O IPHAN acaba de aprovar o tombamento do Centro Histórico de Manaus - confira a data e seus limites: http://www.ncpam.com.br/2010/11/iphan-faz-o-tombamento-do-centro-de.html A medida veio tarde, o centro da cidade há muito sucumbiu a peso da especulação imobiliária e à barbárie da fachadas de metal e marquises de gosto duvidoso. O que me deixa pasmo é a reação do Governo do Estado, que se rebela contra a decisão tardia, requentando o mesmo argumento já usado para se insurgir ao tombamento do Encontro das Águas.
A explicação do governo estadual é de que não foi consultado em nenhum dos dois casos, embora tenha se mantido claramente ao lado dos empresários alienígenas quando do tombamento do Encontro das Água e, no caso do Centro, defendendo os interesses dos outros empresários alienígenas que querem nos enfiar goela abaixo o malfadado monotrilho.
Trata-se de uma posição contraditória, posto que este é o mesmo governo estadual que fez duas extraordinárias intervenções no Centro Histórico, oferecendo aos cidadãos espaços de lazer e cultura ligados à memória afetiva de nossa sofrida capital.
O IPHAN, por lei, tem poderes para executar tombamento em qualquer parte do território nacional. Não precisa consultar ninguém, nenhuma instância municipal ou estadual. E os tombamentos são irreversíveis. De minha parte, sempre tive restrições à lógica dos tombamentos daquela vinculada aos Ministério da Cultura (Minc), que parecia ter olhos apenas para o colonial, o barroco, de preferência em Minas Gerais e na Bahia. Mas este viés foi largamente superado e hoje o Instituo do Patrimônio Histórico estabeleceu uma política de proteção abrangente, atendendo a cultura mestiça e multiétnica do nosso Brasil.
Quando nos lembramos da verdadeira guerra que foi o processo de tombamento do Teatro Amazonas, o primeiro ato de tombamento do nosso Estado, os tombamentos atuais são verdadeiros exemplos de espírito republicano e visão democrática. Na época, os técnicos do IPHAN argumentavam que arquitetura eclética do nosso Teatro não merecia receber o reconhecimento de patrimônio nacional. Alguns anos depois esses argumentos se esgarçaram e a nossa Ópera foi arrolada como digna de proteção do estado brasileiro.
Nos anos que se seguiram sofri com os meus conterrâneos a degradação da minha linda cidade eclética. Nenhum prefeito teve a sensibilidade de barrar a ação deletéria dos proprietários, que arrasaram a unidade arquitetônica da avenida Eduardo Ribeiro, destruíram os prédios de tetos de ardósia da rua Taqueirinha, transformaram os palacetes da Joaquim Nabuco, em pardieiros.
O prefeito Jorge Teixeira, um bronco dos tempos da Ditadura Militar, chegou a propor a demolição do Teatro Amazonas para fazer ali um estacionamento. Infelizmente este é o velho pragmatismo . Na época do Jorge Teixeira era o pragmatismo do capitalismo selvagem. Hoje é o império do pragmatismo populista eleitoreiro, mas com uma piscadela aos ricos e poderosos, que engordam o caixa dois das campanhas eleitorais.
Sei que a Secretaria de Estado de Cultura tem um projeto excelente de restauração do centro, agora tombado. O tombamento nos livra da maldição do monotrilho, um sistema de transporte leve muito usado em parques de diversões e zoológicos. Como Manaus, não é um zoológico, tenho a esperança que o Ministério da Cultura não fique apenas no tombamento, abra linhas de recursos para as restaurações que se farão necessárias.
Há o Projeto Monumenta, que justamente tem recursos para este fim, desde que os projetos atendam os parâmetros do IPHAN. Quem sabe o governador Omar Aziz deixa de lado as suscetibilidade de não ter sido consultado e faz um gesto positivo, cobrando do Governo Federal a melhor das satisfações que será a injeção de recursos para o renascimento do Centro da capital, de seus traços coloniais, neocoloniais, neoclássicos e do látex, nesta Manaus que é a Ouro Preto da era republicana.
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