terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

PENSAR O FUTURO DO BRASIL

*James Terence C. Wrigh
** Renata Giovinazzo Spers

PENSAR O FUTURO de uma nação é um projeto complexo e desafiador; não aceitar esse desafio é condenar o país a vagar pelo tempo, sem rumo definido e sem saber se estamos realmente realizando progresso em direção a um futuro desejado.


Este trabalho apresenta os objetivos, a metodologia e os resultados iniciais de um projeto realizado por uma equipe do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, para estruturar um conjunto de cenários para o Brasil em 2022. Pretende-se, dessa forma, contribuir para a compreensão da importância e da viabilidade do uso de cenários como instrumento para se pensar o futuro do país e estimular a continuidade dos esforços para o detalhamento de cenários possíveis e desejáveis para o Brasil. A título de ilustração, são apresentados os resultados de cenários globais e institucionais do Brasil para 2022, elaborados pelo IEA no contexto do Projeto "Brasil 3 Tempos", coordenado pelo Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.


Toda grande mudança envolve uma visão mobilizadora do futuro. Certos ou errados, o Grito do Ipiranga de D. Pedro I, as mudanças estruturais implantadas por Getúlio Vargas, o desenvolvimentismo de Juscelino e o Brasil Potência do regime militar instalado em 1964 envolveram visões de um futuro desejado que serviram de referência e inspiração para a mudança. Pensar e comunicar uma visão do futuro é parte indissociável do exercício da liderança e da mobilização da sociedade para o desenvolvimento de um país.


No mundo de hoje, cada vez mais dinâmico e interligado econômica, tecnológica e politicamente, pensar o futuro das nações e dos povos tornou-se um exercício complexo e desafiador. Apesar da dificuldade, navegar rumo ao futuro é preciso, e, num país com recursos escassos, escolher uma boa rota, aproveitar oportunidades e precaver-se de escolhas erradas é essencial.


Elaborar cenários não é um exercício de predição, mas sim um esforço de fazer descrições plausíveis e consistentes de situações futuras possíveis, apresentando as condicionantes do caminho entre a situação atual e cada cenário futuro, destacando os fatores relevantes às decisões que precisam ser tomadas. Assim, mesmo sendo uma representação parcial e imperfeita do futuro, o cenário, entendido como instrumento de apoio à decisão, precisa abranger as principais dimensões relevantes do problema, e seus autores devem livrar-se das amarras e dos preconceitos do passado, ao mesmo tempo que devem se manter dentro dos limites do conhecimento científico e propor transformações viáveis no horizonte de tempo considerado. Ademais, imaginar cenários desejáveis para um país exige estruturar otimística e realisticamente visões de um futuro mais humano e mais justo, envolvendo necessariamente um juízo de valores na sua análise.


Descrever cenários para um país é mapear o futuro, identificando destinos possíveis, traçando rotas, identificando incertezas, divergências e antecipando perigos. Um cenário é um poderoso instrumento para ajudar a engajar a todos na construção de uma visão compartilhada de um futuro desejável para o Brasil e guiar a nossa jornada rumo a um país melhor.


*James Terence Coulter Wright é professor de Gestão Estratégica da FEA-USP e coordenador do Programa de Estudos do Futuro da Fundação Instituto de Administração.


**Renata Giovinazzo Spers é doutoranda da FEA-USP e pesquisadora do Programa de Estudos do Futuro da Fundação Instituto de Administração.

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