domingo, 20 de fevereiro de 2011

A VOZ INFINITA DE ZEZINHO CORRÊA

Ellza Souza (*)

Zezinho Correa já tem um público cativo e não precisa de elogio para afagar o ego. Mas artista é artista e todos gostam dos aplausos da platéia. O que não falta nos fãs do Zezinho é empolgação e vontade de demonstrar o quanto apreciam o seu trabalho. São gritos contidos, assobios e muitas palmas pelo cuidado, pelo talento e pela simplicidade desse artista que não mede esforços em soltar a sua voz que, apesar de infinita, é suave e transporta o ouvinte a um inebriante movimento de nossas adocicadas ondas. É como sentir no coração os embalos de um banzeiro envolvente e sensual.

Isso tudo para falar da pré-estréia de seu show “Minha vida de teatro”, no aconchegante teatro oficina do Tesc ora dirigido por Márcio Souza. Quem não foi perdeu uma enorme oportunidade de assistir um espetáculo onde Zezinho cantou músicas de peças teatrais conhecidas como As Folias do Látex (1976-2007), Tem Piranha no Pirarucu (1978), Dessana Dessana ((1974 – 2006). Foram marchinhas, boleros e outros estilos musicais como as belíssimas O Forte de São José, Dessana Dessana e Porto de Lenha, todas do incrível poeta Aldisio Filgueiras e parcerias de Márcio Souza, Adelson Santos e Torrinho. Ouvi poemas assim: “...minha terra tem seringueira onde canta o uirapuru...pelo leite que ela derrama...tem no sangue as folias do látex.”. Algo mais ou menos assim que por força da minha leseira não consigo lembrar ao pé da letra. Lembro também que uma das canções fala da “suprema carne de tartaruga”, relembrando a iguaria que um dia fez parte da culinária amazônica num tempo que os quelônios faziam lama por aqui.

Zezinho é um artista de voz e corpo. No teatro fez grandes papéis e sabe trabalhar a parte corporal também. Compartilhou o palco nessa noite com colegas do teatro como Robson Costa que fez uma performance surpreendente e engraçada quando arrancou a calça de seu paletó ficando de calcinha e casaco confirmando o jeito irreverente das produções tesquianas. Em alguns momentos dividiu os holofotes com Carol Martins e juntos cantaram músicas como A Filha do Trovão e outras. A Banda Podre do Tesc acompanhou de maneira competente os cantores. Todo o grupo envolvido no espetáculo que tem a direção de Márcio Braz mereceu os aplausos recebidos. Com direito a bis no final do hino Porto de Lenha, tão maestralmente cantado por Zezinho.

Mas o meu choro contido e as lágrimas quase derramadas de alegria e felicidade foram para Edney Azancoth, professor e autor de grandes idéias culturais em Manaus, que assistia emocionado num lugarzinho de honra no próprio palco. Os gestos para Edney de solidariedade, amizade e reconhecimento do cantor que tanto nos comove com sua voz inexplicável, foi uma demonstração de que vale a pena viver. Nesses instantes fiquei muda e paralisada pela emoção. Valeu Márcios, valeu todo o pessoal da equipe técnica, valeu músicos e atores. Valeu galera. Mais um dia de aprendizado num mundo onde a música e o teatro podem fazer a diferença. Zezinho, nessa noite a sua voz embalou todos os meus sonhos.

(*) É Jornalista, escritora e colaboradora do NCPAM/UFAM.

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