artigo para publicar, denúncia e mais.

Parabéns a todos do NCPAM!

* Editor pesquisador do NCPAM e Mestrando em Sociologia pela UFAM.

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