quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A ECONOMIA DOS VINHEDOS DA SERRA GAÚCHA

Ellza Souza (*)

Nunca tinha visto uma parreira de verdade. Subindo a serra gaúcha observei as flores, os enormes pinheiros e os vastos parreirais. Pelo caminho vi queijarias, as fábricas de suco de uva, as vinícolas, pequenas comunidades onde sempre prevalecia a igrejinha estrategicamente colocada como a Capela das Neves levantada pelos italianos pioneiros que chegando na região no século 19 plantaram as primeiras latadas numa região que, segundo o motorista Alex que nos levou serra acima, “é pura pedra”.

Foi tirando uva da pedra que os imigrantes se adaptaram tão bem no sul do país. Os seus hábitos foram perfeitamente integrados aos costumes locais e preservados. Por exemplo tive a oportunidade de comer em Bento Gonçalves, na estação da Maria Fumaça, um tipo de biscoito italiano que comia na infância e adorava. Um tipo de “biscoitão” como eu o chamava e comia com café com leite dentro de uma grande tigela formando uma papa. Em Manaus não existe mais esse tipo de biscoito e o último a fabricá-lo foi a padaria Nóvoa, onde comprei a iguaria até o seu fechamento. Infelizmente parece que as boas receitas por aqui, não têm continuidade. Poderia ficar falando muito tempo desse inesquecível biscoito mas o passeio na serra continuava e ia conhecer algumas vinícolas.

É lindo o local onde se plantam as uvas e se produz o vinho. O vinho e o espumante brasileiros, segundo alguns especialistas, já firmam boas posições no mercado. Visitamos a Valduga que segundo me informaram produz o vinho preferido da presidente Dilma Roussef, a Salton, a Casa de Madeira onde o forte são os sucos e as geléias e a Miolo. Não gosto de tirar fotos mas fiz questão de aparecer em algumas ao lado daqueles cachinhos tão perfeitos e quase prontos para a colheita que acontece de janeiro a março. A bebida que se extrai dessas frutinhas tem um grande valor antioxidante ou seja fazem um bem danado à saúde. Suco ou vinho, o líquido flui pelas células revigorando até a alma. Degustei o que deu e balancei diante de Baco e de Dionísio que na reprodução da fábrica Aurora, localizada em Bento Gonçalves ao lado de nosso hostel, sem roupa e nos gestos mostrava estar à vontade diante dos visitantes deslumbrados.

Todas as vinícolas visitadas chamam a atenção pela organização e pela beleza de seus campos e de suas lojas. Na fábrica Salton, por exemplo, tudo é muito limpo e bonito. Os casarões coloniais, a decoração, o relógio solar, os tanques de aço inoxidável, os barris ou pipas de carvalho vindos dos Estados Unidos e da França, o perfeito funcionamento do moderno maquinário com o antigo totalmente preservado. Belas pinturas misturadas ao bom gosto do estilo rústico e uma imensa placa com resquícios de ouro na fachada do casarão principal dão o tom de sofisticação que a empresa faz questão de exibir. Os parrerais são maravilhosos e dos vários tipos de uvas plantadas resultam a variedade do vinho consumido, mais encorpado ou mais suave.

Graças a fermentação e aos meandros da manipulação das uvas resultam os vinhos tinto ou branco. O rosé, segundo o enólogo de uma das vinícolas visitadas, “não recomendo”. Nos jardins bem cuidados da empresa, os quero-queros, um tipo de ave comum na região, circulam livremente e ficam agressivos quando algum turista enxerido quer chegar muito perto de uma fêmea que placidamente choca seus ovos na grama.

Depois de conhecer as vinícolas, os parrerais e degustar tantos líquidos preciosos concluí que não entendia nada de vinho e de suas peculiaridades. Ao provar alguns tipos até fazia careta e eram os mais finos e cobiçados. Para o meu paladar nada refinado descia melhor o “suave”, até difícil de encontrar entre a grande variedade de tão especial bebida à base de uvas com um toque saudável de classe e bom gosto produzidas naquele vale de lágrimas dos deuses.

(*) É jornalista, escritora e articulista do NCPAM/UFAM.

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