Khemerson Macedo*
Donos de uma tradição incomparável no samba, passando pelos folguedos populares como o bumba-meu-boi, pastorinhas e outros, além dos festejos à São Benedito, a Praça 14 de Janeiro tem, em sua essência, inúmeras manifestações representativas da cultura afro-brasileira. Descendentes de ex-escravos vindos do Maranhão, estas pessoas guardam em suas expressões e gestos típicos uma história de lutas e de tradições que se reinventam continuamente em coletividade, passando de geração à geração o compromisso de levar em frente os costumes e crenças da comunidade, sempre vivos nas memórias dos mais velhos.
Donos de uma tradição incomparável no samba, passando pelos folguedos populares como o bumba-meu-boi, pastorinhas e outros, além dos festejos à São Benedito, a Praça 14 de Janeiro tem, em sua essência, inúmeras manifestações representativas da cultura afro-brasileira. Descendentes de ex-escravos vindos do Maranhão, estas pessoas guardam em suas expressões e gestos típicos uma história de lutas e de tradições que se reinventam continuamente em coletividade, passando de geração à geração o compromisso de levar em frente os costumes e crenças da comunidade, sempre vivos nas memórias dos mais velhos.
Neste bairro, onde os homens são chamados de mestres pela sua importância e as mulheres são carinhosamente saudadas como tias por aqueles que visitam e/ou moram na Praça 14, nos deparamos com as histórias do bumba-meu-boi, cujo primeiro amo, Mestre Raimundo, imortalizou-se na lembrança de seu filho, Mestre Heitor, que hoje em dia, entre uma e outra partida de dominó, repassa aos mais jovens a saga dos primeiros moradores e as lições que estes deixaram. Temos também as histórias do São Benedito, cuja tradição das novenas e da derrubada do mastro, é repassada de pai para filho. Lembremos aqui a figura de Tia Lurdinha, que em túmulo, pediu somente uma coisa: que não parassem com o festejo de São Benedito! Lá se vão anos e o culto ao santo negro permanece vivo no cotidiano daquelas pessoas.
Não podemos esquecer também do samba, cuja história divide-se em dois momentos distintos: o período da Escola Mista, comandada com brilhantismo por Fernando Medeiros, numa época que em Manaus só existia pequenos blocos de carnaval, até o momento da fundação da verde e rosa, a Vitória-Régia, na casa de Tia Lindoca, marcando uma nova fase para o carnaval de Manaus, onde a cadência e a sensualidade do samba de breque davam vez ao ritmo rápido e intenso do novo estilo, próximo em temática ao praticado no Rio de Janeiro. Neste contexto, a mudança de estilo tem uma única motivação: o amor pelo bairro e a necessidade que os comunitários tinham em expressar seus ritmos. E Zé Ruindade, neste sentido, figura entre aqueles que tão bem representou em versos o amor por aquele bairro, nascido de uma revolta popular e imortalizado nos batuques, cadências e credos de sua gente, orgulhosamente negra!
Personagens como estes estão aos montes naquele bairro, ainda fazendo história. Não posso esquecer as Pastorinhas, tradição outrora perdida, agora resgatada por Dona Rosilda e Dona Rosa, a partir de intensa pesquisa oral com antigas brincantes, que agora retornam, junto com suas netas, para seguir adiante este costume, enchendo de cores os salões manauaras com suas apresentações.
Estas tradições, sempre firmes e envolventes, enchem de orgulho seus moradores, pois traduzem intimamente a história do lugar, encantando, assim, os visitantes e a sociedade em geral. Dessa feita, o Núcleo de Cultura Política do Amazonas, ciente da importância desta história e memória, e dando continuidade às ações de extensão iniciadas em 2006, retorna à comunidade para as filmagens do documentário, intitulado provisoriamente: Praça 14 de Janeiro: terra de samba e santo, para contar, a partir da força incomparável da imagem, a história daqueles que fizeram e fazem daquele bairro o que ele representa hoje: ícone inquestionável da cultura afro-brasileira.
O NCPAM, nestes 117 anos da Praça 14, dá voz à esses atores, buscando, assim, a reconstituição histórica do bairro através das memórias dos entrevistados. As ações iniciaram-se no dia 11 último, quando a equipe do NCPAM, em parceria dos realizadores Cristiane Garcia e Paulo César Freire, foram surpreendidos pelo calor humano que emanava da quadra da Vitória-Régia, que se preparava para sua tradicional caminhada pelo bairro, nos recebendo como se fôssemos íntimos.
O NCPAM, dessa forma, orgulha-se em contribuir neste processo, desejando aos moradores da Praça 14 de Janeiro o reconhecimento necessário à contribuição destes para a formação da sociedade manauara.
*O autor é Coordenador de Pesquisa do NCPAM.
*O autor é Coordenador de Pesquisa do NCPAM.
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