quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A FAMÍLIA, A ESCOLA E O ESTADO

Ademir Ramos (*)

Os tratados filosóficos gastaram muita tinta para explicar o comportamento humano quanto à sua vontade, querência e outros rasgos subjetivos fundados no que resolveram chamar de natureza humana. A tese em questão é saber como se explicam determinadas condutas quando as pessoas se confrontam com o outro na disputa de um determinado bem ou predicativo inerente aos protagonistas da ação em causa.

Na tragédia, os gregos explicavam a partir da força do destino, como vontade imperante dos deuses, o que está muito presente no senso comum em tempos modernos. O certo é que a vontade, a racionalidade e a escolha estão em compasso com forças que o próprio sujeito desconhece por se achar muitas vezes atados a teia da natureza ou em oposição à cultura.

Esta ambivalência persegue os homens tal como a paixão e o julgamento reto da razão. Neste embate entre o mar e o rochedo, as pessoas se amam e/ou se odeiam. Por se tratar de um processo de formação que requer muito do sujeito enquanto operador reflexivo dos valores cultivados nas condições existenciais vivenciados no universo, não mais da natureza, mas da cultura e da sociedade.

Sem dúvida alguma, neste processo de formação, a estrutura familiar faz a diferença, quando se reclama por uma educação sustentável. No passado, as crianças só eram conduzidas para escola ao completarem sete anos, enquanto isso vivenciava o aprendizado do grupo familiar participando de suas iniciações culturais motivadas pelos costumes dos povos.

Esta condição permitia com que desenvolvêssemos o senso de discernimento comparado com os valores exógenos, que quase sempre são apresentados pela educação escolar numa perspectiva de conquista para estas pessoas em formação. Nessa circunstancia a escola se transforma num instrumento mediador entre a família e o Estado, lembrando que esta instituição parida pela dominação amolda-se numa forma governamental que pode ou não permitir a criticidade, a rebeldia dos agentes culturais e a espontaneidade da pessoa de ser o que é sem o simulacro da política em suas diversas formas.

Pela desigualdade social e por suas formas excludentes, as sociedades emergentes no Estado, regido pela força da acumulação do capital, divorciou a educação escolar da família, assim como também das culturas dos povos, desestruturando os processos próprios de aprendizado, com propósito finalístico de ordenar de acordo com o mandamento da lógica do Estado.

Este fato torna-se muito mais nítido quando voltamos nossa reflexão para a Amazônia, uma sociedade em transição, que requer de seus governantes e formuladores de políticas públicas projetos e programas de Estado, que promovam o reordenamento das instituições centradas no eixo da justiça, participação e equidade.

Sem esta determinação do Estado moderno e de seus governantes, a política se transforma no ópio do povo e os agentes públicos em oportunistas, larápios e ilusionista a desdenhar do próprio povo, enquanto pode. No entanto, a sua fortuna é incerta e o devir é uma incógnita.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.

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