sábado, 24 de dezembro de 2011

SANIDADE PERVERSA

Ellza Souza (*)

É estarrecedor o tratamento dado aos doentes mentais no Brasil. Custo a acreditar que um país que só fala em milhões para um campeonato mundial de futebol e que tem tomado atitudes como desalojar, no caso de Manaus, o único hospital psiquiátrico da cidade, aja dessa forma. O destino dos doentes? Não interessa. Só importa mesmo os fins “futebolísticos” previstos nos projetos mirabolantes e caros. Um dia resolveram acabar os hospícios visando a melhoria do sistema. Agora não tem hospício e não tem nada. O que resta do serviço aos milhares de necessitados é só descaso, incompetência, falta de médicos e medicamentos.

Mesmo pagando caro, o atendimento é inacreditavelmente ruim. Mais uma vez, no público ou no privado, o serviço de saúde brasileiro não funciona para a população em geral. Temos médicos maravilhosos, tecnologia de ponta, hospitais limpos, enfermeiras cuidadosas apenas para políticos e ex-políticos que, diferente da maioria das pessoas, gozam de planos ilimitados e vitalícios. Deveria ser o contrário: esse tipo de plano para a sociedade e para esse tipo de funcionário, o SUS como ele é hoje.

Fazem de tudo para esconder as mazelas desses doentes, internados ou não, que não tem como se defender sozinhos. No desabafo de um parente de um doente internado está a triste realidade: “Os doentes vão morrendo aos poucos” ou aos montes se levarmos em conta a situação em todo o país. Nas visitas os doentes são “arrumados” para não despertar suspeitas. Parece que todos os profissionais envolvidos num hospital como esse são mais paranóicos que os próprios doentes. Despreparados, parecem fazer parte de um só tipo de personalidade distorcida onde o que vale é o mau atendimento, a grosseria, a falta de ética com quem não consegue resolver sozinho a sua vida.

Tudo é desviado na maioria dos hospitais públicos. Falta lençol, falta remédio, o raio X não funciona, o médico profundamente estressado passa o medicamento sem nem olhar o paciente. Falta mesmo é governo interessado em cumprir as suas reais funções. Falta mesmo é decência no ser humano para que, independente de sua posição na sociedade, enxergue o outro com amor e solidariedade, fazendo da melhor forma possível o trabalho a que se propôs fazer. Falta vergonha na nossa cara para aprender a votar e banir da sociedade os maus políticos e corruptos em qualquer instância.

Sei o quanto é difícil lidar com esses doentes pela falta de um serviço público eficiente. É abandono pela doença que os relega a uma condição de muito sofrimento. É abandono pelas condições adversas do sistema de saúde, como já disse, público ou privado. Conforme denúncias que não se apuram, os doentes vivem sujos jogados num lugar sujo, “comem qualquer coisa” pois não existe o cuidado com eles. São seres indefesos, talvez, mas o ser humano precisa entender que todos, absolutamente todos nós podemos passar essa tão tênue barreira da sanidade mental, ao menor problema existencial. E nessa vida ninguém está imune dos problemas. Nem os “cabeças boas” e nem os políticos.

FELIZ NATAL aos visíveis e aos invisíveis da sociedade. Não estou falando de assombração mas dos vivos que são jogados pra debaixo do tapete como poeirinha inútil. Somos um só todo e se uma parte desse todo sofrer todos sofreremos juntos. Então para ser feliz só nos resta amar o próximo como a si mesmo, como Ele nos ensinou.

(*) É escritora, joranalista e articuladora do NCPAM/UFAM

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