sábado, 26 de fevereiro de 2011

O VALOR DA POLÍTICA E SUA OBJETIVIDADE

Ademir Ramos(*)

Os estudiosos da política por dever de ofício devem conduzir suas análises pautados na lógica da racionalidade das instituições. Esta premissa recomenda-se não só aos analistas da política, mas também, a todos profissionais que buscam a objetividade dos fatos. Na política, em particular, quando se formula as questões, na perspectiva de compreender o que está ocorrendo, depara-se com determinados agentes num cenário de papel, onde governantes e parlamentares atuam mais como fantoches de determinadas corporações empresariais do que compromissados com os interesses republicanos.

Falta-se com a objetividade da matéria? - Talvez não, o especialista recorre sistematicamente a trajetória dos agentes públicos em questão, tendo por referência a trama de suas práticas e os pilares de suas decisões. No contexto, o discurso pode acenar para a maioria, beneficiando diretamente o poderio econômico que sustenta os governantes e seus acólitos. O trabalho requer pesquisa para interpretar o jogo de interesse que circula, mobilizando atores fixos e eventuais capazes de sensibilizar o público, fazendo crer que a vontade do povo está encarnada no ato do governante e/ou do parlamentar. Para isso, os meios de comunicação de massa fazem-se necessários para construção da unidade expressiva da maioria, que dará legitimidade ao poder.

Na política, como em todos os campos de pesquisa, as aparência enganam. O não dito é mais importante do que o revelado. Por isso, os jornalistas tarimbados e os analistas experientes não se deixam levar pelo calor do presente, preferem mergulhar na profundeza das águas do que surfar nas ondas do noticiário do cotidiano. A ferramenta desses profissionais são variadas, recorrendo as consultas bibliográficas e acadêmicas, assim como também, as fontes de ocasião que manifestam interesse em plantar notícia em favor ou contra a um determinado grupo dominante.

Nessa dinâmica de se pensar a política, não pode faltar a capacidade crítica de problematizar os fatos e construí-los no universo das estruturas concorrentes que disputam a instrumentalização dos aparelhos de poder. É claro que tal prática resulta de um jornalismo investigativo, onde não se deve cultuar o amadorismo e muito menos reduzir a grandeza da mídia como extensão palaciana comparada somente aos aduladores da corte.

Respeita-se, naturalmente, a especificidade de cada profissional no campo da política, não se deixando seduzir pela paixão que nela encerra, transformando os homens em viciados e corruptos. O campo é tão complexo que a tragédia, muitas vezes, é reduzida num dramalhão de terceira categoria aplaudida por uma massa ignara, que além de desconhecer o que é a política passa a identificá-la como ato do governante e político corrupto que lhes servem. Assim, não havendo oposição e nem contrapondo, todos que se posicionarem contrário ao pensamento dominante é tido por louco ou leso na vulgada regional.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.

Um comentário:

Agama disse...

De fato, não estamos livres da corrupção, ela é inerente ao que chamamos de ser humano. Na cena politica atual ou no espetaculo da tramóia, protagonizam os "velhos coronéis".Superar a ignorancia politica é urgente visto que "a inconsciencia do presente nasce de ignorancia do passado" como disse o historiador francês, antes de ser assassinado pelos alemães.