segunda-feira, 28 de junho de 2010

A SEDUÇÃO DA LOUCURA DE ERASMO DE ROTTERDAM

Em elogiar a loucura, Erasmo de Rotterdam relata de forma irônica a condição humana através dos tempos (*). Ironiza os homens e suas formas de poder traduzindo a loucura não como patologia, mas como atitude filosófica questionadora, que catalisa sinceridade e introspecção tão necessária para levar a vida adiante em confronto com nossos mais absurdos desatinos, rindo de si e dos outros, vítimas da vaidade tão presente nos acontecimentos humanos.

Neste ensaio, o autor, em sua clássica obra Elogia da Loucura mostra-se fazendo uma análise sobre as pessoas, à maneira como cada um se ver e se apresenta diante dos outros, considerando as escalas, concepções, hierarquias sociais, colocando-se em níveis superiores uns dos outros, não reconhecendo as limitações e fragilidades que permeiam a existência. Essa loucura de forma contraditória perpassa pelos comportamentos sociais e se propõe a trazer a sua maneira modos de pensar e de agir para alegrar o cotidiano de todos, quando livres de convenções, status sociais ou algumas vezes através dela vê-se acentuado a sensação de extrema importância e nenhuma humildade.

A Loucura, por sua vez, expulsa a tristeza de nossa alma que segundo ela todos os dias tendem a serem tristes, desagradáveis e aborrecidos quando não animados por ela.

Observando os jovens após tornarem-se adultos, verifica-se que aos poucos eles perdem sua beleza, diminui-se sua vivacidade, desaparece aquela simplicidade, tudo isso em virtude das oriundas lições para vivenciar a maturidade bem como as experiências do mundo na perspectiva da ”sabedoria” adquirida pela idade, fazendo extinguir do homem o vigor natural que muitas vezes só recebe de volta na velhice, com a irreverência, quando o inevitável esquecimento dissipa as mágoas e parece assim recuperar a juventude de outrora, sendo felizes como crianças, libertando-os de todas as aflições vindas da dita sabedoria, a qual faz sentir aversão, que dificilmente a idade adulta suporta, justamente por seguir regras que tanto os escravizam e os fazem seguir como uma cartilha no convívio social.

Segundo Erasmo, o humanista, sem alegria, a vida humana não merecia se quer este nome, mas não se pode esquecer que a felicidade consiste acima de tudo em se querer ser o que é e saiba mais, que a verdadeira prudência não está acima da condição humana. Observando atentamente o homem e sua condição limitada diante das calamidades que está sujeita a vida desde o nascimento até a morte, vêem-se quantos males estão postos a infância, a juventude e a velhice. Sem dúvida nenhuma, a educação poderia nos ajudar a entender com profunda reflexão a infinita série de males que o homem causa a si próprio, quando os poderosos fabricam a pobreza, gerando através dela uma infinidade de outros males como a prisão, a infâmia, a desonra, os tormentos, a inveja, as traições, as injúrias entre outros.

Atitude Filosófica

A Loucura enquanto atitude filosófica questiona o quanto vivemos na verdadeira ignorância, na irreflexão, no esquecimento dos males passados e na esperança de um futuro melhor, para que se diminua o rigor do destino final. A Loucura muitas vezes também se intitula bom senso e faz críticas através dos ensinamentos de Pitágoras, quando afirma que o ser humano não satisfeito de ficar nos limites prefixados pela natureza se esforça para ultrapassá-los, passando a existir em busca da sabedoria para alcançar uma perfeição inatingível, principalmente através das ciências.

Diante disto, aí se vão anos de vigília, aflições, fadiga e mesmo assim não percebem que se tornaram escravos dessa busca e não encontram a felicidade que se esconde em atos e ações tão simples e assim sendo não são vistos pelos olhares que buscam a resposta através da complexidade, esquecendo de praticar ações concretas para com outrem e em prol do coletivo social.

Na obscuridade do Céu

Muitas pessoas após uma vida de pecados recorrem às confissões e ofertas doadas as igrejas e com isto pensam estar perdoados pelo mal cometido ou pelo bem não praticado, crendo neste tipo de ação ou decorando orações a serem recitados todos os dias, esquecendo-se que é preciso odiar o mal mudando de vida e vivenciando o evangelho na prática das orações diárias e da caridade, mas o que se faz muitas vezes é deixar o verdadeiro para correr em busca do falso.

Quando rogamos aos santos queremos a resposta da oração para a necessidade exposta, porém, quantos seguem o exemplo dos santos? Da modéstia, da castidade, na imitação de suas virtudes? A qual seja talvez o único meio de assegurar o céu tão almejado após a morte desses devotos.

Vivemos em sociedade onde convivem governantes e governados, os primeiro tem obrigações com os segundos e espera-se dedicação ao bem público e no que seja melhor para todos através de uma conduta íntegra, pois, sabem que os olhares estão fixos em sua maneira de agir e estes podem causar um grande bem ou males desastrosos, por estar diariamente expostos ao perigo dos prazeres, a impureza, a luxuria, enfim tudo o que o poder material pode proporcionar em forma de corrupção objetiva e subjetiva.

Muitos se deixam seduzir e esquecem suas promessas de realizar um bom governo e tornam-se inimigos do povo que os elegeu, inebriados pelo título juntamente com seus bajuladores, os quais também querem as benesses que o poder proporciona entregando-se aos vícios privatistas contrariando os direitos de todos. Tal governante, por sua vez, esquece do juramento republicano e embriaga no vício da corrupção e da impunidade.

E a Loucura de Cristo

Entretanto, o profeta Jeremias anuncia que: “Todos os homens tornam-se loucos a força da sabedoria a qual só pode ser verdadeiramente atribuída a Deus, deixando aos homens a loucura como predicado”. São Paulo, com a mesma determinação, declara: “Deus escolheu tudo que há de tolo no mundo [...] Deus julgou conveniente salvar o mundo da loucura e assim o fez de certo porque não teria podido fazê-lo com a sabedoria.

Ademais, a humanidade de Cristo ocultou o mistério da salvação aos sábios e revelou-os aos pequenos, assim julgados ignorantes, os quais foram os responsáveis de propagá-lo pelo mundo como redenção dos homens. Portanto, mesmo que a razão institucional nos mostre a vida de maneira pessimista deixemos embriagar pela loucura que explode dos corações dos homens em forma de alegria e felicidade centrada na razão prática do vivido, contanto que a harmonia reine entre todos, mesmo que sejamos diferentes, culturalmente, no curso da nossa história.

(*) Produção de texto de Adalto Menezes, Eleni Soares, Erlando Damião de Oliveira, Fidelis Aguiar, Francineilo Batista, Maria José Rebouças, Priscilla de Paula Lima e Wanda Guimarães de Souza, todos discente do curso de ética e política do SARES/Manaus.

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