sábado, 14 de janeiro de 2012

NÃO QUEIME LIVROS, FAÇA AMIGOS

Ellza Souza (*)

Queimar livros parece coisa de louco mas muita gente queima e joga fora livros para desocupar espaço. Ao fazer isso está descartando conhecimento, cultura, prazer. Como diz o pintor Moacir Andrade, 85 anos, o prazer de ler é igual ao do sexo e ambos te elevam ao paraíso. Mas no mundo dos moderninhos de hoje o ser humano quer muito sexo (será?) mas pouca leitura. O livro não é pra ser jogado mas circulado pela humanidade infinitamente. Não quer mais passa para outro. Na Amazônia tem infinitas comunidades carentes de informação onde uma biblioteca ajudaria no crescimento social e intelectual daquelas pessoas e em sua qualidade de vida.

Nem sei porque comecei falando de livro pois o que eu queria mesmo era comentar a crônica da Lya Luft na revista Veja “Pós-modernos de tacape” onde a escritora comenta o estresse do homem moderno no dia a dia. A escritora se refere às greves que emperram a educação e aos que protestam queimando livros inclusive “alguém” chamado Adolf que em outros tempos fez isso. Não é difícil deduzir o sobrenome desse personagem que tanto se esmerou em fazer o mal e não hesitou em queimar pessoas e livros.

Lya nos chama a atenção para a busca da gentileza, da amizade, da convivência pacífica em todo lugar: no trânsito, nos condomínios, nos ônibus, nos shopings, nas escolas, nas ruas. A hostilidade é grande e quase sempre a culpa é do estresse. É mais fácil acertar o outro com pau, pedra e até tiros pois todo mundo quer andar armado e isso pode ser um mau sintoma na sociedade. Ao invés de resolvermos os problemas com uma afável conversa, com o bom senso, resolvemos com os métodos da agressividade dificultando cada vez mais a vida de todos.

Não posso deixar de repetir as belas palavras da autora ao encerrar esse texto mais luftiano que meu:

“Qualquer um pode escapar, de graça, para uma beira de estrada com borboletas de um espantoso azul; descobrir as nuvens por cima dos telhados, num jogo de cores que pincel nenhum pode criar; curtir a algazarra de crianças no pátio do edifício, mesmo entre altos muros; ou ter alguma visão de beleza dentro da mais modesta casa. E vai se reconciliar com este atrapalhado, sedutor e hostil mundo nosso, da corrupção, da impunidade, do endividamento, da miséria, da grandeza e da iniqüidade: não se consegue por todo o sempre , mas por algum tempinho. E já será bom”.

São apenas palavras mas que fazem um bem danado, proporcionam prazer e vontade de melhorar como ser humano. Então porque queimar livros? Só se for por falta de juízo ou mesmo pura maldade. Prefiro acreditar que os Adolf estejam mortos e enterrados e que vamos cuidar dos livros como a natureza cuida das flores, fazendo amigos.

(*) É jornalista, escritoa e articulista do NCPAM/UFAM.

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