Maués é refinada, orgulhosa e ciente de seu papel histórico. Infelizmente o nosso interior sofre com problemas graves, especialmente pelo modelo de gestão que prioriza a capital.
Márcio Souza (*)
Mais uma edição do Flifloresta, Festival Literário que está chegando aos municípios amazônicos levando escritores e livros. Desta vez a festa foi em Maués, a capital do guaraná. Passei por Maués muitas vezes a caminho de Alenquer e Belém, com minha família para as festas de final de ano. Mas foi efetivamente em 1975 que visitei a cidade, com o Teatro Experimental do Sesc do Amazonas, quando apresentamos duas peças: "A Maravilhosa História do Sapo Tarô-Bequê", para as crianças, e o "Terrível Ciumento", de Martins Pena, para o público adulto. Pelo menos foi esta a nossa intenção.
O teatro era de um colégio de Freiras (hoje totalmente reformado), tinha um palco italiano, mas não poltronas. O público tinha de trazer, se quisesse assistir sentado o espetáculo. Era semana santa, e assistimos uma "Paixão de Cristo"inusitada. Chegando o nosso dia, as crianças entraram carregando as cadeiras e ocuparam a platéia, acompanhando ruidosamente as aventuras do sapo que quis virar gente. No final, não arredaram o pé e nenhum argumento foi capaz de demovê-las a sair para dar vez ao espetáculo adulto. E a comédia de Martins Pena foi encenada para uma platéia apinhada de crianças e adultos, que riam das peripécias do ciumento caçador de escravas.
A convivência com o pessoal da cidade me deixou uma profunda impressão, especialmente a elegância do pequeno burgo. Esta impressão se confirmou: Maués é a cidade mais elegante do nosso estado. Não tem a pavulagem de Parintins, a frieza de Itacoatiara, a indolência de Tefé e a maluquice de Tabatinga. Ao contrário, Maués é refinada, orgulhosa e ciente de seu papel histórico. Infelizmente o nosso interior sofre com problemas graves, especialmente pelo modelo de gestão que prioriza a capital.
Um dos mais graves é a oferta de energia elétrica. O trabalho porco que a Amazonas Energia oferece na capital, se repete exponencialmente no interior. Nos três dias que passei em Maués a eletricidade fazia rodízio pelo bairros. Apagava aqui, acendia ali, e os contribuintes que tomassem calmante. Sem energia de qualidade não pode haver desenvolvimento econômico e social, vivemos a civilização da energia, mas isto não se pode esperar de uma empresa que tem sua diretoria sediada no Rio de Janeiro, nomeada pelo fisiologismo do PMDB maranhense, e que está pouco ligando para o estado do Amazonas. Quando a diretoria da Amazonas Energia vem ao Amazonas, além do salário ainda fatura as diárias. Ora, a viúva é rica!
Um outro problema grave é a comunicação efetiva, física, que deve ser de responsabilidade dos sistemas de transporte fluvial e aéreo. Mais uma vez se nota a ausência do poder público.
Atualmente não há mais linha regular de avião para Maués, insto tecnicamente, já que a Trip, empresa mineira, se retirou do percurso. No fundo, é uma jogada com as companhias de Táxi Aéreo, que fazem os voos regulares, cobram absurdos só a Anac não enxerga. O Ministério dos Transportes lava as mãos, como faz também com o transporte fluvial, dando as mãos à dissídia da Secretaria Estadual de Transporte. No caso dos barcos, ninguém se responsabiliza e cda um empurra para o colo do outro.
O município de Maués tem uma administração criativa, que pode ser constatada nas ruas bem tratadas, pavimentadas, pelos inúmeros prédios públicos novos, pela Biblioteca Pública em prédio novo e com acervo razoável, muito bem frequentada. Pelo serviço de biblioteca para os bairros da cidade.
Minha missão era fazer uma palestra na abertura do Flifloresta, acabei fazendo um comício em praça pública, para quatro mil pessoas. Embora o tema da leitura e educação seja árido, a praça não se esvaziou como eu temia. Isso quer dizer que o povo quer mais, mais cultura, mais políticas republicanas. A prova foram as perguntas inteligentes que me fizeram.
(*) Escritor renomado, dramaturgo e articulista de A Crítica de Manaus.
2 comentários:
Quem sou eu para falar sobre Márcio Souza? Entretanto atrevo-me a comentar a sua participação no Flifloresta em Maués. Sou seu fã, apesar de ainda não haver terminado de ler "Galvez, o imperador do Acre" e nem iniciado o "História da Amazônia". Márcio sem dúvida trouxe esperança, combustível para o nosso povo, agradecemos as palavras, os adjetivos que usou para nos qualificar. Esperamos Márcio, que agora, como você comentou, que a última vez que veio a Maués foi em 1975, desta vez não demore muito a nos visitar, pois a saudade já começa a despontar em nossos corações. Obrigado por levar conhecimento a seus irmãos amazônidas e volte em breve, Maués, suas lindas praias, seus rios, sua floresta, o guaraná, o mirantã e o nosso povo estamos a te esperar.
Aldemir Bentes - Escritor de Maués - 27/06/2010 - domingo - 20:42
Quem sou eu para falar sobre Márcio Souza? Entretanto atrevo-me a comentar a sua participação no Flifloresta em Maués. Sou seu fã, apesar de ainda não haver terminado de ler "Galvez, o imperador do Acre" e nem iniciado o "História da Amazônia". Márcio sem dúvida trouxe esperança, combustível para o nosso povo, agradecemos as palavras, os adjetivos que usou para nos qualificar. Esperamos Márcio, que agora, como você comentou, que a última vez que veio a Maués foi em 1975, desta vez não demore muito a nos visitar, pois a saudade já começa a despontar em nossos corações. Obrigado por levar conhecimento a seus irmãos amazônidas e volte em breve, Maués, suas lindas praias, seus rios, sua floresta, o guaraná, o mirantã e o nosso povo estamos a te esperar.
Aldemir Bentes - Escritor de Maués - 27/06/2010 - domingo - 20:42
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