quarta-feira, 2 de junho de 2010

UM SIGNIFICADO REAL PARA AUTONOMIA DOS POVOS INDÍGENAS

Marcos Terena (*)
Queremos ser parte legitima nos processos em que nos envolveram. Queremos o direito de dizer sim, mas também de dizer não. Um significado real para nossa autonomia, e isso deve ser respeitado.

Dentro de nossa tradição uma das grandes virtudes sociais é aquela de olhar o homem branco como vítima da sua própria contradição (ricos e pobres), mas também, de um possível aliado que depende afinal, de nossas riquezas como as terras, as biodiversidades e os recursos naturais, e inclusive da própria vida. Para isso sempre montamos nossas formas de resistência a partir da demarcação das terras seja na fronteira da Venezuela, convencendo o Governo Collor de Mello a demarcar uma área de nove milhões de hectares, seja no de Fernando Henrique, o Príncipe dos Sociólogos, levando-o a demarcar mais de sete milhões de hectares na fronteira com a Colômbia ou em plena ditadura ao desafiar o temido GETAT do Major Curió, ao demarcar em pleno Bico do Papagaio, a terra dos Apinajé. Não podemos esquecer a marcha dos Povos Indígenas habitantes da região de Raposa Serra do Sol ao garantir junto ao Governo Lula, a demarcação desse território.

À reivindicação de acesso a FUNAI na época do paternalismo ou agora no direito pleno, a estratégia muda e passa a demonstrar que o futuro de uma Nação como o Brasil, só será forte ao considerar esses valores indígenas.

Por incrível que pareça os grandes aliados sociais e indigenistas não conseguem perceber essa artimanha indígena de fazer valer seus direitos dentro dos princípios do Direito Coletivo, quando o índio luta pelo bem comum e não apenas por um cargo. Ao mesmo tempo, dá um nó ao garantir direitos individuais. Para complicar mais o indigenismo do novo Século, como resposta as inquietações da ONU, do Banco Mundial e dilema do Governo Federal, sua livre determinação.

Por isso ao deixar para o atual governo as demarcações de terras como a dos Guarani, Pataxó, Kaiwá e Terena, todos com menos de cem mil hectares e ao mesmo tempo, tal como foi feito as Mulheres, ao movimento Negro, em ter um índio na Presidência da FUNAI, todos ficaram de cabelos em pé e cheio de melindres, afinal setores de ONGs como o CIMI, o ISA, o CTI e a ABA, tiveram sua oportunidade de comandar o órgão indigenista e assim, terminado esse circulo chegara a vez do próprio Índio.

No entanto irmãos indígenas, o que parecia fácil e natural não avançou e o mais grave, tal como acontece com os Mapuche no Chile, corremos o risco de sermos tratados como bandidos e terroristas, ou seja, uma questão de segurança nacional e policia.

Se quisermos novas conquistas temos que observar dois fatores explícitos: de um lado os guerreiros que valentemente acampam na Esplanada dos Ministérios ecoando como um lobo do cerrado um grito de coragem, independente de quem está pagando a conta deles, pois nisso está o mérito da resistência indígena tantas vezes cantada em verso e prosa. E ao mesmo tempo, indagar aos demais brasileiros: que faz um camburão da Força Nacional plantada em frente à sede principal da FUNAI em Brasília? Quem paga essa conta?

Afirmamos então, que ninguém tem o direito de duvidar ou questionar as formas de ação indígena que parecem divididos e realmente estão. Ora no braço criado pelo Governo, a CNPI, seja nas formas independentes de questionar inclusive esse formato, pois assim é e sempre foi aquilo que podemos chamar de “República Federativa Indígena”.

As vozes indígenas não querem mais apenas o poder. É preciso abrir um canal de participação e a Lei nos protege a esse respeito. É preciso romper com a marginalização em que nos colocaram. Queremos ser parte legitima nos processos em que nos envolveram. Queremos o direito de dizer sim, mas também de dizer não. Um significado real para nossa autonomia, e isso deve ser respeitado.

(*) É Terena e um dos intelectuais do movimento indígena brasileiro com representatividade nos Fóruns das Nações.

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