domingo, 22 de janeiro de 2012

RIOS PARA SEMPRE

Ellza Souza (*)

O ser humano vive rodeado de espiritualidade, fé, natureza e algumas malvadezas pelo caminho. No lado bom da vida podemos nos apoiar para vencer as nossas angústias e nossas limitações. Com o lado ruim podemos aprender e nos fortalecer. Resolvi fazer uma reflexão aqui sobre a água que faz parte do nosso lado bom.

Que a água representa vida e vida sem água não representa nada, estamos ressecados de saber. Nesse momento peço um olhar mais piedoso para essas águas tão pacíficas e doces que às vezes esquecemos de observar, de perceber a sua magnitude, a sua energia e tudo o que ela nos dá. Somos mais de 80% água. Bebemos vida ao tomarmos um copo dágua.

O rio Negro, lindo de viver que nos cerca e nos abençoa, nos dá paz, alimento através dos seus peixes, nos refresca no calor, hidrata nossas plantações e nossos tucumãs, escava misteriosas cavernas e sinuosos igarapés, recorta lindas praias como a do Tupé e ilhas como as de Anavilhanas, inunda lagos como o do Aleixo e florestas sem fim. É muita água para nosso baldinho medíocre.

Pela sua abundância achamos que nunca vai nos faltar. E como sempre pensamos errado. Não pensamos que ao jogar lixo e detritos sanitários do barco estamos enlameando a própria água que vamos beber, tomar banho e lavar nossas roupas. Tratamento da água só o feito por Deus por que o homem apenas a destrata.

Na área dos bairros de Santo Antonio e Compensa, se não fossem os muros que circundam fábricas e casas por ali, a população poderia apreciar melhor o rio Negro e nele se inspirar com a calmaria de suas águas escuras e aveludadas como diz a minha mãe. No final da tarde também, o por do sol é esplêndido. Preste atenção ao passar de ônibus por ali. A paisagem é coisa de Deus e assim deve ser observada.

Circundando a Compensa, a colina de São Raimundo, o rodoway, o Educandos e seguindo em frente chegamos ao Encontro das Águas que está por um triz. Sim, porque se um porto se instalar por ali, será o fim do lugar como patrimônio natural da humanidade, como sítio arqueológico onde se encontram as marcas de nossa história. Haverá uma mistura de águas que até então a natureza se encarregou de separar para deleite de nossos olhos e de nossas vidas. Haverá uma mudança drástica de água potável para um líquido viscoso feito de óleo, lixo e morte. Sim, porque como peixinhos frágeis como o jaraqui irão resistir a esse tipo de poluição? E o boto e o homem que comem o jaraqui? E as gaivotas que comem os peixes? Quebra-se o elo natural da vida de todos: bichos, plantas e homens.

O maior rio do mundo, o Amazonas, será envenenado por esse tipo de poluição. Sim, porque o Negro é poderoso também e empurra o rei dos rios águas a dentro. E como os rios deslizam para o mar e o mar envolve todo o planeta não é difícil perceber a tragédia que pode advir de tamanha interferência humana em rios tão estratégicos no meio em que vivemos. Como já dá para perceber não chegamos aos pés de uma formiguinha quando o tema é inteligência. Estamos mais para cérebro de jirico seja lá o que for isso.

(*) É jornalista, escritora e articulista do NCPAM/UFAM.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não somos páreo pra natureza. Estamos nos enredando nas armadilhas que deixamos em nosso rastro com atitudes irresponsáveis.