sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

ENTRE A FICÇÃO E OS BASTIDORES DE BRASÍLIA

Mario Nelson Duarte (*)
(mnelson14@yahoo.com)

O jogo é pesado. O que está saindo na mini-série O Brado Retumbante eu vi, ouvi ou vivi (pessoalmente). É importante lembrar alguns pontos marcantes, para compreender o contexto:

1) Nos primeiros anos de Brasília (até pouco depois do golpe de 64, mais ou menos) os parlamentares realmente moravam lá, acampados em imóveis funcionais no meio do nada, longe das famílias (e das amantes titulares também, é claro). Por isso, a solidão era braba mesmp, as carências afetivas pesavam uma barbaridade - e cair em tentação era muito fácil;

2) Companhia feminina era coisa (quase) impossível para a rapaziada e quem tinha poder ou grana fazia "vaquinhas" para levar as ditas cujas (desculpem o trocadilho infame). Eram vôos da VARIG, da Panair ou da Real fretados, cheios de moçoilas (quase sempre do Rio, "modelos") dispostas a tudo para faturar uma grana preta em um final de semana;

3) Uma das senhoras mais dignas e respeitadas da cidade era a cafetina oficial da Câmara, inclusive com cargo fixo de assessoria parlamentar, justamente para organizar essas caravanas e administrar as carências rotineiras do dia-a-dia dos parlamentares, ministros e lobistas que já começavam a viver na cidade;

4) Ao contrário do que poderia ser lógico, a coisa fervia mesmo era no Senado, onde a "clientela" da madame era bem mais velha do que a da Câmara. Motivo: eram homens mais ricos e mais poderosos - o que lhes dava a ilusão de poderem mais do que os mortais comuns (e era nessa soberba que eles se arrebentavam, volta e meia);

5) A ética das putas era mais sólida antes da ditadura, porque os arapongas passaram a usar com eficiência as meninas para produzirem fatos capazes de encostar os adversários na parede. E circulavam relatórios e fofocas apócrifas sobre escândalos, adultérios, pederastias, etc.;

Ontem eu reparei na lista de colaboradores da mini-série e ficou clara a origem das situações retratadas com tanta fidelidade: Denise Bandeira, ex-atriz (ela foi a Bebel, foca do Valdomiro Pena em "Plantão de Polícia", estão lembrados?), é de Brasília, filha de uma querida professora e jornalista formada lá. Não deve ter sido difícil desencavar as histórias que formam o painel da novelinha. Importante: ela era uma menina séria e depois se tornou uma profissional também séria, o que não a impede de escrever sobre isso. É uma coisa que a gente diz, em imprensa: "nâo precisa ser defunto para saber como é um velório".

Bom, se vocês quiserem, posso acrescentar algumas historinhas às que estão alinhavadas na TV. Tem umas muuuuiiittooo interessantes...

(*) É joranalista de batente, testemunha ocular dos primórdios de Brasília, sendo um dos colaboradores do NCPAM/UFAM no campo da história da vida privada.

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