Álvaro Tukano (*)
Meu grande companheiro, Dr Joaquim Frazão. Pois é, meu amigo. Eu sai de São Gabriel da Cachoeira, no dia 14 agosto de 1977, com destino a São Luis do Maranhão, para estudar medicina. Queria ser cirurgião clínico - tirar o câncer e outras doenças, falar na minha língua. Queria ser poeta, escritor, jogador de futebol e mandar embora todos os padres que combateram os nossos curandeiros, os sábios de modo geral. Fora uma ilusão. Tive que deixar tudo isso de lado, organizar o movimento indígena no Brasil, combater os coronéis da FUNAI e a Igreja conservadora.
Em janeiro de 1980, em Manaus, eu e outros líderes de Pari Cachoeira, criticamos os militares. Os missionários não gostaram nada. Proibiram os meus irmãos e parentes mais próximos de estudar e vender os produtos na missão. Fiquei isolado, sem saída e fui para São Paulo. Estando longe de minha casa, não tendo apoio para voltar na minha aldeia São Francisco, porque só entrava no avião da FAB ou na Lancha do Padre quem era amigos deles. Eu não era e, nem sou.
Desde essa época conheci os sindicalistas e outros líderes que combatiam a ditadura militar. Conheci o Lula. Fui um dos candidatos a Deputado Federal pelo PT-AM, porque queria defender a Questão Indígena e de outras minorias na Constituinte. Não deu. Depois disputei mais duas eleições com essa mesma finalidade. Não consegui. Ao longo de todos esses anos ajudei a organizar o PT no meio dos povos indígenas. Fizemos Prefeitos e Vereadores do PT. Dediquei ao PT ao longo de todos esses anos, sem emprego, passei fome e humilhação.
Quando o Lula ganhou as eleições, sim, tranquei no meu quarto e, tomei uma garrafa de cachaça de alegria e, chorei muito de emoção. Era a minha vitória, do povo brasileiro e lembrei de todos os companheiros que foram assassinados por defender a demarcação das terras indígenas. Em abril de 2003, depois de agosto de 1977, 26 anos depois, consegui o Cargos de Assessor - DAS 1, na FUNAI. No segundo ano de mandato de Lula, por motivos ideológicos, fiquei desempregado de novo. Levei a minha queixa junto ao Senador João Pedro.
Foram várias, conforme atestam os meus documentos. Estive com o Deputado Francisco Praciano. De nada valeram as minhas queixas contra o Presidente da FUNAI que mais prestou para as Ong´s indigenistas. Foi o pior Presidente da FUNAI. Estive no PT, por convicção de ideais, ser transparente, defender a ética e repudiar a corrupção. Levar a queixa, não valeu nada.
Os nossos escândalos, choros, não valeram nada. Uma vez, o Senador João Pedro me deu R$50 reais. Para mim fui muito e, tudo. Viver desempregado, ser a base do PT do meu jeito já extrapolou. Não sei mais o que é dinheiro, porque estou desempregado há cinco anos. Estão chegando as eleições municipais. Estarei na oposição junto com meus companheiros de todos esses anos. Teremos uma disputa acirrada, se preciso, de baixo nível.
Estou numa situação delicada, porque os petistas que eram amigos me excluíram. Mas, agradeço ao Senhor Joaquim Frazão, porque ele viu a minha situação quando passei por Manaus. Agradeço a professora Nonata. Vou ficando por aqui. Enfim, Dr Frazão.. A vida nos ensina. Eu acreditei nas boas palavras de amigos. Foi ilusão. Espero que me compreenda. Um grande abraço do amigo.
(*) É Tukano da TI do Balaio, de São Gabriel da Cachoeira/AM, com reconhecimento nacional e internacional, autor do livro biográfico - DOÉTHIRO: Álvaro Tukano e os seculos indígenas no Brasil (2010).
Foto: Beto Ricardo - ISA.
Meu grande companheiro, Dr Joaquim Frazão. Pois é, meu amigo. Eu sai de São Gabriel da Cachoeira, no dia 14 agosto de 1977, com destino a São Luis do Maranhão, para estudar medicina. Queria ser cirurgião clínico - tirar o câncer e outras doenças, falar na minha língua. Queria ser poeta, escritor, jogador de futebol e mandar embora todos os padres que combateram os nossos curandeiros, os sábios de modo geral. Fora uma ilusão. Tive que deixar tudo isso de lado, organizar o movimento indígena no Brasil, combater os coronéis da FUNAI e a Igreja conservadora.
Em janeiro de 1980, em Manaus, eu e outros líderes de Pari Cachoeira, criticamos os militares. Os missionários não gostaram nada. Proibiram os meus irmãos e parentes mais próximos de estudar e vender os produtos na missão. Fiquei isolado, sem saída e fui para São Paulo. Estando longe de minha casa, não tendo apoio para voltar na minha aldeia São Francisco, porque só entrava no avião da FAB ou na Lancha do Padre quem era amigos deles. Eu não era e, nem sou.
Desde essa época conheci os sindicalistas e outros líderes que combatiam a ditadura militar. Conheci o Lula. Fui um dos candidatos a Deputado Federal pelo PT-AM, porque queria defender a Questão Indígena e de outras minorias na Constituinte. Não deu. Depois disputei mais duas eleições com essa mesma finalidade. Não consegui. Ao longo de todos esses anos ajudei a organizar o PT no meio dos povos indígenas. Fizemos Prefeitos e Vereadores do PT. Dediquei ao PT ao longo de todos esses anos, sem emprego, passei fome e humilhação.
Quando o Lula ganhou as eleições, sim, tranquei no meu quarto e, tomei uma garrafa de cachaça de alegria e, chorei muito de emoção. Era a minha vitória, do povo brasileiro e lembrei de todos os companheiros que foram assassinados por defender a demarcação das terras indígenas. Em abril de 2003, depois de agosto de 1977, 26 anos depois, consegui o Cargos de Assessor - DAS 1, na FUNAI. No segundo ano de mandato de Lula, por motivos ideológicos, fiquei desempregado de novo. Levei a minha queixa junto ao Senador João Pedro.
Foram várias, conforme atestam os meus documentos. Estive com o Deputado Francisco Praciano. De nada valeram as minhas queixas contra o Presidente da FUNAI que mais prestou para as Ong´s indigenistas. Foi o pior Presidente da FUNAI. Estive no PT, por convicção de ideais, ser transparente, defender a ética e repudiar a corrupção. Levar a queixa, não valeu nada.
Os nossos escândalos, choros, não valeram nada. Uma vez, o Senador João Pedro me deu R$50 reais. Para mim fui muito e, tudo. Viver desempregado, ser a base do PT do meu jeito já extrapolou. Não sei mais o que é dinheiro, porque estou desempregado há cinco anos. Estão chegando as eleições municipais. Estarei na oposição junto com meus companheiros de todos esses anos. Teremos uma disputa acirrada, se preciso, de baixo nível.
Estou numa situação delicada, porque os petistas que eram amigos me excluíram. Mas, agradeço ao Senhor Joaquim Frazão, porque ele viu a minha situação quando passei por Manaus. Agradeço a professora Nonata. Vou ficando por aqui. Enfim, Dr Frazão.. A vida nos ensina. Eu acreditei nas boas palavras de amigos. Foi ilusão. Espero que me compreenda. Um grande abraço do amigo.
(*) É Tukano da TI do Balaio, de São Gabriel da Cachoeira/AM, com reconhecimento nacional e internacional, autor do livro biográfico - DOÉTHIRO: Álvaro Tukano e os seculos indígenas no Brasil (2010).
Foto: Beto Ricardo - ISA.
2 comentários:
O PT é um engodo e frustrou muita gente.É um partido igual ou pior do que a maioria dos partidos mas a hora dele vai chegar. Se desligar desse partido será a sua salvação. A dignidade do ser humano ninguém compra.
No seminário sobre Zona Franca, em dezembro de 2011, no hotel Da Vince, o Praciano disse que não há salvação fora da zona franca e que, caso seja prefeito, acabará com a manaus "bucólica", arborizada , com igarapés. Será Manaus - São Paulo (ou Fortaleza): Deixará de ser de vez a Manaus-Manaus, dos igarapés, das florestas, das frutas, dos tubérculos, dos peixes, da vida lenta e humana. O Jão Pedro, coitado, analfabeto funcional e oportunista pragmático é um rancoroso, invejoso, mal-caráter e ladrão!
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