domingo, 31 de julho de 2011

RIOS QUE VOAM

Ellza Souza (*)

Os rios estão por toda parte. Na terra e agora sabemos que no ar. Um projeto chamado “Rios Voadores” idealizado por Gerard Moss e sua esposa Margi, suíços que moram no Brasil há muito tempo e que acham que “não vale a pena cortar uma árvore a mais da Amazônia”. Isso me animou a prestar atenção no que esse estudioso diz. A expansão agrícola apregoada por aí para desmatar pode ser feita em áreas já degradadas. Será que o novo Código Florestal sabe disso?

A expedição do casal estuda o caminho da água evaporada pelas árvores da floresta amazônica e teve seu ponto alto de 2007 a 2009 com a coordenação científica do engenheiro agrônomo Enéas Salati, da Universidade de São Paulo, a USP, esclarecendo à luz da ciência alguns pontos obscuros dessa região tão falada mas tão pouco conhecida. Para saber a origem da chuva a equipe coletou amostras de vapor dágua acima da Amazônia e de outras regiões para análise. O apoio é quase total da Petrobrás que disponibilizou mais de 3 milhões de reais para a pesquisa.

Definindo melhor, rios voadores são cursos de água atmosféricos, invisíveis minha gente, que passam em cima das nossas cabeças transportando umidade e vapor de água da bacia amazônica para outras regiões brasileiras. “Imagine um rio do tamanho do rio Amazonas, o maior do planeta, mas invisível”. É por aí mesmo. São enormes quantidades de vapor de água responsáveis por boa parte das chuvas no país.

Então fica assim. A chuva vem das nuvens cheias de vapor de água que se condensam quando encontram uma frente de ar mais fria e caem sob a forma de gotas. E de onde vem o vapor de água? Essa resposta não é fácil mas foi o motivo do estudo da expedição Rios Voadores do casal Moss. A descoberta de que parte desse vapor vem da Amazônia é mais uma razão para ajoelhar e rezar pela integridade da floresta pois a natureza interligou nossas abençoadas árvores e suas incontáveis folhinhas ao resto do planeta. Sem floresta tão densa e tão complexa para nosso entendimento não tem vida na terra.

Mais ou menos assim: os vapores que chegam do Oceano Atlântico fazem chover na Amazônia. ¼ da chuva fica nas folhas das árvores e evapora voltando para a atmosfera. Mais 2/4 são absorvidos pela vegetação e voltam a ser vapor de água por causa da transpiração das árvores. Cada árvore de grande porte como a castanheira, como a angelim-pedra, como a seringueira evapora e transpira 300 litros de água por dia. E quando os ventos não sopram do mar para o continente, as árvores sabiamente e mais do que depressa usam suas raízes para retirar água dos lençóis freáticos garantindo que a evaporação e a transpiração continuem acontecendo.
Essa “evapotranspiração” das árvores da floresta é que formam os rios de vapor de água ou rios voadores que não vemos mas agora sabemos que existem.

Os rios voadores formam uma massa de água maior do que o do rio Amazonas, com a diferença de que no rio Amazonas a água está no estado líquido e nos rios voadores a água está no estado gasoso a 3 quilômetros acima de nós. Por aí dá para avaliar a complexa e intrincada harmonia que existe na natureza que precisa ser estudada e entendida para medir as nossas atitudes diante do meio ambiente.

Cordilheira dos Andes, Floresta Amazônica, Oceano Atlântico, céu. Eles se entrelaçam e fazem o clima em todo o país. Um não vive sem o outro e a expedição mostrou que nos estados da região sul “nos dias com maior potencial para chuva, encontramos partículas de vapor das árvores da floresta”, conforme diz Enéas Salati. E Moss explica ainda: “Com certeza a Amazônia não é a única fonte de chuvas mas é a única que está seriamente ameaçada”.

É triste a constatação do pesquisador Salati de que “com a devastação das florestas, as temperaturas na região tendem a subir drasticamente, gerando mais extinção da biodiversidade amazônica”. Mais calor, mais prédios, mais asfalto? Que futuro nos aguarda sem as nossas frondosas fruteiras, sem os nossos rios terrestres e com essa massa de vapor de água “rondando” as nossas cabeças que por um desequilíbrio qualquer podem “desabar” sobre nós. O alerta fica aos gananciosos em particular e a sociedade em geral. “O desmatamento deve parar. O lucro gerado pelo desmatamento não vale o preço da floresta em pé”, diz Salati. Palavra de quem sabe e entende quem tem juízo.

(*) É jornalista, escritora e articulista do NCPAM/UFAM.

3 comentários:

Anônimo disse...

TERMINAL JA VAI COMEÇAR

Ellza Souza disse...

Como um ser humano pode estar feliz com o provável aniquilamento e poluição do encontro das águas, uma paisagem tão encantadora e plácida? Temos que tomar posição na vida e a minha será sempre a favor da natureza e da minha consciência.

Anônimo disse...

Ai se eu te pego ein :)