terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

200 ANOS DE DARWIN

João Fábio Braga*

M
arx dedicou a
obra “O Capital” a Charles Darwin (1809 – 1882), pela influência e inspiração que a teoria da evolução despertara sobre a teoria de classe e a exploração do homem pelo homem; porém o naturalista -biólogo recusou tal homenagem.

A mesma homenagem se deu pelo seu parceiro, Engels, que esboçara no artigo intitulado “Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem”, a qual é percebível a forte extensão do evolucionismo biológico para explicar a adaptação dos nossos ancestrais no habitat, devido circunstâncias particulares e extraordinárias, cujo trabalho, segundo o autor, é o elemento decisivo de transformação cognitiva e perceptiva na evolução da espécie humana.

A polêmica dupla marxiana que causou alvoroço e, ainda hoje, tem peso marcante na história recente da sociedade moderna; não é tão polêmico quanto legado de “Origem das Espécies”, publicado em 1859, a que Darwin concebe a teoria da seleção natural.

Isto porque nenhuma teoria acarretou tanta hostilidade por parte da opinião pública da sua época tanto como atualmente, pois os tremores ainda permanecem; de um lado aqueles que defendem a origem dos seres vivos, especialmente a espécie humana, à causa divina, são os criacionistas; por outro lado, do ponto de vista da ciência, os evolucionistas acreditam na ideia de que, a origem das espécies vivas tem uma particularidade comum, isto é, de um ancestral comum.


Diferente da abordagem religiosa, o processo de seleção natural ativa o princípio de sobrevivência através da adaptação e especialização dos seres vivos, especificamente nas características favoráveis que são hereditárias, tornando-as comuns em gerações sucessivas de uma população de organismos que se reproduzem; tais características hereditárias desfavoráveis se tornam menos comuns.


Nesse sentido, as características comuns resultam de adaptações em nichos ecológicos particulares, ou seja, o modo de vida no habitat que condiciona o ecossistema, com isso pode consequentemente, segundo a teoria, decorrer na emergência de novas espécies ou evolução destas.


Esta conotação científica da evolução das espécies, que teve repercussão diretamente sobre a origem humana, retirou o homem do centro do universo e desmistificou a obra sublime da criação divina, colocando a própria espécie humana num patamar comum a de milhões e milhões de outras espécies, sem nada qualquer de especial.


Darwin aposenta Deus do cargo de criador. Por causa disto, essas ideias provocaram, além da contestação, uma revolução no campo da medicina e biotecnologia, sobretudo a genética, que por sua vez, acrescenta uma nova abordagem a teoria da seleção natural; e confirma a veracidade e comprovação da teoria: o grande exemplo tomado é da adaptação e da resistência dos mutantes organismos invisíveis como vírus e bactérias.


Apesar disso, à analogia a evolução das espécies, sua forte influência ainda prevalece no imaginário social quanto ao aspecto do “darwnismo social”: ideias de evolução e sobrevivência do mais forte que recai sobre sociedades e nações, até mesmo associadas ao racismo e ao imperialismo; ideias refutadas já um certo tempo pelo saber acadêmico, mas presente na sociedade moderna, que vez e outra se compara superiormente às outras sociedades.


Mesmo depois de 200 anos de Charles Darwin e de 150 anos da sua célebre obra, completados este ano, neste mês de fevereiro, ainda acendem debates calorosos e polêmicos entre criacionistas e evolucionistas, acerca dos conteúdos a serem estudados nas escolas, nos quais acabam sendo incorporado nas aulas de ciência o criacionismo, mudando todo foco científico para o plano religioso.


Portanto, Darwin não deixa de ser um paradoxo moderno. Mesmo que sua teoria seja contrariada por uns fundamentalistas, de pessoas de renomes. Porém no final, a ciência, conforme os seus avanços e suas descobertas, sempre dá razão à teoria, comprovando mais uma vez: Darwin estava certo.

*Pesquisador e Editor no NCPAM

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