quinta-feira, 24 de junho de 2010

A COPA FAZ BEM?


Gilson Gil (*)

A copa tem suas estranhezas. É preciso ficar alerta, pois toda a propaganda chapa branca fala dos benefícios que virão para nós, amazonenses e brasileiros. A FIFA exige que todos os seus patrocinadores e fornecedores tenham isenção fiscal completa. Além disso, ela fica com cerca de 5% do total dos ingressos, para ela comercializar, especialmente aqueles mais caros. Que lucro nossos governos terão, desse jeito? E os preços dos produtos? Só para fazer um gramado, na África do Sul, de um estádio que nem foi usado para treinos, em Johanesburgo, gastou-se cerca de R$ 250 mil.

O Soccer City, estádio da abertura e final, foi orçado em R$ 200 M, contudo, foi finalizado em mais de R$ 750 M. Será que nossos estádios custarão tanto assim? São Paulo não consegue se arrumar. Tendo o segundo maior estádio do país, o Morumbi, sem falar no Pacaembu, que é público, já dizem que será construída uma nova arena, com verbas de investidores. Por que não investir na arena do Palmeiras, que será uma das mais modernas do Brasil?!

Vários estados estão lançando agora os editais, mesmo o Brasil tendo sido escolhido há 7 anos para ser sede da copa. Por que o Maracanã e o Engenhão serão reformados, já que foram completamente refeitos para o Pan-americano, em 2007? Naquela época, diziam que o Engenhão era o estádio mais moderno do Brasil, feito totalmente segundo os padrões da FIFA. Novas reformas?!

Ainda bem que já parou o discurso dos “patrocinadores privados”. Está certo que a maior parte do dinheiro, se não a totalidade, virá dos cofres públicos. Os investidores virão só na boa, após os governantes roerem o osso. Eles não são bobos. Essa copa será dura, com várias sedes, muitos climas e viagens longas. Os turistas sofrerão, sem falar nas dificuldades do translado para o Brasil e dentro dele. A parte “suja”do serviço – criar infraestrutura, reformar aeroportos e comunicações, por exemplo – será realizada mesmo pelos governantes.

Isto tudo sem falar nas dificuldades de logística. A FIFA, segundo seus estudos, disse que o Brasil deveria ter 8 sedes. A CBF falou em 10. A FIA, após muita discussão, aceitou, embora contrariada. Mais tarde, após mais injunções políticas (que nossos líderes chamam de conquistas) a CBF, por pressão dos governadores e prefeitos, disse que queria 12 sedes.

A FIFA, depois de muito “convencimento” (entenda-se como quiser esta palavra) aceitou, mas alertando que a copa será deficitária. Afinal, qual turista poderá, na quarta, estar em Porto Alegre, no domingo em Manaus e na quinta em Fortaleza? Depois, caso seu time passe para as outras fases, ele terá de ir a Curitiba (que esta’sendo “fritada” por outras capitais), Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Pensem nos custos dessas viagens e imaginem qual o perfil do turista que poderá fazer tal itinerário em um mês.

Tudo isto sem falar nas seleções, que sofrerão para fazer esse percurso. Reflitam: peguem a Suécia e vejam: quarta em Porto Alegre, domingo em Manaus e quinta em Salvador. E depois, Fortaleza, Curitiba, Brasília e Rio de Janeiro, por exemplo. Não se esqueçam que estaremos no inverno, com temperaturas, no sul e sudeste, entre 15 e 5 graus Celsius. Enquanto isso, em Manaus, Cuiabá e nordeste, as temperaturas estarão por volta de 35 graus. Turistas e jogadores precisam ficar muito atentos, pois darão uma volta ao mundo em 30 dias, se nossos cartolas e políticos fizerem as tabelas segundo seus interesses.

Enfim, quem vai lucrar com essa copa? Eis a pergunta, eis o que interessa de verdade.

(*) É professor, doutor em sociologia e pesquisador do NCPAM/UFAM.

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