sábado, 22 de outubro de 2011

A INQUIETAÇÃO DO POETA E A DESESPERANÇA DO JOVEM

Tenório Telles (*)

Tenho peregrinado pelas escolas de Manaus participando de eventos culturais e proferindo palestras sobre a leitura e a importância dos livros na formação dos jovens. Estou convencido de que o conhecimento é uma luz que liberta as pessoas da ignorância e de seus medos, e ilumina os caminhos de todo aquele que busca o saber para sua vida.

A leitura é um exercício para a mente e os livros são tesouros onde encontramos o mais precioso dos bens: a sabedoria. Este é um momento difícil para a juventude. A perda dos referenciais dos valores e a desestruturação das famílias são desafios com os quais os jovens convivem diariamente.

Para agravar essa realidade, a violência e as drogas são perigos que os ameaçam cotidianamente, e têm destruído muitas vidas e sonhos. Um drama igualmente terrível põe em risco sua existência: a desesperança.

Num encontro de estudantes, ouvi o depoimento de um adolescente que me deixou perplexo: confessou não acreditar na sociedade, nos governantes e não acredita no futuro do país. Mais grave: sente-se desanimado, sem perspectiva e não tem sonhos. Tentei convencê-lo do contrário. Argumentei que, apesar das adversidades, devemos continuar lutando para tornar realidade nossos objetivos e que temos compromisso com a sociedade, e devemos trabalhar para transformá-la. Alegou que os poderosos são fortes e que não há o que fazer contra o que ele chama de “contaminação do mal”. Falhei no meu propósito de ajudá-lo a rever seus conceitos.

Meus argumentos não foram capazes de vencer sua desesperança. Pus-me a pensar sobre o que fazer para ajudar a resgatar a confiança desses jovens que foram vencidos pela resignação e falta de fé. Senti-me como um João Batista no deserto. O fato é que vivemos numa sociedade que estimula práticas e valores avessos ao convívio solidário entre os seres humanos.

Assistimos impotentes ao triunfo do cinismo e do sucesso a qualquer custo. Isto tudo é estimulado pela televisão, pelas mídias em geral, pelos formadores de opinião, pelo convívio social e até mesmo por muitos pais. Contestar essa mentalidade e essas atitudes é estar na contramão de que se convencionou com verdade em nossos dias.

A conseqüência disso é a inversão de valores e a banalização do mal. Há quase cem anos, Rui Barbosa, em discurso no Senado (quando ainda era uma casa de homens de bem e preocupados com o país), antecipou essa tragédia da dignidade humana:

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesta”.

O sábio Rui talvez se desesperasse se vivesse em nossos dias e testemunhasse a degradação moral da pátria pela qual tanto lutou e os maus no comando dos governos. Perdemos terreno para os que vieram ao mundo para ser espinho, erva daninha e servir ao mal.

Mas não perdemos a vida, o sentido do bem e a certeza de que é possível trabalhar para mudar o destino da sociedade. Para muitos, estamos no caos e as coisas são irreversíveis. Na verdade, este é um tempo de oportunidade, de redefinição de caminho, em que somos chamados para fazer a nossa parte no resgate da vida e da esperança.

Vivemos num tempo de reconstrução, em que temos de lutar para reconstruir os valores e a confiança no futuro e na dignidade humana. Se formos vitoriosos, ajudaremos a resgatar a esperança negada aos jovens deste país. Espero que o estudante que ensejou esta reflexão leia estas palavras e se reencontre com sua fé.

(*) Professor, escritor, poeta, membro da Academia Amazonense de Letras e articulista de a Crítica.

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